sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A N T Í D O T O








E ARREDORES...



O que passou é passado

O que está passando é presente
Já o passarinho, é um poema
filosófico
moto contínuo do Quintana
contra mediocridade e hipocrisia
que abala Europa, África, Bahia.
EA


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

NÃO DEIXE O PAISSANDU FECHAR 2


Repassando
Queridas e Queridos,

O cinema PAISSANDU vai fechar. Uma lástima. E não é por falta de empenho do Grupo Estação.
Recebi o e-mail abaixo, pedindo uma "corrente" contra o fechamento, bem como colhendo assinaturas para sensibilizar patrocinadores (públicos e/ou privados) a manter aberto o cinema de tão longa tradição para a cidade do Rio de Janeiro, e em particular para nós cinéfilos e afins.
Para aqueles que concordarem, por favor, assinem o abaixo assinado (é fácil e seguro, basta clicar no link www.PetitionOnline.com/15121960/petition.html e preencher os dados requeridos) e passem esta mensagem adiante.
É RAPIDINHO. O cinema está com os dias contados e quem sabe possamos reverter isto.
Abs

MAM

P.s.: ver ainda a matéria de O GLOBO sobre o fechamento do PAISSANDU www.gda.com/consulta_noticias.php?idArticulo=619841.

www.PetitionOnline.com/15121960/petition.html

NÃO DEIXE TAMBÉM O PAISSANDU FECHAR

Contra o fechamento do Estação Paissandu

We endorse the Contra o fechamento do Estação Paissandu Petition to Àqueles que podem fazer algo a favor da cultura deste país.

Read the Contra o fechamento do Estação Paissandu Petition

Name Cidade Profissão
1421. EDUARDO PIMENTEL AFFONSO RIO DE JANEIROPROFESSOR

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O b s e r v a t ó r i o E s t e l a r de um dos milhões de quartos da Tabacaria


Observo o silêncio
que na dele
há muito tempo

olha o próprio umbigo.
EA

2 LUAS: Só em 2287, se perder...


DICA DO MEU AMIGO MIGUEL ...
Amanhã, por volta das 00:30 h,
(CONFIRMEM A INFORMAÇÃO) vai ser possível ver Marte.
Vai parecer que a Terra tem 2 luas,de novo só em 2287.
Ou seja, se perder, já era!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O homem elástico



o homem elástico

já não bebe o sereno das calçadas

descarta o féu madrugada

flutua acima da brasa casta

equilibra asa casa

bota filho no mundo

o homem elástico propulsiona piruetas gráficas

frutifica a travessia imbricada

gira dribla escapa

afasta os malditos

raspa o fundo da ferida lava

escama escarra encara

a si mesmo repassa

texto teto espada

dente por dente

palavra por palavra

o homem elástico

vaza

refaz o mapa a passada a trajetória

nada está para sempre perdido

o homem elástico

não entrega a retaguarda

o homem elástico é meio

fio da liga mensagem

água que não se agarra

o homem elástico

não se abisma em paixões inventadas

o homem elástico

tira leite de pedra ferve

a verve derrete serve sincopado

em decurso do prazo enquanto espera

solta do estômago o uivo sagrado do pão da memória

é festivais passados National Kid perucas Lady, tá!

o homem elástico

é frouxo

é de nada

ego corroído sem rapaziada

ilusão conjugada

quarto sala onde tudo cabe

em sociedade desalmada

catapulta a frente a relati-vida

o homem elástico alonga way

o resto que fique

por ai parado

o homem elástico

avança
o passo

compra sua própria cabeça premiada

faz um silêncio fundo

orgânico enviezado



.
.
.
.
.
.
.EA.
.
..


Pinçamento curricular de um tempo de debates


'Pensar um país é ir de encontro às suas contradições , sem medo de desnudar a história de suas mazelas . É adquirir grandeza sem entupir as artérias do coração com descaminhos palacianos. É trazer as matrizes raciais para a formulação do cotidiano nacional. É, contudo, buscar o entendimento social sem excluir a contribuição do cinema com força da revelação da pesquisa. É ter orgulho de ver-se refletido em um povo lutador e solidário. É papel de todos que anseiam construir um país generoso e justo. descobrir um caminho que leve a memória e a história de seus homens para além dos livros. É instituir a vida como condição transformadora do tempo de plantar e colher a trajetória da verdade'. Eduardo Affonso.


P.S. BRASIL REDESCOBRE O BRASIL-TEXTO DE APRESENTAÇÃO BRASIL 500: O CINEMA REDESCOBRE O BRASIL, EVENTO REALIZADO EM 2000.


FILMES EXIBIDOS E DEBATIDOS\;


questão indígena\; Yndio do Brasil; agrária\;viramundo;política;cabra marcado para morrer;


urbana;o velho,negro; o fio da memória.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Opine 4

Seu Eduardo Affonso, que saudade!
E aí tudo bem? Estou vendo que está a todo vapor. Que beleza!
Gostei da crônica. Vou te dizer um negócio poucas pessoas têm alergia a esse tipo de gato.
Um beijão. Ana Santos
Vou repassar para alguns amigos.

Opine 3

Germana Lucia de Araujo enviou...
Salve, Eduardo Affonso!!! Gostei do seu Blog,prazer em entrar em contato com você. um abraço. Germana

domingo, 24 de agosto de 2008

Adoos

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Evoé Música nas Escolas!!!

Certa vez, fui levar uma aluno da escola que eu trabalhava ao Aeroporto (hoje Tom Jobim) para embarcar para África do Sul. O menino havia se classificado para uma competição internacional, entre tantos garotos que tentam chegar lá, onde merecem. Quando já estava saindo encontrei o Hermeto Pascoal, com quem já havia conversado uma vez. Ainda comovido com a Ida do Jaime, para competição, fiz uma rápida entrevista com o mais completo músico vivo que o universo já produziu. Perguntei para ele se podia dar um depoimento sobre a importância do aprendizado da música na escola. Ele, também animado, e com toda aquela simplicidade, respondeu: -"o Eduardo, a música é uma construtora de coisas boas... é preciso incentivar o aprendizado dos instrumentos, a brincadeira com eles aprendendo... e depois, ninguém vai estar nas ruas fazendo o que não deve"...
Agora, com a aprovação da obrigatoriedade do ensino da música nas escolas, que as prefeituras ainda tem 3 longos anos para implementar, quem sabe a gente possa ver as palavras do grande HERMETO transformadas numa das formas de vencer a violência e o descaso social. A música não é a grande salvadora do mundo, mas torna tudo melhor. Seja em Saraievo passado, no Rio atual, a LINGUAGEM MUSICAL está acima de toda Babel e fala ao coração das feras dentro e fora do compasso.

C r o n i q u e t a


"Alergia ao Gato"

Ontem, numa inesperada conversa captada dentro da kombi, que todos os dias me aperto para chegar ao trabalho, foi revelada uma moral muitas vezes despercebida. A corversa surgiu em meio a situação do tempo. A temperatura quente parecia favorecer "o desembuchar coletivo". Sem os tradicionais paralelismos, esviazamentos retóricos desnecessários, o condutor foi desembuchando... Depois da fala da passageira do meu lado, que resmungou do calor que fazia, ele disse: "- lá em casa, coloquei ar-condicionado, mas não posso usar porque o meu filho é alérgico'. A moça lhe respondeu, que no verão ela cortava carne, queijo, passeio e a compra de roupas "para não passar sem ar-condicionado". Ele, então, decepcionado ao extremo concluiu: "-Não é problema o dinheiro não... Tenho um gato... Prosseguiu, ainda, conduzindo a fala: "- não posso é usufruir do ar fresquinho." - Lamuriou.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O Rubinho que vence!


Muito mais que uma escolha, que a gente faz por obrigação cidadã,
esse é o meu Vereador e da minha família:

Um camarada, professor, que tem demonstrado preparo para a função. Em dois mandatos, move a sua energia para acertar as coisas que estão fora do lugar, legislando em torno de questões que realmente interessam para todos,
em especial para a população massacrada da Zona Oeste carioca.
Um lugar de grande dimensões geográficas e de profundas contradições socias. Um lugar ideal para todo tipo de aventureiros.
Em nome de uma cidade tão arrasada por sucessivos erros e desmandos históricos,
ele tem feito a parte dele.

Além de ser comprovadamente uma pessoa que não enriqueceu com a política e nem faz dela um exercício de canalhice!
Independente de ser um amigo, não se acastelou no poder ou se isentou das críticas que generalizam negativamente a sua função. Ele se orgulha se ser político, não pensa que sabe tudo e está sempre estudando para aprender a enfrentar os problemas e encontrar as soluções. Atualmente está na Fundação Getúlio Vargas,
realizando o curso de Administração Pública,
O QUE PODE AJUDAR MUITO DECIDIR POR UM PERFIL,
um lado para escolher,
um caminho para começar a debater,
que tipo de cidade todos precisamos para viver bem.

Eduardo Affonso.

Sua Cabeça É O Seu mestre

é hoje, Alê sOUTo na LAPA




--

terça-feira, 19 de agosto de 2008

opine 2

Olá Eduardo!!!!
Seu blog está lindo!!!! Adorei!!! Parabéns!
Adorei também o fato de descobrir que você conhece um primo meu... o Michel, da banda Amores Vãos, que você entrevistou. Eu praticamente não tenho contato com ele, e, de repente, visitando seu blog, tomei conhecimento do trabalho que ele tem realizado. Amei!
Visitarei sempre!!!
Grande abraço,
com carinho,

Márcia Luquine

opine

Grande Eduardo Afonso!!

Vi teu blog. Achei super-criativo,instigante,poético e "pro-ético" ( como falas ), aliás como sua personalidade; perfil de um "rebelde de várias causas"!. Causas e lutas defendidas por gente como a gente que acredita na necessidade da utopia, da transgressão artística e cultural contra a sensatez globalizada como receita de auto-ajuda. Isto é apenas um item da nossa missão: ensinar a pensar e achar sempre que.... "a alma não é pequena"!. Aqui, na minha,( e que ninguém nos ouça! ) como jornalista e produtor , há que se rejeitar a tese do " formador de opinião"! (É preciso cuidado com tudo o que dizem por aí....) Parabéns pela iniciativa de em seu blog, "liquidificar" corações e mentes,espalhar poesia,prosa, verso e reverso. Receba meu total apoio pela contribuição por um mundo melhor, diferentemente igual, onde todos tenham a chance de se expressar e pisar no tapete vermelho.

Jota Carlos


21 anos de "BREJO CULTURAL"



" A M a i o r i d a d e
do artigo
P e r g u n t e a o B r e j o"

(Caderno B, JORNAL DO BRASIL, 27/01/1987)

Numa daquelas tardes da ilha de calor que é Realengo, escrevi um artigo(levado de bandeja pelo Roni Lima para o Editor do B, Joaquim Ferreira dos Santos), que pertendeu discutir a política cultural da cidade. O artigo foi elogiado por gente boa do meio, Tuty Vasquez, Jamari França, Jota Carlos... O tempo passou... Mas não imaginava que As Lonas Culturais(hoje uma dezena) fossem se transformar num bom negócio para "os donos desses espaços," atrelados ao poder e a vontade da mais desastrosa política cultural -que essa cidade já viu! Agora, imaginem só... 5 0 0 M I L H Õ E S gastos com a "C i d a d e da M ú s i c a", quantas orquestras jovens poderiam ser finaciadas dentro das comunidades pobres? Quantos instrumentistas poderiam aparecer e obter finaciamento público e em parceria com empresas? Como acontece em São Paulo, ou na Venezuela, bem aqui do lado. Enfim... Quantos locais poderiam ser libertados da quase indigência cultural? Quantos meninos e meninas, vítimas preferencias da violência, poderiam ser salvos de um massacre diário?
E.A
p.s; ?


" P E R G U N T E A O B R E J O "

Sou suburbano há 25 anos, ou seja, desde que nasci. Conheço todos os recantos sem sem exceção. Mas estou entediado de ficar sentado nos bancos das nossas poucas praças desarborizadas, assistindo à banda passar a caminho da Zona Sul. Apesar de tudo, produzimos cultura(pichamos paredes, fazemos roques e pagodes), mas não temos nenhum espaço cultural para mostrar a nossa cara, que muitos ainda imaginam suja de farofa.
Situe-se: a 1 mil 24 metros de altitude, está o Pico da Pedra Branca -na Zona Oeste da cidade - Bangu e Realengo, o subúrbio e suas pessoas fervilham sob um calor de 40 graus no verão. Sempre com a máxima na temperatura, garantimos o espaço diário na imprensa: Tempo bom, visibilidade boa, e ocasionalmente moderada. 'Máxima em Bangu..."
Aqui, jovens de 14 a 24 anos se acotovelam nos índices do IBGE. No censo de 80, eles já somavam uma das maiores concentrações nessa faixa de idade na América Latina. Hoje, esse número já ultrapassa os 120 mil- e tende crescer, pois as pílulas anticoncepcionais continuam sendo objetos não identificados.
No entanto, quem são essas pessoas que se amontoam no precário transporte suburbano- analisadas pela teleobjetiva do IBGE? Sem querer molhar o leitor numa chuva de dados- ou afogá-lo num purê de classes com galinha, farofa e números- vou logo abrindo o jogo com vocês, que não conhecem o outro lado da moeda- ou do túnel- por não serem suburbanos irrecuperáveis como eu.
Devido a sua alma atormentada - seus buracos, sua falta de saneamento básico, dificuldade de transporte etc - o subúrbio está descobrindo que tem o direito de exigir uma melhor qualidade de vida. Não se iludam, temos quintais, mas não queremos ser América Central de ninguém.

ALô , ALô, Realengo

Muito prazer em desconhecê-lo. Realengo foi um engenho de cana- de- açúcar nos tempos do Império. Dom Pedro I (aquele do "se é assim deixa que eu fico") costumava passar por aqui, seguindo para São Paulo , sempre com azeite fervendo nas veias, por uma certa Marquesa de Santos. Se fosse hoje, teria de enfrentar os engavetamentos da Dutra.
Ele gostava daqui, chegou até mesmo a plantar palmeiras imperiais e, num arroubo de elegência monárquica, resolveu chamar o lugar de Real Engenho- os escravos babaram! Mas o nome não pegou, como acabou acontecendo com a monarquia.
Agora, também somos conhecidos como gente de um lugar onde bombas salpicam do céu, sem endereço certo. Elas podem cair a qualquer momento, deixando cinzento o quadro bucólico de paz camuflada de verde-oliva. Dormimos pedindo a Deus e ao exército uma melhor pontaria, aqui na terra como no céu. Não existem abrigos antiaéreos próximos dos campos de manobras do Gericinó. Acho que vocês pensam que aqui não existe gente como a gente. É natural, vocês só estão acostumados com os foquetes que estouram, em Copacabana, na noite do Ano Novo. Você nao sabem o que estão perdendo.

OBUSES À PARTE

Por isso, o formigueiro treme de energia e medo. Um garoto heavy-metal, meu vizinho, aplaca sua ira- sua forma de abafar o sentimento de desprezo- numa guitarra barulhenta, vibrando o prédio onde moro. Grafiteiros estão em toda parte. O spray de uma dessas gangs- A Nazista- não perdoa. Não existe muro limpo que dure tempo suficiente para ser fotografado. Todo mundo quer se expressar- e não importa a maneira.
Esse exército de pichadores- do tamanho do exército regular brasileiro- age de várias formas, invadindo bares, praças, clubes, num ininterrupto vaivém noturno. Nem adianta chamar a Funai, ninguém vai para casa. São todos carentes, esquecidos das benesses do estado, que não destina verba para os grupos culturais da região- os parcos com asas.
Esperamos que a lona da prefeitura- que iniciou um projeto de circo cultural, na Ilha do Governador, para que a comunidade pinte e borde à vontade- aterrize por aqui, sensibilizada pelos números do IBGE. Vocês não sabem o que é isso, como diria Lorca: "quem nada em água doce não imagina o que é sede."

Trans-zona oeste Beat degeneration


Imagine que numa orquestra de grilos
o maestro é um vagalume que tem soluços

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

...Meier, Pavuna, Realengo, Tijuca, Madureira, Penha, Centro, Bangu, Piedade, Paciência, Campo Grande, Botafogo!!!..


V O T E
vamos ajeitar o Rio
mais um pouquinho...

Momento pró-ético

Autonomia
Os habitantes do meu peito
moram numa cidade resolvida
de um povo intenso vivo
em cada casa
há fibra
pão
poesia
todo santo
é dia
toda santa
à noite
tece comentários
vagamente iluminados
todos crescemos saudáveis
sem funk ambulãcia nem policia.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Leitura

Igreja de São Pedro, perto de casa, Durante o II Festival de Poesias, que apresentei. Essa Igreja serviu de locação para "o homem do sputinic", do Carlos Manga. Também é uma igreja das mais antigas do Rio. Um dia ainda faço um cineclube lá. Adivinha o nome?

ondas do rádio


Eu e Jotinha(Jota Carlos) em algum Momento na Rádio MEC, após uma visita ao seu Programa ARTE em Revista:
onde já fiz leituras e tive o carinho da Ângela Maria.

'JÕ SOARES", MAS E DAÍ...


o meu irmão Alexandre Félix
(fera do jazz e meu parceiro espiritual)
ao lado da cantora ugandense Hellen Andrews:
ambos formaram, com Ney da gaita, o excelente trabalho
" Hellen Andrews Jazz Trio" apresentado no INSTRUMENTAL MEC, que teve um CD GRAVADO AO VIVO NO PROGRAMA, com o meu apoio e a gentileza do J0tinha(que sempre acredita). Recentemente, a cantora, esteve no programa do Jô numa outra formação. Mas com os mesmos arranjos, esquecendo dos companheiros de viagem... De quem fez os arranjos e de quem divulgou a sua banda...

TEMPORÁRIO, COLÉGIO PEDRO II-REALENGO; um espaço maravilhoso!!!


João Braga, Alê Souto, abertura da exposição sexta, 08-08-2008\;temporário até 10 de 0utubro.


domingo, 10 de agosto de 2008

tarde

nossa tarde

Tarde bem aproveitada












ANGOLA INDEPENDENTE



Publicação Revista Ágora- 01-2004


REVISTA DE HISTÓRIA -SIMONSEN




Angola Independente

Eduardo Pimentel Affonso
Mário Luiz Siqueira de Araújo

Angola Independente conta os seus mortos, faz em novembro, 29 anos tentando encontrar a paz. A construção de nosso trabalho teve como objetivo a utilização da história oral. Desde o momento em que tomamos conhecimento dos temas propostos pela professora da cadeira de África, procuramos seguir a máxima de Ki – Zerbo: “A história da África é a história da sua tomada de consciência”. Angola, especificamente nos últimos 29 anos de independência, perpassa a consciência de que fala Ki – Zerbo. O fato de Angola não ter encontrado ainda a via pacífica pode significar bem mais do que uma tomada equivocada de consciência. Angola fez sua independência ainda no processo de guerra fria. É, portanto, ainda, vítima de ideologias conflitantes que perduraram no seio da construção do poder. A caricatura da situação angolana é refletida em milhares de mortos e na vitimação constante da população, exposta a milhares de minas terrestres. Pouco antes do trágico acidente que a vitimou, “Lady Di”, visitou Angola em campanha para a retirada destas minas e a proposta de suspensão da fabricação pela indústria mundial de armas. Esta situação é denunciada através do sítio HYPERLINK http://www.cafemongolo.cbj.net/ www.cafemongolo.cbj.net/, que alerta a todos sobre “a luta pelo poder”, que reproduzimos na íntegra abaixo: “Eduardo dos Santos e Savimbi (Jonas Savimbi), ambos sentados, cada um sobre o seu monte de corpos, disparando um sobre o outro, não balas, nem minas, nem insultos, mas corpos, sim, corpos de angolanos, a verdadeira munição utilizada pelas duas forças”. “A verdade é que nenhum dos dois quer paz, nenhum dos dois quer largar a luta pelo poder. A comunidade internacional não consegue actuar de forma isenta e parcial, também ela está refém das duas ambições”. “Cabe aos angolanos, apelar, gritar, rebelar-se contra os dois beligerantes. Mas não só, há que educar as mentes e os corações, há que fomentar o diálogo. Não se trata de uma discussão apaixonada, mas o verdadeiro futuro da nação, o banho frio que acalma a ira, para que os sentimentos não se imponham a razão”. Sempre pela paz Mulcuice HYPERLINK http://www.cafemongolo.cjb.net/ www.cafemongolo.cjb.net/ Embora o sítio convoque os angolanos para: “apelar, gritar, rebelarem-se contra os beligerantes”, tivemos dificuldade em encontrar dos angolanos que aqui estudam, alguma receptividade para soltar a voz pela paz em uma entrevista. Causou-nos estranheza, depois compreensão, a resistência em conversar conosco de um estudante angolano. “Não quero falar de política”. “A democracia não existe”. Ficou de trazer-nos o contato de um comandante do MPLA, que vive na Vila do João (RJ) e uma revista. Recebemos apenas a revista. Um material sobre os 25 anos de independência, realizado para convencer mercados externos. Mas a sorte não sorri duas vezes. Realizamos a entrevista com o professor Carlos Cabral, dias depois dele nos entregar um vasto material (xerox) e o livro África Arde, de Carlos Comitini (Editora Codecri), “para que nos preparássemos para entrevistá-lo”.
A vosso pedido. Optamos pela forma de entrevista por serem raras as oportunidades de trabalho com fontes primárias. Dedicamos esta entrevista a Francisco Manuel Meteque, nascido em Muambo (terra de Savimbi), em 15/08/1970. Meteque serviu no MPLA e fugiu da guerra. Vive numa favela, Vila do Pinheiro (RJ) e é servente no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Meteque, que encontramos por acaso, declarou: “A situação em Angola é gravíssima e a guerra só interessa para quem lucra com ela”. Segundo ele “O MPLA domina 65% do território, cabendo o restante as mãos da UNITA”. Mas ao contrário da revista África Hoje (Nº 147), onde não aparecem os efeitos da guerra, “Angola está destruída”. “Os prédios de Luanda estão no chão”. “Não há quem tire isto daquele comovente olhar”.
Entrevista com Carlos Alberto Ribeiro Cabral, nascido na ex-colônia portuguesa de Nova Guiné, atual Guiné-Bissau. Carlos Cabral é professor, formado pela UFRS em Mestre em Oceanografia. Tem 46 anos e lecionou nas Faculdades Integradas Simonsen.

O Grupo: - Professor, o seu país tem relação com Angola, é uma das ex-colônias de Portugal. Antes de entrarmos nas especificidades de Angola, o senhor poderia nos falar um pouco sobre Guiné-Bissau e a independência?

Cabral: - Bom, a independência de Guiné-Bissau ocorreu devido a uma luta do PAIGC (Partido Africano para Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde), sobre a liderança do engenheiro agrônomo Amilcar Cabral, que pretendia após a independência da Guiné e Cabo Verde, uma união orgânica entre os dois países. Foram 17 anos de luta política, dos quais 11 foram de luta armada. Cerca de 2/3 da Guiné já estavam livres, quando ocorreu o 25 de Abril em Portugal, a Revolução dos Cravos (1974).

O Grupo: - Então, este fato alavancou a independência?

Carlos Cabral: - Com o movimento dos capitães portugueses. A partir daí, o governo Português aceitou entrar em negociação com o PAIGC. Houve uma reunião fracassada, que ocorreu em Argel, depois outras em Londres, na qual o Governo Português reconheceu a nossa independência, a partir de 10 de Setembro de 1974.
O Grupo: - Mas antes, como ocorreu o conflito?

Carlos Cabral: - Não havia acordo e cada parte fazia a sua propaganda, mas não havia diálogo. Cada qual dizia o que ocorria no teatro das operações e fazia a guerra de informações e contra-informações. Quando as negociações se tornaram eficazes, em Londres, o PAIGC estava presente através dos seus principais oficiais, enquanto Portugal enviou o Ministro de Negócios Estrangeiros, Dr. Mário Soares. Com o sucesso das negociações em Londres, então, as tropas portuguesas se retiraram. Houve a chamada Ponte - Aérea (Lisboa – Bissau / Bissau – Lisboa), os aviões vinham, três ou quatro aviões Boings por dia, para enviar as tropas de volta, e trouxeram navios para retirar todo o aparato bélico. O PAIGC foi entrando aos poucos na capital e a partir daí não houve mais problemas.

O Grupo: - Isso não aconteceu em Angola. Quando na verdade já havia um acordo para entrega do poder, o acordo é cumprido, mas há uma luta feroz pelo poder que ficará vago com a retirada repentina de Portugal.

Carlos Cabral: - Bom ... Eu cresci ouvindo rádio. Ouvia entre elas a BBC de Londres, a Belchevair da Alemanha, França Internacional, Rádio Moscou ... O meu pai ligava o rádio e eu ficava também escutando. Então vou fazer um depoimento do que eu ouvia na época, dos jornais que eu lia e de pessoas amigas que voltaram de lá e me contavam a situação. Apesar de ter havido um acordo (ALVOR, em Portugal), entre o governo de Portugal e os movimentos de libertação de Angola para a independência, em 11 de Novembro de 1975, os portugueses apenas deixaram o poder no chão e simplesmente saíram. O que diferentemente ocorreu na Guiné, pois em Angola ao saírem, destruíram tudo que tinham. Desde pratos, louças, até colocar areia nos canos, estragando tudo que não pudessem levar. Então o presidente do MPLA (Movimento Para Libertação de Angola), neste dia entre a tarde e a noite, proclamou a independência.

O Grupo: - Segundo lemos no livro de Carlos Comitini, África Arde, o desdobramento da independência proclamada pelo MPLA, desfechou uma série de ataques ao governo de Agostinho Neto em Luanda.

Carlos Cabral: - Logo em seguida a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), através de Holden Roberto, que segundo ouvi falar, seria cunhado do ditador do Zaire, Mobutu, o teria convidado para ajudá-lo a tomar o poder, invadindo Angola pelo Norte.
Não contente com isso a UNITA (União Nacional para Independência Total de Angola), de Jonas Savimbi, que consta tinha grande vinculação não só com os Estados Unidos da América, mas que também recebia suprimentos de Portugal, que preparava-se para uma espécie de Neo – Colonialismo, para através da UNITA invadir pelo Sul. Teve ajuda também da África do Sul racista e da Namíbia, que também estava sobre administração branca. Resultado: pelo Norte entraram as tropas da FNLA e ao Sul com a UINITA. própria África do Sul também entrou, junto com ele também entraram mercenários norte – americanos. Ao ponto que havia uma canção que aprendi na época, a qual na minha terra também cantávamos.

O Grupo: - Como é a canção?

Cabral: - “Norte – Americanos, invadem o nosso país ... (cantando) Sul – Africanos, invadem o nosso país ... Zairenses, invadem o nosso país ... A convite de Savimbi, A convite de Savimbi, Holden Roberto ... E por aí vai ... De fato houve algumas prisões de mercenários norte americanos. Aconteceu um julgamento em Luanda e foram condenados a morte. Mas depois houve comutação da pena. Isto foi bastante comentado na época, lá para 1976/77 ... Foi um julgamento internacional aberto e todos puderam saber do processo que estava se desenrolando. O Grupo: - Houve também a ajuda de Cuba para o MPLA? Não só de Cuba, mas da ex – URSS, Alemanha Oriental, Tchecoslováquia ... Outro dia ouvimos um documentário na Peaple and Arts, em que o próprio Fidel teria comandado a ofensiva do MPLA. Carlos Cabral: - A situação se tornou politicamente insustentável. Ao ponto que os combates chegaram até Luanda, que ficou praticamente como Beirute em tempo de guerra. Não se podia mais administrar a própria Luanda. Frente a esta invasão forte no Norte e do Sul, inclusive com tropas regulares da África do Sul, o novo regime de Angola, proclamado pelo Dr. Agostinho Neto, teve necessidade de apelar para que os países amigos o ajudassem. Nomeadamente Cuba, que consta mandar um efetivo que foi aumentado até atingir cerca de 20 mil homens.

O Grupo: - E o seu país, também enviou homens em armas?

Carlos Cabral: - Eu trabalhava no aeroporto Calanca, a 8Km da capital, que é a cidade de Bissau, cheguei a ver tropas uma vez e ouvi dizer que eram da artilharia antiaérea da Guiné – Bissau. Era um comando, uma companhia que tinha o nome de Abel Faci, pseudônimo de nosso imortal líder Amilcar Cabral. Eram especialistas que foram ajudar a defender pelo menos o espaço aéreo de Luanda.
Houve uma ajuda que seria multifacetada, entre as quais, uma pequena contribuição da Guiné – Bissau.

Grupo: - Voltando à Cuba. Outro dia vi um documentário produzido pela televisão americana, do canal Peaple and Arts, que dizia que o próprio Fidel Castro teria sido o comandante da reação e da ofensiva angolana, que essa ofensiva fora planejada e executada de Havana por ele.

Carlos Cabral: - Disso eu não soube, mas eu acho que as tropas cubanas têm bastante autonomia e capacidade. Acho que os que estavam a frente das companhias, pelotões e unidades, tinham condições de dar sozinhos conta do recado. Agora o que eu lamento muito, depois de todo esse problema, é uns pais (Angola), que passou anos e anos em luta pela libertação de seu território, que era uma coisa perfeitamente normal (...) o ano de 1960 já foi considerado o ano das descolonizações, o que ocorreu com as colônias francesas e inglesas, com essa colônia portuguesa, depois de tantos anos de sofrimento, após a independência não houve a paz, continuou a guerra. Bom, essa guerra perdurou até que houve a intervenção da ONU, houve o acordo, eleições, e mesmo assim a UNITA teima em não respeitar e boicotar esse processo.

Grupo: - O Senhor tem noção de quantos cidadãos angolanos, de qual é o contingente populacional que está fora de Angola neste momento?

Cabral: - Acredito que sejam milhares de refugiados, de gente repatriada, fora da pátria (expatriada), devido a esse problema de guerra. A situação internacional já está grave em termos de alimentação, de emprego, ... mas quando há um grave problema de minas, por exemplo, que há pouco tempo eu vi (...), teria sido no mês de Maio/ Março/ ou Abril, deste ano, que vi no Fantástico (...), que o número de minas em Angola é tão grande que vão passar gerações e gerações sem se conseguir, mesmo que houvesse paz de um dia para o outro, que neste mesmo tempo seria dificílimo retirar todas as minas. Além disso, há ataques da UNITA volta e meia. Eu sabia que a ONU estava trabalhando muito bem até os anos de 1988/89, quando depois um comandante da UNITA, chamado “Galo Negro”, um General, dos principais adjuntos de Savimbi, decidiu reiniciar a guerra e fazer novas investidas contra as tropas regulares do MPLA. A ONU neste período estava fazendo o desarmamento e eles tinham um prazo e se recusaram a cumprir. Então esse General reiniciou a guerra nas províncias do Sul. Ainda nesta semana, na semana seguinte a este atentado que ocorreu em Nova Iorque (11/09/2001), ouvi que as tropas da UNITA mataram cerca de 200 soldados. Grupo: - Quanto a essa questão, há um certo desinteresse quanto as informações sobre Angola. É uma contradição longa. Consta que o Brasil foi o 1(país a reconhecer a independência de Angola, o que já foi surpreendente, já que vivíamos aqui uma Ditadura Militar. Naquele momento, que era considerado de distensão política, com o General Geisel a frente do Governo Brasileiro, o Brasil reconhece a um Governo que faz a independência sendo Marxista – Leninista.Cabral: - Admito que o Brasil tenha sido o 1( país da América a reconhecer a independência. Porém, nós da comunidade Afro-portuguesa, ou seja, nós oriundos das ex-colônias portuguesas, reconhecemos a independência de Angola no ato de sua proclamação. Assim que soubemos da independência a reconhecemos imediatamente. Lembro de Ter ouvido em nossa rádio mensagens de felicitações do nosso presidente, Luiz Cabral, reconhecendo a independência de Angola. (de Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, sempre ocorreu o reconhecimento imediato, quando a independência ocorreu nos países nossos irmãos. Agora quanto ao Brasil, reconheço e fico contente, porque o Brasil se manteve nessa linha de reconhecer as independências da ex-colônias portuguesas. Porque no mesmo caso de Guiné-Bissau, também o Brasil foi dos primeiros países a reconhecer a nossa independência. Ao ponto de que no momento em que se deu o golpe de Estado em Portugal (25 de Abril), já havia cerca de 70 países que haviam reconhecido a Guiné-Bissau, por conseguinte antes das negociações com Portugal.

O Grupo: - Mas a ajuda que o Brasil dá é suficiente? E a questão da informação a que nos referimos?

Carlos Cabral: - A ajuda que o Brasil dá poderia ser mais ampla. Lamento que o Brasil sendo um país de língua portuguesa, pois é irmão das ex-colônias portuguesas da África, de Angola, tanto quanto eu saiba a maior parte da população negra brasileira provém de Angola, já que Angola é um país de cerca de quase 2 milhões de quilômetros quadrados e teve parte de sua população dando duro aqui. O Brasil pretende se candidatar para o Conselho de Segurança da ONU e seria importante que fizesse pressão para o desarmamento da UNITA.

O Grupo: - Quanto a construção deste consenso, no caso do povo angolano existem feridas profundas. Os angolanos que vivem por aqui, inclusive, segundo soubemos, evitam falar no assunto com medo de retaliação lá. É uma memória pesada para superação.

Carlos Cabral: - O Brasil tem a fama de ser um dos países mais hospitaleiros do mundo, então, já que vieram para cá ao longo dos séculos 19 e 20, oriundos da Itália, Alemanha, do centro da Europa. Inclusive os povos do Extremo Oriente, Coréia, China ... Ouvi dizer que quando houve a guerra da Chechênia e outros países da Europa Central, no ano passado, o governo brasileiro estava disposto a dar terras para as pessoas que viessem para cá. Sempre foram recebidos de braços abertos. (nisso, como o caso dos angolanos, ao fiel cabo, são responsáveis por boa parte da origem da população brasileira. Deveriam ter mais apoio do governo brasileiro. Seria preciso que o governo estivesse disposto a fazer um levantamento para saber a tendência de cada um. Saber se o indivíduo era agricultor em Angola, dar-lhe uma chance aqui. Devia haver uma atenção especial para com essa comunidade. Nenhum angolano está aqui por gosto, estão aqui como refugiados de guerra. Existem laços fraternos que nos ligam, laços de história, de língua. A comunidade angolana aqui é a mais sofrida entre as línguas lusófanas.

O Grupo: - Conversamos com um estudante da Faculdade que é angolano e que declarou que os angolanos que aqui residem, a maioria está na Vila do João (Linha Vermelha), não falam em política para evitar revanchismo lá em Angola. O cidadão angolano que está aqui é vítima de generalizações e preconceitos ideológicos. Um exemplo dado pelo estudante é a confusão, aqui existente, de que o angolano oriundo do Norte supostamente estaria ligado ao MPLA, e o do Sul supostamente estaria ligado a UNITA. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Carlos Cabral: - A princípio é um problema que eu desconhecia. A princípio qualquer estudante que tenha vindo para cá, de qualquer forma, em princípio, tem um visto temporário. Provavelmente seja medo de que a própria Polícia Federal o considere “persona non grata”. O indivíduo está aqui e nem tem o visto de permanência e está se metendo em política? Pode ser esse o pensamento. Deve haver um receio por parte dos angolanos, de serem expulsos do país. Pode ser um receio das autoridades brasileiras, do que propriamente medo de represálias em Angola. Veja bem, se um indivíduo está falando com um patrício, essa conversa não vai vazar. Mesmo que seja com um brasileiro, a conversa vai ficar entre os dois.

Grupo: - Há um sítio, “cafemongolo.cbj.net/”, de exilados angolanos, que acusa as duas frentes, o governo angolano e a UNITA, de não quererem a paz. Há E-mail que repudiam as duas formas de poder. O que o senhor pensa dessa falta de acordo pontuada pelo sítio? E os países, porque deixaram de lado a luta pela paz em Angola? Parecem mais preocupados com a América, não?
Cabral: - Penso que toda a comunidade lusófana deveria reunir se para analisar a situação de angola, que se pensava que com o fim da Guerra Fria seria resolvida. Tanto quanto eu saiba, a cerca de uma década, nunca mais se falou do FNLA (Frente Nacional para Libertação de Angola), parece que desarmaram-se e se integraram livremente a população angolana. Mas isso não aconteceu com a UNITA. O MPLA, dizia-se, tinha o apoio da União Soviética, que seria socialista, ao passo que a UNITA, tinha apoio americano, capitalista. Era de se esperar que com o final da Guerra Fria, então, isto teria um fim, com o provável fim da guerra em Angola. Quem ficou financiando a UNITA? Mesmo porque houve a independência da Namíbia, que era branca e apoiava a UNITA e de outra base de apoio que ruiu com o fim do Apartaid e a eleição de Mandela, na África do Sul. A UNITA, em princípio, não pode indefinidamente lutar sem apoio financeiro. Mas, especialmente, Angola é um país muito rico, tem muitas reservas naturais: solo, subsolo, riquezas minerais. Mas, essa riqueza não está da mesma forma, sendo explorada para o bem estar do seu povo. Há um esforço de guerra e muitas vidas tem sido ceifadas. Há ataques contra comboios (trens), navios e até contra aldeias que necessariamente nem tomaram posição entre os dois grupos que lutam pelo poder.que é a comunidade lusófana que tinha que se reunir, pressionar o Conselho de Segurança da ONU, para que tomassem medidas efetivas pela paz. Os atentadosdo dia 11 de Setembro na América, parecem ganhar mais peso. O povo angolano que sofre desde 1975, já sofria antes, e continua sofrendo. Foram 25 anos de guerra de um povo extremamente martirizado. Era isso que eu tinha a dizer.

Savimbi morreu, agora Angola viverá?

"A História, como diz Hobsbawm, é a melhor de todas as observadoras."

Bibliografia

COMITINI, Carlos. África Arde: lutas dos povos africanos pela liberdade. Codecri.
KI_ZERBO, Joseph. História da África Negra II. Europa América, 1991.
História das Civilizações, Nº 63. Ed. Abril.
África Hoje, (política, economia e cultura), Angola 25 Anos, Nº 147.

domingo, 3 de agosto de 2008


"Do telhado nasceu uma cidade"

sábado, 2 de agosto de 2008

NÓS fomos os primeiros a fugir daquela fila em "os Incomprendidos"

QUE REI
SOU EU ?

Eduardo Affonso


CABEÇA.CABEÇA.CABEÇA DE DINOSSAURO!
TITÃS


Desde pequenos enchemos a nossa cabeça de imaginação vinda do passado. A nossa visão é recheada de símbolos da televisão: Olho de tandera(tandercats), z (zorro), S (super homem)... Enfim, que produzem na nossa cuca uma realidade que passamos a imitar. Criando na gente um senso de realidade(de visão guardada), que após crescermos não morre. Fica na nossa cuca, na imaginação, refazendo o que já passou e criando uma sensação de realidade que é pura. Além de ser muito segura, pois nos dá uma sensação de tranquilidade no presente. É como se estivessemos sempre passando pela mesma rua, onde já conhecemos os postes, os sinais, os cruzamentos, os devios e as pessoas que vivem em casas que pouco mudam. A segurança dc um senso de realidade, portanto construído(montado, como quem faz uma pista de skate) e que é constiuído(como que inaugura a pista e faz funcionar), porque está sempre lá, ao alcance da gente, sem perigo. A vida é assim. Só que precisamos encontar armadilhas pelo caminho, para realmente aprender a cair. Para SER de fato alguém que interfere nas coisas do passado. Um sujeito, valeu ?
O nosso livro tenta refazer este caminho com você. Demonstra que o Brasil foi o único império das américas, teve a sua família real, que deixou de existir como império. Mas que a sua herança continua e faz as nossas cabeças. Ao ponto que, para ver melhor a realidade como ela é, é preciso fechar os olhos e imaginar. Vamos fazer uma experiência de sala de aula? Então feche os olhos e se imagine criança outra vez. Esqueça que te disserram que você "é imortal" , "é fera", " a popozuda", "o sarado", fala sério... Feche os olhos e imagine, somente. Havia um tempo em que você via a Xuxa-lembra? Pois é, ela é ainda a rainha dos baixinhos. Também, você sabe que, desde que o mundo é mundo, o sol é ou não o nosso astro rei ? Chega o ano novo e pra onde todo mundo vai? Ora, levar flores pra Iemanjá, a rainha do mar. Calma, não abra ainda. Leve a sua mente para o triângulo cheio de bolas de gudes coloridas. Opa!!! "marraio, feridô sou rei !" Pronto, pode abrir.
Agora acorda. Você é parte deste passado, mas também constrói a sua realidade. Faz rap, funk, navega no cyber espaço, transa um estilo de vida bem seu. Será? Hum... Não esqueça que você já nasceu num mundo pronto. Mas essa é outra história, que muita gente reclama não ter culpa. De passagem nela e na vida, somos o resultado daquilo que desejamos. O desejo precisa de cuidado e responsabilidade. O mundo pronto, estabelecido, pode e deve ser transformado a todo instante. Inclusive nos fins de semana, onde a cultura de massa (de mercado) está presente. Quem faz rap também tem mãe que gosta do rei Roberto Carlos para dividir o Cd player. Roberto, o rei. Mas a moçada gosta mais do Mano Brau. É, parece, mais racional, um príncipe da poesia urbana da periferia. Se vivemos numa nação que só permite um negro como rei, Pelé o rei do futebol, concordo, está faltando razão. Rei Momo não vale, só é rei uma vez por ano e quando acaba o carnaval... Nem no desfile da campeãs dão espaço pra majestade.
A realeza representa nos corações e mentes do brasileiro o sonho de realização. A felicidade tem o espaço definido. Onde você pensa que estão localizados os castelos hoje? Uma pista: segurança e diversão num só lugar. Ora, Shopping. Lá, bem na Praças de Alimentação, está a corte da modernidade. Local que substitui o Paço Imperial, bem mais amplo, localizado onde hoje é a Praça XV, de onde D. Pedro I nossa majestade esticava o olhar para as novidades. Hoje o passado e presente seguem juntos, em locais bem diferentes. O PAÇO era público. O shopping tem dono (privado). Mas cumprem o mesmíssimo objetivo: azarar, comer, passear... Lugar onde cruzam olhares de príncipes e princesas do momento. Embora ande mesmo meio mudado. Pouca gente queira fundar um reino em casa, casar e ter filhos, logo após sair do shopping. Mamãe já não é mais a rainha do lar, porque foi trabalhar. Disputa outro reinado com papai no mercado apertado de trabalho. Realmente, outros tempos modernos.
Sigamos. É importante reconhecer que toda comunidade é um reino. Concorda? Os menos favorecidos desejam fazer parte do reino do consumo. Ter um tênis bacana, "grana para zoar", "carrão", "celular", "dvd", não seriam essas coisinhas títulos de nobreza? Sim, pois, quanto mais luxuosa a carruagem, maior o ganho de quem toma conta do cavalo no estacionamento. Vivas ao flanelinha de plantão! O resultado da não inclusão da maioria da população na distribuição de renda (din-din), da não igualdade de oportunidades (emprego/educação/moradia). Ah, se fosse apenas o flanelinha... É bom lembrar que a única monarquia das américas foi a última do mundo a libertar os escravos e fez isto de uma vez, que saíram das fazendas para as ruas sem um só tostão (din-din) nos bolsos. Se é que os negros tinham bolsos, porque nada recebiam pelo trabalho. Apenas comida e dormida, em sua imensa maioria.
Eram 700 mil, que subiram os morros porque não houve outro jeito de morar, nem de subir na vida até os nossos dias. As mulheres negras ainda puderam de alguma forma sobreviver melhor nas cidades, como faziam nas fazendas: cozinhar, lavar, passar. Mas embora a vida continuasse dura, também era para os homens negros. Estes foram direto para a marginalidade e criaram os "seus reinos nos morros da cidade". Reis Nagô do esculacho social, excluídos, lotam em sua maioria os grandes presídios de segurança máxima. Saber e poder estão no passado, presente e perigosamente, se não reconhecidos caminhando para uma repetição no futuro. Por isso a história pede para você fechar os olhos e imaginar. O que está em volta , visto de olhos abertos e não preparados para transformar, é repetição do saber e do poder constituído. Quer ver? Veja, pois fundar um novo reino, com "mobilidade social", ou seja, alcançar um bom salário, se formar em universidades (médico/engenheiro), não significa que a pessoa deixou de desejar ser rei (mentalmente) ou ter escravos para o seu bel prazer.
Concluindo, pensar e agir, sem repetir velhas historinhas do passado, entender o seu processo de vida e o que fizeram com ela, é o que de fato faz um sujeito da história. Os símbolos apenas servem para atravessar a rua, as avenidas, os aeroportos e mares. Mas não fazem de ninguém modelo de cidadão. Evitam, apenas, se bem observados, que a história seja apropelada e reduzida a cinzas. Pois no retrato desta memória colonial, que faz parte o nosso imaginário, estão razões muito fortes para chamar pessoas iguais "de meu rei" e desiguais também. Seja por interesse pessoal ou coletivo. É tudo uma questão de saber qual a frequência mental que estamos frequentando. A quem interessa deixar tudo como está num canto empoeirado da nossa própria cabeça. O primeiro lugar que temos que mexer para nos entender como rei de coisa alguma. Para começar.

UMA ABORDAGEM CULTURAL DE MONTESQUIEU


O ESPÍRITO DAS LEIS
E A DENSIDADE DO
FUNDO DA BASE FACTUAL
EM MONTESQUIEU

Eduardo Affonso


O escritor francês Montesquieu (1689-1775), autor de Cartas Persas (1721), Considerações Sobre Causas da Grandeza dos Romanos (1734) e do Espírito das Leis (1748), sendo este último livro obra inspiradora dos redatores da constituição de 1791, que tornou-se a fonte das doutrinas constitucionais liberais as quais repousam na separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário.

O ESPÍRITO DAS LEIS
Uma abordagem cultural

Segundo Clifford Geertz (1978), o conceito de cultura tende a tantas generalizações que acaba gerando uma cultura de significados. Contra essa tendência a qual chama de “pantanal conceitual” ele argumenta da seguinte forma:

O conceito de cultura que eu defendo (...), é essencialmente semiótico. Acreditando como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. (p. 15).

Concebida como um texto cujo significado sujeita-se a diferentes interpretações, uma cultura, então, é passível de diferentes leituras. Desse modo, a abordagem de Montesquieu sobre o Espírito das Leis apresenta-se como uma leitura possível dentre tantas outras de sociedades particulares, porém ao tentar generalizações perde-se em meio ao já referido “pantanal conceitual”.
Vejamos como isso ocorre. O esquema conceitual de montesquieu é sustentado por uma moldura histórica que revela o nascimento da ideologia liberal que irrompia em sua época, assim como pela sua condição social que lhe fora atribuída por seu título de nobreza. A política liberal que se instaurava nesse momento afirmava o direito do indivíduo de seguir sua própria determinação, o que vinha a afigurar-se como fundamento das relações sociais[1], embora sofresse limitações impostas pelas normas definidoras da ordem econômico-social estabelecida.
A grande contradição da linha de argumentação de Montesquieu declina de sua fragilidade ao ditar o liberalismo como um tratado acabado, uma lei universal, decorrente da correlação entre a natureza (clima, relevo) e, instituições, sujeitas a rupturas esporádicas. O desenvolvimento do liberalismo nos séculos XVIII e XIX, desafiando o Estado monarquista, aristocrático e religioso, tem como resultado a implantação de governos parlamentares e constitucionais, marcando claramente uma separação do clero e da monarquia. Mais tarde, já no século XX, nações de orientação liberalista como por exemplo aquelas que formavam o Reino Unido, mas também os Estados Unidos, aceitaram a intervenção do Estado para corrigir injustiças sociais ou mesmo formas de protecionismo econômico, enfrentando a oposição de não liberais.
Um exemplo cabal está na dinâmica de ruptura democrática dos anos 60/70, onde a prosperidade das democracias ocidentais esteve o tempo todo ameaçada abaixo da linha do equador com golpes de estado e intervenções pipocando aqui e ali, em quase toda América Latina. En passant para citar: Brasil (1964), República Dominicana (1965), Chile (1973), Argentina (1976), levando ao exílio milhares de cidadãos. Esta nova particularidade torna-se sistêmica e vai costurar todas as relações entre as nações fora do bloco desenvolvido, em Estados liberais que não chegaram a oferecer minimamente as suas populações formas eficazes de dirimir o impacto da pobreza e muitos deles, principalmente na América Latina e África, com casos isolados no próprio seio do liberalismo (Portugal e Grécia), viveram longos períodos de regimes de exceção com a quebra do Estado de Direito. Mas, todavia, faz-se mister debruçarmo-nos sobre a concepção do conteúdo do Espírito da Leis analisando-o sob a luz das referências teóricas da Sociologia e da Antropologia modernas visando, ainda que modestamente, qualificar as idéias (luzes) de Montesquieu através da análise das contradições teóricas presentes em sua obra magna.
Precisamos primeiramente entender o que Montesquieu entende por leis universais para então ver como elas tendem a conflitarem-se com situações onde tenham interpretações específicas (particulares). Mas, sigamos, mais adiante
A combinação de liberalismo e dirigismo estatal na economia, já neste século, torna-se responsável, entre 1950 e 1980, pelo surgimento das sociedades de consumo e bem estar social (Welfare States). Nos anos 80, a crise econômica e os novos parâmetros estabelecidos pela revolução tecnológica colocam em jogo políticas de benefício social dos países desenvolvidos. A resposta a essa realidade surge nos Estados Unidos da América do Norte e na Inglaterra na forma de neoliberalismo.
As idéias de mtq serão analisadas com base em teorias que, embora se apresentem de forma antagônicas (interpretativismo e estruturalismo), demonstram que sua concepção de leis universais careciam de um refinamento e de algum relativismo. Acreditava-se a sua época que o conhecimento científico era infalível e permitia desvendar o curso natural dos fatos. Na modernidade contemporânea o liberalismo enfrenta reações vindas tanto da parte do Estado (new deal, aneel, anatel, etc), quanto da sociedade civil organizada (ongs, partidos, sindicatos, tráfico, etc.).



O ESPÍRITO DAS LEIS
CAPÍTULO VIII
DO MONAQUISMO

‘O Monaquismo acarretou os mesmo males; surgiu nos países quentes do Oriente, onde não se é menos levado a ação do que a especulação.(...) as Índias, onde o calor é excessivo, estão repletas deles; esta mesmo diferença existe na Europa(...)”. A ótica de Montesquieu é determinista geograficamente, pois tenta basear-se numa observação feita sem nenhum rigor científico de observação do sistema de castas. Hoebel e Frost, em dados compilados da coluna 67 do Ethnographic Atlas, dizem que “tanto os sistemas de classe como os de casta apresentam algumas características ou comportamento dos subgrupos de uma sociedade, real ou socialmente definidos, de modos que se pode diferenciar as várias classes ou castas, um critério para marcar os subgrupos sociais é o da raça.” Neste sentido, o trabalho dos dois antropólogos segue a linha de trabalho de Weber, onde á uma coerência analítica é usada como ferramenta para escapar da subjetividade, no caso de Weber a escolha se estabelece no tipo ideal, que aqui aparecerá como raça. Na seção do capítulo 2(op.cit) intitulada A Relação da Raça com a cultura, pp 30-4, ambos salientam “(...) que os antropólogos não tem provas para demonstrar que as diferenças de comportamento entre subgrupos raciais da humanidade são causadas por diferenças biológicas ou genéticas; antes, como o comportamento cultural é apreendido e não geneticamente determinado, as diferenças de comportamento entre grupos à primeira vista fisicamente diferentes de seres humanos podem ser atribuídas à variação das experiências da enculturação e aculturação.”
Concluindo...
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss observa na página 42, As Estruturas Elementares do Grau de Parentesco, “Uma situação análoga pode apresentar-se em outros terrenos. O único meio de eliminar essas incertezas seria prolongar a observação além de alguns meses, ou mesmo de alguns anos. Mas nesse caso ficamos às voltas com dificuldades insolúveis, porque o meio que satisfizesse as condições rigorosa de isolamento exigido pela experiência não é menos artificial do que o meio cultural ao qual se pretende substituí-lo”.
Portanto, ainda que se inaugure um método estruturalista de observação do real, a certeza de se estar realizando algo de infalível contextualização, as particularidades do objeto de estudo deixam de lado a sua própria percepção, sua voz. Ainda que eu demonstre um enorme carinho por alguém como Henry THOREAU, que brindou a humanidade com WALDEN, de 1854, inspirando intelectuais a se insurgirem contra o convencional, tenho clareza que as observações de Thoreau, feitas no melhor intuito de redescobrir a terra e a natureza, são apenas observações que estão no campo de uma produção ideográfica. Elas pertencem a humanidade a humanidade, mas não podem reger leis universais, em detrimento da cultura de cada lugar. Mas não podemos ser uma ciência sem passado: “Uma geração não abandona as conquistas da outra como se estas fossem barcos encalhados(Thoreau).”
O caso de Montesquieu, O Espírito da Leis, guarda outras contradições mais graves. Pois, ele neste livro, sistematicamente recorre para colocar a natureza no contexto político contra o absolutismo, sendo parte integrada a neste contexto, tendo ele mesmo um título de nobreza, mas a sua forma nem sequer pode ser considerada científica em sua forma cultural; pois essencialmente não faz um estudo descritivo dos povos, raça, língua, costumes, etc.: não há uma rigorosa descrição da cultura material de um povo, qualquer um(etnografia). Aron, por exemplo, nos elucida ao criticar Montesquieu de forma geral: ‘Esses textos só podem ser compreendidos, a meu ver, se admitirmos que as explicações da instituições pelo meio geográfico são de tipo que um sociólogo moderno chamaria de relação de influência, e não de relação de necessidade casual. Uma certa cauda torna uma determinada instituição mais provável do que outra. Além do mais, o trabalho do legislador consiste, muitas vezes, em contrabalançar as influências diretas dos fenômenos naturais, em inserir no tecido do determinismo leis humanas cujos efeitos se opõem aos efeitos diretos e espontâneos dos fenômenos naturais; pág 37- As Etapas do Pensamento Sociológico.”
Montesquieu produziu um tratado de leis universais sujeito há recortes locais e, ainda, o fez de forma inconclusa( é bom lembrar que o estruturalismo também não conclui nada em sua totalidade, pois também é estreito não permitindo o relato do próprio grupo social investigado)e genérica, vejamos o olhar de Montesquieu sobre os índios da América.“O que faz que haja tantos povos selvagens na América é o fato de seu solo produzir por si próprio muitos frutos com o qual podemos nos alimentar( Capítulo IX- do solo da América)”. Ora, o universo das regras, mesmo que contextualize a prática neste caso natural da maioria dos povos indígenas das Américas como nômades e, em sua maioria o fossem, é preciso lembrar que a identidade cultural de muitos desses povos está em práticas de subsistência cujo o alvo é a pesca. Os Avacanoeiros, do Mato Grosso, podem ilustrar este exemplo. Finalizando, acredito, que Montesquieu é detentor de uma base factual padronizada em seu tempo histórico, que se estende em todo o século XIX e ainda está presente no senso comum no final do século XX. As pessoas continuam acreditando que os nossos compatriotas baianos, por exemplo, são indolentes e vivem em redes o dia inteiro, “que Deus ajuda o baiano a viver”; mas esta é uma questão que nos remete a um certo sentimento de inveja, caso fosse afirmada como verdade, é claro.


FIM


[1] Ao contrário de Marx, que defendia exatamente a transformação desse establichment.

A R Q U I V O M O R T O: P O E S I A



A R Q U I V O
M O R T O


Apresentação: Roni Lima;
Prefácio: Florêncio Pinto da Rosa;
Capa, Contra-capa: Simone Barra,
Diagramação: Márcia de Carvalho,
Revisão: Éber FIgueira,
Impressão: Fábrica de Livros SENAI-RJ
Editora Sinonsen-2000.
Todos os direitos revervados ao autor
BIblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Cazuza Vive
Para Dona Lúcia, mãe dele.


Procuro alguém que fale
de um caminho
por dentro de si mesmo
mas avance


Atitude Poética

A nossa ruína é grega
fica combinado assim.


Quinhentos Ônus

Bebendo o suor da Rio Branco
entrei pela Avenida Chile
quase pedi exílio na Paraguai
Nenhum consulado vai me consolar
de United States of América
não quero nada
nem mesmo um terno Panamá
Quero todos os doces da Confeitaria Colombo
pau no burro
pau no lombo
Vou correr frouxo no trânsito
nem terra a vista
nem terra a prazo
fico na beira mar
vou esperar o Cabral
com um pedaço de pau.

Bocas
Para Zé Melo – sax e coração

Boca volúvel cuspiu amor
A vida passando na lavadeira
Disse-me-disse
Roupa suja se lava em casa.

Boca matuta cuspiu mato
Ruminou as ruínas da Grécia
Disse-me-disse
Minas sem ouro algum.

Boca maldita cuspiu política
O fazer para ouvintes é só um verbo
Disse-me-disse
Ditaduras pessoais doem mais.

Boca profana cuspiu versos
Sonetos não são sinos
Disse-me-disse
O pai celestial não lê jornal.

Boca matraca cuspiu balas
Jorram luzes pelos buracos
Disse-me-disse
Quem disse que me calo?

Boca murcha cuspiu dentes
Dormentes não dormem
Disse-me-disse
Passam trens no céu da boca.

Boca louca cuspiu pratos
Vibram vidrilhos nos ladrilhos
Disse-me-disse
O sangue nos pés-de-vento.

Boca calada sopra na calçada
Notas reluzentes em profusa caminhada
Disse-me-disse
Por que não fazer música?

Poesia

Maior que a Ursa Maior
tão grandiosa quanto
um botão
da casa
da camisa
de Deus.

Deus e Ele

A mulher. O céu. A terra. O mar. A montanha. A flor. O Niemeyer.


Enquanto a luz brinca com os cabelos de Joana

É como se eu e você tivéssemos apenas uma mera impressão das coisas. Tudo está no mesmo lugar. Desde sempre, irmão. Um chapéu de palhaço jogado no canto, o sol – que é a única democracia absoluta de fato brilhando – e um monte de aparelhos fazendo o trabalho repetitivamente.
...Ah, sim, há os de cima, os de baixo e os de lado, cantando um troço inaudível pra chuchu! Sei que corremos um certo risco de não estarmos enquadrados... Mas pense bem: o que seria da paisagem sem o nosso olhar comovido e esperançoso? O Toddy Morno. O tédio frio.
...Se um dia alguém perguntar alguma coisa, diga que somos torcedores da raça humana e que aqui estamos de passagem, fazendo turismo sensitivo e ecológico.
Vai ver eles entendem.


Escolas de Sombras
Para Mário Quintana

Senhoras e senhores passou
O poeta passarinho
O amplo recinto da esperança – passou
Falta agora passar o rabo balançando
O cão faminto.
Amanhã sai o resultado.

Tentativa de construir um poema

Conte com você mesmo a toda hora
Permaneça fiel à memória dos seus antepassados
Confie plenamente nos seus defensores
Dê aos detratores da sua pessoa o direito de reconhecerem
a lei da causa e do efeito
Amanheça exaltando a vida sempre
Desfaça o caminho da ilusão
Nunca duvide da justiça divina
Aponha-se à opressão
Divulgue a boa obra
Troque opiniões de modo respeitoso
Seja generoso para com os ignorantes
Esteja limpo com a tua consciência
Ramifique a tua inteligência em ações concretas
de modo a exercê-la em nome da expressão.
Da simplicidade busque o conhecimento de maneira ampla
Escreva procurando atingir o senso comum
sem restringir a linguagem
Tente evitar a idealização do ser amado
Conheça-o bem trocando a verdade
Corrija o rumo sem perder a dignidade
Aprenda a distinguir o belo diante das aparências
Observe sem perder-se com futilidades
Demonstre. Demonstre. Demonstre.

Anos 90

Vamos dar um passinho a frente,
disse o motorista de abismos.
Mas antes alguém pediu para descer no sinal
Talvez intrigado – quem sabe
Com as vanguardas que perderam
A direção do coletivo.

Manifesto para todos

Apatia, dor na consciência, exílio cultural?
Acorda Pascoal!
Não roa a corda, segure as pontas e leia tudo o que cair nas suas mãos ou estiver suspenso em murais. Até bula de remédio, rapaz. A pior coisa que há são rodinhas onde você entra com o ouvido e acaba surdo de tanta abobrinha, pepino e baba em profusão. É um mundo cão, amigo.
Mas não somos cachorros não, democratize. A informação é para circular como um balão, de mão em mão, da ponta do cabelo até o dedão. A qualidade da sua vida não é um departamento da ecologia. É também, basicamente, da relações que freqüentamos. Quando venderem para você a idéia de que você é um chato, desconfie. Segure a barra, observe. A crítica precisa de substância para existir como crítica válida.
Vá em frente!
Inicie sua produção, elabore, pense. Você não está sozinho.
A história de toda a humanidade está em suas mãos, herdada. Pega que é tua. Faça dela o seu caderno, diário, poema, flor, mulher, automóvel, disco voador.
Deixe, enfim, as suas pegadas. Homem.

Nós também não gostávamos de jiló


A luz do sol entrava pela janela gradeada
fazia um jogo da velha sobre a folha branca
veio a mim me levantando pelas orelhas
atravessando comigo a extensão do corredor
O quadro negro queria gritar mas era 1969
A vara de marmelo dava as ordens
Bafo-bafo, porrada, guerra d’água
A gente não imaginava o que era talidomida
Lá fora uns meninos trocavam tiros com a polícia.




Todos estão surdos, cegos e mudos
exceto os mudos, cegos e surdos
que estão vendo, falando e ouvindo
aquilo que interessa transformar.

Crônica 17168

O deputado liberal encontra o social pateta democrata para comer moelas e tomar posse da praça.
O primeiro sobe o palanque e consegue dizer:
“Que a sociedade exige a privada ação dos rebimboques dentro do mundo globalizado enquanto onde tudo depende da inserção do escravo no mundo globalizado”
O segundo diz que tem uma missão
“Que é salvar o mundo do Brasil antes que o Brasil nem mesmo tenha a chance de salvar a cachaça do santo”
O povo desconfia mas não tem a mínima certeza sobre o assunto. Então, aplaude.
Dois ou três caras a esquerda do propositório dormem
“O sono de cinco séculos” – Tradução aproximada: “Do not disturb”
“Quem dá tudo o que tem acaba voltando à condição de nascer de novo”. Assim falou o mentecapto Onofre Faustino de Souza, encontrado apenas de frauda após assalto na rua do Imperador.
“O Imperador não estava nu”. Comentário do guarda n.º de série17168, que socorreu a vítima.
Em seguida passou um rádio para amarea zero. Ali, bem próximo, o Estádio Proletário muda de nome para Moça Bonita.

Falárica*

Se diz tanto.
Falácia de sentimentos
envolta em nuvem etérea
as palavras.

Declarar amor, que fácil!
inútil paisagem de ilusão.
Atirar palavras n’água
tanque estanque de lavadeiras.

Eterno jogo de crianças
palavra bola rola
para cima para baixo
vibrar a parede da memória?

Que tamanho desvalor, senhores!
desmedida sombra paira
quereis falar de encanto?
Empurre velhos ladeira abaixo.

O primeiro homem urrava
que telefone, qual nada!
Primeira regra fenícia:
tudo é mercadoria.

Ora poetas, direis ouvir estrelas?
Pois entrem os anacoretas
vamos atender as baixas
sem nenhum instrumento
em uníssona gargalhada.

*Falárica sf. ‘dardo incendiário’.



Ideário Amoroso

Um amor. Taí algo bom e inatingível. A lua está lá na dela, longe. Um amor necessário. Sem ficar dissecando sapos, do tipo que aprendeu na escola, ou disseram que homem é tudo igual e achou bonito de dizer. Um amor sem pressa, exageros, cólera e creme nívea. Daqueles que só existem coabitando com o mundo, mas não levando o mundo para cama. Eta amor difícil! Vai ver está procurando também e por um tantinho desencontrou, perdeu o metrô, o tempo, a vida toda esperando. Um amor, um leque de papel chinês. A mão direita acenando. A mão esquerda rebolando os quadris, para manter tudo quente, neste caso, um amor para sempre. Um amor. Um amor qualquer, que me chame de Rimbaud, de Baudelaire, do nome que convier. Daria tudo para ter um amor assim. Um amor. Um amor vagabundo vestido de páginas clássicas, encantamento, cores, arrepios, e preces para durar enquanto o sândalo rastilhe a dignidade do ar. Um amor. Um amor pensado levemente quando ausente. Um amor que guarde segredos. Um amor que revele a si mesmo como um caminho escolhido por vocação do prazer. Um amor que leia o olhar e tire os óculos d’alma para enxergar sem preconceito, sem o massacrante racionalismo materialista , que seja receptivo como a flor diante da abelha. Uma amor que cante como uma Maria Louca renovando a esperança quando acorda para um nono dia. Um amor que erre, fracasse e nunca passe pela vergonha de se acomodar. Um amor que tente encontrar uma solução para tanto desamor, que não cesse de brilhar e creia na verdade intuitiva dos bichos. Um amor que comemore a vida e despreze a culpa, que use a atenção para evitar as armadilhas ilusórias do capital. Um amor produtivo que faça como meta a cooperação. Um amor simples como beber água nas conchas das mãos. Um amor que seja digno da palavra. Um amor que tire a máscara e vá dançar um tango. Um amor que goste de caminhar. Um amor que mereça os passos do homem na lua. Um amor que traga o araudite para consertar a lira mágica de Orfeu. Um amor cuja a única virtude seja ter as mãos vazias. Um amor para aplaudir quem sonha por sua chegada.



Dentro da Asa Morna do Vento

Nós estamos dentro do mundo.
Mas o mundo não está dentro de nós.
Dexter Gordon
Around midnight


Dentro do mundo
cabe falar o necessário
A todos os ouvidos mercadores
para não ter que voltar atrás
Ao tempo que vendiam homens
para carregar vaidades.


O mundo não está dentro de nós
por opção do por do sol que põe
ovos vermelhos e depois desmaia
de tanto esforço desnecessário.


Para a maioria que só vê
o umbigo avaliado como
coisa balançada de propósitos
duvidáveis enquanto a nossa
parte cabe ao rebolado para
ser a máxima expressão
do chacoalhar de um bater
de asas em mansa e reta
retirada.

Cura

Doutor esqueça o isordil
receite duas cápsulas de blues por noite
e alguém para apertar o play do amor.


Manifesto Bacalhau

Sem medo do erro. Certos ou errados, acertar tentando! Porque em nome da eficácia, fria é a lápide onde repousa a epígrafe: aqui jaz aquele que passou sem dar um único passo descuidado, o coitado viu de perto a morte ainda inacabado... Enquanto a vida ainda propicia sua dinâmica de laços fraternos, perdão e audácia, dizendo: faça! Pegue o leme! A direção do barco! Vai! Construa a tua arca com fibra ótica, garrafa, bilhetinho dentro em caso de naufrágio explicando tudo: “ – morri afogado cantando fado por devoção a portuguália afiada”. E nem um deles deu por encerrada a jornada. Nem mesmo meu fantasma, o gajo acha ainda que é um batizado com exagero d’água. CAMÕES BABY! Ora, pois estamos todos fartos de roubadas. Não queremos os paus-brasis sobrados. Nem a soberba dos vencedores instalados. Mas por que não, outra vez, o Caminha com as Índias vencidas. Só para ver se acertamos de vez nosso destino, sem tanta água rolada no azeite da mulata exportada. Passar a limpo o mapa. Olhando as estrelas debochadas encerando o convés da Terra pra que a gente escorregue de vez em mares nunca dantes navegados pela palavra. CAMÕES BABY! O único porto que me cabe é o vinho DO PORTO. E o armarinho prateado do Roberto AZUL-MARINHO é pequenino, já não fala a nossa língua afiada. Salta aí um bacalhau! A Elvira do Ipiranga enfim vai chacoalhar as margens plácidas. Neste boteco à beira do novo século. Atrevido. Atávico. Tamanho do nosso tamanco em desmedida revoada. Cá em cima tem um tiroliroliro e lá em baixo tem um tirulirulá.

Posição
Para a geração 70


A única posição possível, neste fim de século, consiste em estar plantado acima de todas as contradições, para nascer uma esperança da mais alta e nobre árvore dialética.

Expressão

Não fique a esperar o dia em que a grande obra chegará. Fazer parte do diálogo entre corações abertos é por si só uma sublime tarefa. O imaginário é um campo de liberdade fértil. É um verdadeiro esteio, nele o poeta caminhará deixando para trás versos a germinar. Nenhuma indústria, por mais poderosa, será capaz de sobrepor este ciclo da natureza humana. Há alguma coisa acontecendo independente do acabamento, que não é produto, sendo que está cumprindo a meta sem preocupações com mercados. É o que move. Tendo uma engrenagem suspensa no ar, é tão fiel a verdade, que a chamarão de pura. Mas não, quem realmente a conhece sabe seu nome: Expressão!!!

Instituto Zeferino de Oliveira, 15h, 5 de Julho de 1974
Tratamento dentário suspenso para as crianças da Guanabara

Perdi meus dentes numa cadeira de dentista de um bairro sujo. Levei um bom tempo para voltar às ruas. Ouvi Beatles num rádio de válvula que demorava para esquentar, nele Piaf ainda canta na minha cabeça numa edição meio arranhada. Descobri que não há nada mais colorido, para quem não teve tempo para dedicar-se ao arco-íris que a multiplicidade de cores da feira livre. Lembro do meu pai enquanto descíamos em direção ao cruzamento numa bicicleta alemã sem freio, falar para de modo algum dar adeusinho se visse algum amigo. Ele mau sabia queu não tinha nenhum. Eram todos matadores de passarinhos e eu já tinha feito a minha primeira escolha. Tive uma infância bem pobre que nem de perto superava a miséria que a minha mãe e meus tios passaram com o meu avô durante meses dormindo na Central do Brasil e pedindo esmolas para comprar pão. Tive uma calça Lee de segunda-mão com detalhes de ressentimentos. Tomei sopa de alho com marujo sobrevivente do cerco à Madri. Botei pra correr a TFP que distribuía uns papéis no centro da cidade. Foi bonito ver aqueles estandartes no chão da avenida que eles nos tiraram. Tenho uma lista de caras que sabem das coisas que aumenta muito pouco agora. Arranjei emprego em jornal pedindo carona. É preciso que cada um carregue o seu próprio divã nas costas com a maior humildade possível. Também perdi Eurídice. Continuo sabendo bem mais do que deveria, agradecendo a Deus por jamais me ter imposto fronteiras covardes queu não pudesse morder mesmo sem dentes.

Vira-lata

Plantei versos em mato sem cachorro
Puseram poste
Colei metáforas vira-latas.

Inventário Cineclubista
Para os manos de Jean Renoir

Todos os meus erros estão passando num cinema poeirinha do interior d’alma.





Estamos todos dentro de uma
caixinha de surpresa.
chamamos isto de metafísica
mas é só encanto e susto.

Rafhael

Meu anjo, diz uma coisa pra mim,
como é segurar as barras minhas?
como é ter que ouvir minha
vitrolinha
e aquela agulha pulando
feito uma fagulha
tanta honra assim,
deus mereço eu?
tê-lo pelos bares,
você não morre de tédio?
Desculpe, meu anjo, você está noutra
sei...
e quando danço como um louco
rodando como um ventilador
de teto
Ah, meu bom...
você sabe que eu tomo chuva,
que não levo desaforo para casa
e ainda me empresta as asas
para enxugar as lágrimas?
Olha, quando for meu dia,
mesmo que eu tenha bico-de-papagaio,
prometo que vou dar um tremendo lustro
nos teus sapatos.


Tão Gente

Gente que fica olhando como se você
fosse uma mosca dourada,
o sentimento de pegar a mosca,
como coisa repugnante
e aprisionar como coisa de valor.
Gente para saber se você vai de
mal a pior,
Dando o mínimo de importância
para reproduzir a
infelicidade como coisa certa
e líquida como a saliva.
Tendo tanta sorte assim
você só precisa estar morto
para ouvir a mesma conversa
sobre os valores que deixou,
como um suporte para pendurar
a camisa.
Gente que necessita saber onde
você será enterrado
para dizer pra tua família
que você foi acima de
tudo
gente.





Sou um Samba de roda-gigante




Marinheiro de Argos


Pequena ceifadora de luas
Fazei-me no ofício a leitura tua
Ardes, bem sei, minha
Literatura de soberbo sol.

Ah pequena de beijos...
Quando bem sabes desejo
derramar a amargura tua.

Dizei antes da derradeira lua,
podeis incendiar memórias?
Ata-me ao fogo dos joelhos
Poeta que pareço de cem anos atrás.

Se quereis sonetos, leia-os!
Clarividente girassol, teço-os!
Tu que agora sentes o preço,
do suspirar de mascates dos verbetes.

Leia-me tão completamente
Sem que possas ir-se impunemente
Ver-se em outro que não vês
Longe do fogo iridescente teu.
Podeis voar a cortar luas?
Escolher escolher-se pedra nua?
Fazer-se véu a cobrir brandura?
Se podeis...

Há muito não importa a chaga
Se és da lira
sou camisa rota
Se sabeis dê-se ao passo infinito

Sobre o leito do peito meu
imenso é o rio de rastilhos
Gozo de louvor e ritmo
dentro e fora do papel.

Desgramático

Ponho a vírgula onde achar necessário
Exclamo quando quiser
Interrogo muito além do porquê
Quer saber?
Sou reticente...
E não creio em ponto final.
Nunca usei o trema
Não fixo parágrafo
E se pudesse revolucionar
Meus dois pontos estariam
Lado a lado.

Páreo Duro
Para Roni Lima

Fumar um cigarro e correr para apostar
Formiguinha Amassada No Sofá,
É o quinto páreo, gosto do nome.
Alguém do meu lado,
é barbada!

Lá vai ela,
raia pesada,
em solavancos de sadismo,
como num trem,
num ônibus,
barca em mar bravio,
corre a formiguinha.
A cem metros de chegada,
a imagem da puta do terceiro páreo,
me deixou na mão pensando na Lídia Brondi,
indago-me o porquê do continuar apostando em éguas,
Formiguinha Amassada No Sofá atropelando no final,
um, dois, três, quatro, cinco mil corpos celestes,
Formiguinha quebra a pata,
Formiguinha se arrasta,
Formiguinha é sacrificada,
uma imagem vale mais do que mil palavras?

Frases D’efeito


Eficácia que só tem um lado é roubo.

Todo canalha tem um modo prático de piorar as coisas.

Se você encontrar a cigarra por aí, diz para ela continuar cantando, até arrebentar com todas as estruturas surdas.

A maçã do marketing é de plástico.

A única ilusão aceitável é o algodão doce.

O silêncio é a arte de fazer barulho com substância.

O silêncio é apenas o caos descansado do almoço.

A voz da minha consciência anda falando sozinha.

Camões, baby!

Preciso de você para prosseguir perdido no mundo. Como quem encontrou o lugar certo para perder-se definitivamente.

É preciso construir a ponte entre gerações, levando em conta a presença interativa da arte, sem ocultar jamais a liberdade da escolha, os bens para a produção e o ensinamento irrestrito do método.

Ou a cultura e a educação andam juntas, sem esquecer de olhar para todos os lados na hora de atravessar a vida... Ou aparece um caminhão desgovernado para atropelar a civilização.

Toda experiência humana no campo das artes deveria ser repassada, desde o primeiro momento que berramos saindo do ventre da mãe. Deste modo sairão as futuras gerações cantando um blues. O médico usará as mãos apenas para aplaudir.

Comunicados. Comunicados. Comunicados. Até quando necessário for, estaremos emitindo comunicados que aproximem o homem de si mesmo.

A ordem dos fatores não altera o produto do meio fio.

O pior inimigo é aquele que se esconde atrás de uma imagem institucional.

O homem opta pela fome e um silêncio fundo, que mata a coragem antes de agir como homem.


Um país fazia-se com homens e livros.
Cadê o país?
Foi por ali.
Cadê os homi?
Foi por ali.
Cadê os livru?
Desescreveru.



Nós aprendemos a sorrir no meio da lágrima.



Mariana

Mariana tem nos cabelos
um brilho de cidade antiga
uma peraltice meio sacana
um pouco de Maria
e um pedacinho de Ana

Mariana é um ciclo de ouro
que faz pouco do anjo barroco
brinca com ele
no seu lado torto

Mariana mistura tintas
colore gente,
que fantasia
a vida em preto e branco
voa Mariana!
que a vida é feita para quem sabe voar

Andar

É preciso prosseguir diariamente buscando encontrar-se antes de dar-se ao outro pela metade. A metade de um vaso quebrado é incapaz de guardar a água e reter a flor. É quase nada. Mas se a cada dia, incessantemente, caminharmos, na direção do nosso próprio encontro, deixaremos para aquele que chega o tacho da melhor água. E também a luz definida, tranqüila, para repouso do viajante cansado.
Caminhemos, pois, sem culpa alguma. Deixemos para trás o peso das horas de jornada, o fardo do convencimento geral e os erros que erramos por inocência combatendo os efeitos e esquecendo das causas. Humanos, definitivamente humanos é o que somos e , portanto, capazes de prosseguir na direção da correção do rumo. Viver vale a pena. Navegar vale muito mais. E estamos conversados, até que Deus nos junte, com seu araudite para almas de borracha definitivamente. Tenho dito, assino em baixo e dou fé.

Alguém que anda por aí.



Tiro ao Álvaro

O meu eu
encontrou o teu
tentando passar um e-mail
pra você de Viena.






Passam em mim dois rios
o de Janeiro
e o Rio Grande


Comer Pessoa
Para Adriana Calcanhoto



A média do pensamento desconhece o biscoito de amêndoa português.
Mundo Cão

Atriz compra papelaria
só para garantir
o papel.


Go Home

Entrega a tua rapadura
enquanto observo o movimento
dos passantes sem dentes desfraldarem
um sorriso bandeira
para os soldados e os cães em fileira.


Poema para Heloísa

Talento era uma moeda
que não pagava o ingresso
para ver os Rolling Stones
da época.


Bandida

Dentro de mim
tem um anjo
rabiscando indecências
quando vê você passar
impunemente.




Quem planta caminhos
colhe horizontes.

Mãe

Não se perde madrugadas
ganha-se alvoradas.



É bom perguntar
primeiro a quem
interessa viver
de aparências
enquanto a alcatéia
avança.

O Circo

As horas passam sem que tenhamos tempo de consultar o relógio.
Tudo é só salto sobre todos os riscos.
Nenhuma rede abaixo do trapézio.
Nada.
É o momento de parar o circo.
Ainda há a possibilidade de soltar os bichos!
Ir de frente para o público sem ensaiar a verdade.
Mandar todo mundo para casa sem maiores conseqüências...
O Espetáculo está temporariamente suspenso:
Até que o palhaço volte a sorrir;
Até que tenhamos a certeza de que estamos fazendo a coisa certa com o leão;
Até a mulher barbada fazer a barba;
Até o homem que engole fogo tomar um copo d’água boa;
Até que o anão volte a crescer;
Até o atirador de facas parar de tremer diante do alvo;
Até que o elefante volte para a África;
Até você e eu voltarmos a sentir alguma emoção que pague o ingresso e a pipoca.

Um Táxi Para Miles

Reconheci uma mulher louca dentro do corpo de outra normal. Bem na hora pedi a Deus, com emoção, que devolvesse aquele corpo à creptante brasa que ali adormecia. Olhei bem no fundo daqueles olhos e vi a doida solta dançar em nome da tarde e da liberdade dos amantes do planeta azul em que nascemos. Ela cantou com as lavadeiras do rio São Francisco, estendeu roupas coloridas sobre o sol de junho e depois brincou de rodas com as crianças que já não tinham medo dos monstros que a normalidade cria. Encontrei com ela no fim da noite e bebemos vinho com o luar acima das nossas cabeças altas, bem perto do fogo. Nos amamos até a última gota do orvalho, que caía sobre os nossos corpos suados madrugada adentro. Acordamos e partimos para lutar todas as lutas d” alma, nos apoiando na dignidade do dia que nascia livre, como certos homens que não se dobram como sino das igrejas. Desconcertados e completamente felizes, percebemos que o paraíso estava vivo e agradecido de nos ter de volta ao fruto proibido. Deus, então, finalmente sorriu e depois daquele dia voltou a tocar com Miles Davis.