quarta-feira, 27 de outubro de 2010


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CONTROL C

Ctrl camaradagem...

Concretamente Coletivo:

contra crime calmaria culpa
caótica cena ...

cole crepúsculos
copie camaradagem

cuspa kapitalism!

compartilhe
cabeças canções cinema...

conspire!

consubstancialmente.


EA
P.s: cidadão completamente contemporâneo carioca-chileno casualmente ...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

COMPARTILHAMENTO

Olá pessoal!

'Brigam Espanha e Holanda pelos direitos do mar"... Leila Diniz...


Já manifestei a minha opinião de compartilhamento das obras.

Compartilhamento mesmo!

Tudinho "escaneado" e, em anexos para todos!

Enviei um email falando do assunto e propondo a circulação das obras para além de Barbacena. Fomentando discussões no eixo do entorno da cidade e além mar...né Cris? ...que me respondeu e Maristela, que ficou de ver com "o super- Alex" ! ...e então?

Acabei despertando uma discussão! Toda ela muito boa, respeitosa e útil!

É claro que preferia ter os livros. Ter?... ser?

Embora, o espaço que cada um tem para guardar...
É bom e necessário doar livros e tudo!

As idéias devem circular sempre! ...já é tão raro encontrar seres inquietos! ..o custo social, chi!!!!
VOLTANDO aos livros...
Até por que o privilégio é de quem tem dinheiro para comprá-los, certo?...meus caros e invendáveis amigos!
Olha, que não estou falando só de obras literárias não! As obras acadêmicas, as de arte e técnicas custam uma fortuna! A gente repassa-as quando tem a oportunidade de ter a obra em livro(produto).

Acredito que seja assim...
Lá num passado distante, lembro que a gente comprava por um cruzeiro dicionários de inglês, francês e gramáticas produzidas pelo MEC. É! ...um país distante de sensações impagáveis!
O mercado, é claro, que tem alternativas: feiras, promo......mas, ainda assim, o produto livro, principalmente os lançamentos, são caros!
Há um cadeia de chorões: os livreiros, as editoras,,,há sim, os autores(pobres diabos), que não levam nada ou muito pouco....salve aqueles que vendem no exterior(best...) ou se tranformaram em medalhõs com pro-labore garantido.Uma penca boa, que até ganha direito de imagem...

O livro importado, é outra história...o livreiro tem razão!
Então, é que se discute agora: para que serve a propriedade intelectual em meio ao novo modo de produção que se apresenta? Leia-se: internet...e o google?

O que vocês acham que faz?
Bom, vou dizer, ninguém sabe agora bem o que vai rolar...
Está acontecendo um debate.

Ainda bem! Aqui no Rio semana passada rolou um...inconcluso. Pois as formas de leitura, de distribuição e circulação também mudaram.
Enquanto isso...
Lembrando que os ingleses criaram(inventaram) a sua navegação corsária sem compartilhar nada do que "REALMENTE ROUBAVAM" mares adentro e fora do eixo dos súditos da rainha... o lema é: compartilhamento em todos os níveis!
Aceito cópias sim!
Não vendo nada. Nem deveríamos copiar(xerox). Penso. Entendo outra posição.

O meu interesse é pesquisa e a circulação de idéias via internet e ao vivo, quando possível...o que deve encontrar eco!
Teremos que votar?
...ou compartilhar é uma opção pessoal?

Abraços compartilhados!
Eduardo.
p.s;
conheço alguns escritores que não levaram nada além de algum prestígio(divulgação) das editoras. Ainda que a circulação continue braba! Melhoras?... só via internet!

P.S 2:
Vejam que engraçado, pegando carona na frase do Sivuca:
"poeta bom é poeta morto"! A ACADEMIA BRASILEURA DE LETRAS- ABL em parceria com a poderosa FETRANSPOR-Federação das empresas ônibus, espalha cartazes de poemas de poetas mortos nos ônibus daqui...o domínio público é bem vindo!.

E os poetas contemporâneos? Gostaria de ver os meus sustos circularem!
Não cobraria, é claro!
Vi uma experiência assim em Porto Alegre! GENIAL!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dilma à vitória! !

Um sinal de alerta está neste momento ligado!

A expressiva votação de Marina é um alerta para as forças que sustentam o fogo do lado da luta histórica do povo brasileiro!
AQUI no Brasil não há meios tons! Todo cuidado é pouco com as elites políticas! Pois elas encontrarão um modo de complicar a vitória!
Mais: A América Latina inteira deve estar apreensiva com a chegada de Serra ao segundo turno.
Dilma à vitória!

Derrotar Serra já!

Leonardo Boff:

Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT

30.08.10 – BRASIL
Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT

Leonardo Boff *, no Adital

Para mim o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa comercial.
Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato, Capistrano de Abreu, “capado e recapado, sangrado e ressangrado”.
Elas estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguradados. Por isso, segundo dados do Banco Mundial, são aquelas que, proporcionalmente, mais acumulam no mundo e se contam, política e socialmente, entre as mais atrasadas e insensíveis.
São vinte mil famílias que, mais ou menos, controlam 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.
Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa grande e a senzala constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites fora construída com seu trabalho superexplorado, com seu sangue e suas vidas, feitas carvão no processo produtivo.
Com alianças espertas, embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo e, gozadores, repetiam: “façamos nós a revolução antes que o povo a faça”. E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como antes. Destarte, abortavam a emergência de outro sujeito histórico de poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo moderno e menos excludente.
Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de movimentos sociais de resistência e de autonomia. Esse poder social se canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.
Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes mundiais: um operário, sobrevivente da grande tribulação, representante da cultura popular, um não educado academicamente na escola dos faraós, chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade, de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde “a coisa pública”, o social, a vida lascada do povo ganhasse centralidade. Na linha de Gandhi, Lula anunciou: “não vim para administrar, vim para cuidar; empresa eu administro, um povo vivo e sofrido eu cuido”.
Linguagem inaudita e instauradora de um novo tempo na política brasileira. O “Fome Zero”, depois o “Bolsa Família”, o “Crédito Consignado”, o “Luz para Todos”, o “Minha Casa, minha Vida, o “Agricultura familiar, o “Prouni”, as “Escolas Profissionais”, entre outras iniciativas sociais permitiram que a sociedade dos lascados conhecesse o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram: um salto de qualidade. Milhões passaram da miséria sofrida à pobreza digna e laboriosa e da pobreza para a classe média. Toda sociedade se mobilizou para melhor.

Mas essa derrota infligida às elites excludentes e anti-povo, deve ser consolidada nesta eleição por uma vitória convincente para que se configure um “não retorno definitivo” e elas percam a vergonha de se sentirem povo brasileiro assim como é e não como gostariam que fosse. Terminou o longo amanhecer.

Houve três olhares sobre o Brasil. Primeiro, foi visto a partir da praia: os índios assistindo a invasão de suas terras. Segundo, foi visto a partir das caravelas: os portugueses “descobrindo/encobrindo” o Brasil.
O terceiro, o Brasil ousou ver-se a si mesmo e aí começou a invenção de uma república mestiça étnica e culturalmente que hoje somos. O Brasil enfrentou ainda quatro duras invasões: a colonização que dizimou os indígenas e introduziu a escravidão; a vinda dos povos novos, os emigrantes europeus que substituíram índios e escravos; a industrialização conservadora de substituição dos anos 30 do século passado mas que criou um vigoroso mercado interno e, por fim, a globalização econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores.

Face a esta história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer dizer, enfrentou estas visões e intromissões, conseguindo dar a volta por cima e aprender de suas desgraças. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do candidato da oposição. Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que representa como ator social. Celso Furtado, nosso melhor pensador em economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro A construção interrompida (1993): “Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta no devir humano.
Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-Nação” (p.35). Estas não podem prevalecer. Temos condições de completar a construção do Brasil, derrotando-as com Lula e as forças que realizarão o sonho de Celso Furtado e o nosso.
[Autor de Depois de 500 anos: que Brasil queremos, Vozes (2000)].

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Eleisonho...

... despedindo: até segunda meus caros amigos!

Vou para mais uma eleição com uma única certeza na vida!
O voto é secreto.

Mas,ontem, bem sonhei que a urna eletrônica poderia ser transformada numa caixinha de música! ..com uma bailarina dançando sem parar...um requiem para senhores sem espírito público!


Eduardo.

p.s; um dia... Vai Que Vai !

certezas na vida!



Maicosuel ?


Enviado por: "Plenacidadania" ao Globo de hoje



O botafogo teve tanto jogador bom...fazer boneco pro Maicosuel...é um pouco demais!

Quem é Maicosuel?

DEVIAM FAZER UM UM PRO jOEL...

barrigudinho...

ia vender!

... pro Affonsinho, jairziho...

um do Maurício empurrando...

ia vender pacas!

Arrumava um trôco!

O COLETIVO 77


Uma das mais fantásticas situações novas é a criação do coletivos de artistas. Os coletivos explodem pelo BRASIL sem sinais de que pararão algum dia!
Em especial conheci uma rapaziada da pesada do COLETIVO 77.
A moçada tem diversas iniciativas de produção já rolando. Uma delas que não tem custo alto e de quebra subverte corações e mentes com cunho literário.

É também uma iniativa libertária, pois aventura-se pela filosofia, história, psicanálise, sociologia e afins, com a reflexão alinhavada para cidade inteira através da sua vanguarda artística.
O texto abaixo foi extraído da página do COLETIVO 77.
O texto convida para a próxima reunião.
Logo ali em Barbacena!
MAIS:

Fernando Pessoa por Maristela Guedes

O próximo encontro do Clube de Leitores77 abordará a obra de Fernando Pessoa e será realizado no dia 1/10, sexta-feira, na Biblioteca Pública Municipal Honório Ferreira Armond (prédio da Casa da Cultura, Rua General Osório, 11, Centro). A mediadora do encontro será Ana Cristina Rigotti.

“E quem não gosta do Pessoa, quem não tem aquela preferência confessa por um de seus heterônimos? Quem não tem aquele poema favorito ou aquela citação que sabe até de cor?” (Maristela Guedes).

Leve o seu texto predileto do Fernando Pessoa. Será uma noite de leitura compartilhada, com a participação de todos os presentes. Convide os amigos: o Clube de Leitores77 é aberto e não tem caráter acadêmico.

Americanos pelas beiradas


Estou aguardando para começar mais este trabalho maravilha do TOTA.
Fiz 2 resenhas(disponíveis aqui) na Pós em dois outros livros da fera!
Vou comer esse ai pelas beiradas. Alguém se habilita a me acompanhar?

Flamengo sempre!

ELEIÇÃO NO BRASIL



Imaginemos que a Urna Eletrônica do BRASIL veio de guerra
possa se transformar numa caixinha de música.
Então ela seria assim pra mim:

-tocaria um requiem para os corruptos, que morreriam a míngua sem os votos do povo brasileiro.
Uma bailarina giraria sem parar de felicidade!

P.s:Confirma!!!!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mexe comigo



QUASE TUDO MEXE
QUASE TUDO PODE
SER MEXIDO

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

BLOW BY POW!!!!



Têm horas quE o meu coração JEFF BECK toca Blow by bloW!

ai só ouvindo esse albúm pow!

1974 boa safra!

Blow by blow! pode ser ouvido inteiro na rádio UOL:






segunda-feira, 13 de setembro de 2010

enquadramento

bote o pé na estrada papai!
não pare nunca de andar!
vai pai!
atua ...
tropa pra caminhar!
vai pai!
vai que contigo
também vou!
seja
escuro
esteja
claro!
estamos no mesmo carro!

O combativo cineclube!


f0to 1




Cineclube Jean Renoir
Aliança Francesa do Meier
Presente!
agosto 2010(1)
o JEAN RENOIR se reune outra vez, aniversário do Wolney(50 anos-AGOSTO 2010)WOLNEY, AMILCAR, GIL , EU E KÁTIA








FOTO 2
1989-1979(10 anos!) Dez Anos de Cineclube Jean Renoir da Aliança Francesa do Méier: Oscar, Mauro, Maurício, Paulo Fernando, Amílcar, Eduardo, Eu, Kátia, Oswaldo e Luís Márcio (Agosto de 1989

Alê primo!

JOÃO BRAGA, Alê Souto(pai e filho) e um cara que anda por ai...

Teodorico Majestade


O problema aqui no Rio é que a gente pode deixar escapar entre tantas coisas desinteressantes algo interessante e que tem uma história por trás.
É o caso do TEODORICO MAJESTADE- as últimas horas de um prefeito. Um espetáculo teatral baseado nas situações de coronelismo e corrupção, tão em cartaz no BRasilzão velho de Guerra. Em especial na Bahia.
MAS PARA NÃO PASSAR EM BRANCO... fica a diga para que visitem a página blog do grupo, que trouxe a peça que ficou somente dois dias por aqui.


Sobre a história do grupo e da peça: vai lá no blog pra ver o que é bom pra tosse e pra alma do povo!
OS CARAS DERRUBARAM UM PREFEITO!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

GUANABARA- CIDADE ESTAD0




On the ria...


Sou da Guanabara!

quem

Ben Sisario THE NEW YORK TIMES NOVA YORK - O Estado de S.Paulo






QUEM FOI

JIMI HENDRIX
GUITARRISTA, CANTOR
E COMPOSITOR

Chamado de o maior guitarrista americano de rock de todos os tempos, Johnny Allen Hendrix nasceu em 1942. Como era canhoto, usava guitarra de destros virada ao contrário. Entre suas influências estão B. B. King e seus antepassados indígenas. Morreu aos 27 anos, em Londres.



terça-feira, 20 de julho de 2010

HOJE ME APARECECEU UMA HORROROSA!!!

Enquanto o dia prossegue ainda há esperancas de todas as malas extraviarem...

A TABACARIA de sempre...

TABACARIA (15-1-1928 )
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.

0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.


In Pessoa, F. (1981): Obra Poética, Rio de Janeiro: Ed. Aguilar
Não sei o que fazer com este Blog já que não tenho tempo para atualizar...

terça-feira, 13 de abril de 2010

ouvindo mais e melhor!


Bye bye backbird....by Miles Davis

segunda-feira, 29 de março de 2010

artigo 19

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Art. 19 - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem inter-ferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras--

quinta-feira, 25 de março de 2010

Onde andará Flavia Shilling?

Ontem...me peguei roendo as unhas pensando onde andará Flavia Shilling. Lembro da campanha para libertá-la, que participei. Naquela época eu andava vestido com as mais malucas camisetas pelas anistias e liberdades dos presos políticos no URUGUAI, Chile, Brasil...era tempo da Revolução sandinista e da rebelião em El Salvador...

Então fui procurar por ela na internet. E descobri que FLAVIA hoje é uma educadora(o que muito me animou!)e que, também, não acredita que a educação vá dar jeito em tudo...como afirmam alguns...

Flávia agora já passou dos 50 anos, mas não perdeu a esperança num país melhor.

SEGUE abaixo um depoimento dela. VIVA A HISTÓRIA!!! Segue, também, alguns depoimentos de pessoas que sofreram com a ditadura aqui mesmo!

Flávia Schilling

publicado em 23/04/2006

Depoimento de Flávia Schilling

Em agosto de 1979 estava presa no Uruguai, na prisão política de mulheres conhecida como "Punta Rieles". É curioso como naquele lugar, naquela prisão feita para ficar alheia às mudanças e separada de tudo o que fosse percebido como "político", instituição total e austera onde a informação era censurada, controlada, cercada de olhares vigilantes por todos os lados, os menores sopros de mudança e liberdade entravam! Entravam fragmentados, na forma de um pedaço de jornal entrevisto, de uma fala audaz em uma visita que, com isso, corria o risco de ser interrompida, na indiscrição de algum oficial muito confiante de seu poder... De fato, não ficamos sabendo do movimento pela anistia, da mobilização que acontecia. Sabíamos que algo mudava sem saber sua exata dimensão. "As prisões políticas não são feitas para durar": todos o sabíamos. Mas essa "duração" pode durar tanto tempo! A prisão política no Uruguai durou de 1972 a 1984. Os militares que comandavam a repressão completavam: como as prisões políticas não são feitas para durar, precisamos aproveitar o tempo que temos para destruí-los a todos. Não contavam com a resistência cotidiana de mulheres e homens que, mesmo presos, eram "moinhos incansáveis". Uma das formas da resistência era justamente essa: não deixar que o segredo dominasse, que a separação com o mundo de "fora" fosse vitoriosa, que a informação deixasse de circular. A importância do Brasil - na época, com a luta pelo fim da ditadura e a anistia - para os demais países de nossa América foi (e é) enorme: o que aqui acontece é cercado de atenção, atenção inversamente proporcional a que se dá aqui, no Brasil, aos nossos países vizinhos. O Brasil mudando, significava esperança para os países que viviam situações similares.

É claro que fui beneficiada pelo grande movimento da Anistia no Brasil. Fui liberada por todos os brasileiros em 14 de abril de 1980 e, junto comigo, saíram da prisão todos os estrangeiros que estavam presos no Uruguai. A volta ao Brasil foi uma festa, uma festa de liberdade. Teve hino nacional, bandeiras, gritos, muitos abraços, aquela emoção! Como homenagear todos esses cidadãos e cidadãs? Talvez pensando no Mouzar Benedito, sempre presente; talvez pensando no nosso grande Carlito Maia que durante um ano, todos os dias 14, mandou para nossa casa cravos vermelhos. Luz, fogo, esperança...até hoje. Pensando nas irmãs do Santa Maria, na irmã Michael. Em Dom Paulo, figura luminosa e iluminadora sempre presente.

Penso que o movimento pela anistia foi um dos momentos de construção ou constituição da república no Brasil, república que até hoje estamos tentando fundar, república de cidadãos e cidadãs, livre, fraterna e igualitária. Outros momentos igualmente fundadores nessa direção foram o das "diretas-já" e o que resultou no impeachment de Fernando Collor. Cada deles foi muito importante, mesmo que depois, aparentemente, tudo aparentemente se dilua no ar, se dissolva novamente no predomínio da injustiça. Foram passos, foram raros momentos de felicidade pública neste país tão sufocado por infelicidade.

A história que vivi no Brasil nestes 20 anos nos mostra que as transformações profundas são difíceis, são lentas, percorrem as gerações e, principalmente, que vale a pena lutar por elas.

*Flávia Schilling, ex-presa política brasileira, no Uruguai, durante 7 anos e meio.

http://www.fpa.org.br/conteudo/flavia-schilling

mais....
Apresentação
Bibliografia
Continuidade da Luta
Cronologia
Créditos
Depoimentos
Alexandre Cunha
Amelinha Telles
Ana Guedes
Ana Maria Müller
Antônio Carlos Fon
Apolonio de Carvalho
Arthur José Poerner
Belisário dos Santos Jr.
Carlos MacDowell
Carlos Tibúrcio
Celeste Fon
Consuelo de Castro
D. Paulo Evaristo Arns
Dalmo Dallari
Eduardo Suplicy
Egle Maria Vannuchi Leme
Emiliano José
Flávia Schilling
Flávio Koutzii
Gilney Viana
Hamilton Pereira (Pedro Tierra)
Helena Grecco
Henry Sobel
Jaime Wright
José Dirceu
José Keninger
Joviniano Neto
Judith Kardos Klotzel
Larissa Pelúcio
Laís Wendel Abramo
Luiz Inácio Lula da Silva
Lélia Abramo
Marcelo Santa Cruz de Oliveira
Maria Augusta de Oliveira Capistrano
Maria Dolores Perez Gonzales (Lola)
Maria Liège Santos Rocha
Maria Luiza Fontenele
Maria Stela Moreira Pires e Regina Stela Moreira Pires
Mario Simas
Marília Medalha
Maurício Segall
Mino Carta
Mouzar Benedito
Paulo Schilling
Regina Seabra von der Weid
Renato Consorte
Roberto Freire
Rosalina de Santa Cruz
Ruben Boffino
Sérgio Márcio P. Paschoal
Theodomiro Romeiro dos Santos
Thereza Brandão
Tom Zé
Zilah Wendel Abramo
Documentos da campanha
Galeria de imagens
Gianfrancesco Guarnieri e Vanya Sant´Anna
Homenagens
Leis
Teotônio Vilela
Vítimas

Uma maravilhosa solução!!!!!

O link abaixo é de hoje, do comentário de um dos autores do sensacional livro " FOMOS TODOS MAUS ALUNOS"- Dimenstein/Rubem Alves.

Clique e ouça...

http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/gilberto-dimenstein/2010/03/25/ITAPETININGA-SP-PROMOVE-LEITURA-EM-FAMILIA-PARA-ESTIMULAR-HABITO-DE-LER.htm

Gilberto Dimenstein
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Miles Davis - Fran-Dance [5:51] - Miles Davis: The Columbia Years 1955-1985

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Versão 2010

quarta-feira, 24 de março de 2010

Absolutismo versus liberalismo....

A Teoria Liberal do Poder

“...enquanto subsiste o governo, o legislativo é o poder supremo;
o que deve dar leis a outrem deve necessariamente ser-lhe superior...o
legislativo necessariamente teria que ser supremo, e todos os outros poderes
em membros ou partes qualquer da sociedade dele derivados ou ele subordinados” .
John Locke- Segundo Ensaio sobre o Governo Civil, 1690.

Locke advogou a Teoria da Separação dos Poderes que influência de modo determinante Montesquieu(“O Espírito das Leis”-1748)


ABSOLUTISMO X LIBERALISMO
síntese

ABSOLUTISMO A
Na sua visão antropológica, o Homem nasce um servo, obrigado à obediência, à hierarquia e à ordem. Sua natureza, porém é dada a anarquia e à regressão selvática. O Estado da natureza é o reino da desconfiança e da violência, onde não existe lei ou ela é simplesmente a vontade do mais forte. É um estado de guerra.
LIBERALISMO A
Na antrolopologia liberal, o Homem nasce livre e igual, ainda que em condições materiais adversas . Sua natureza tende à sociabilidade e o convívio racional e pacífico com os demais membros da comunidade. A violência e as guerras são ocasionais, imperando no geral a cordialidade.



ABSOLUTISMO B
Logo somente uma autoridade dotada de poderes extraordinários(o monarca absolutista) é capaz de conduzir a comunidade à paz e à prosperidade . Esse poder pode ter sido advindo de um contrato ou emanado diretamente de Deus. A suposta liberdade natural em que todos os homens nascem foi alienada em favor da autoridade.
LIBERALISMO B
A autoridade que emerge é resultado de um contrato entre governantes e governados, sendo que os poderes do governante são claramente delimitados pela tradição e pela constituição. Se o governante não cumpre a sua parte no contrato, os governados podem socorrer ao direito à rebelião. A razão é que nenhum Homem pode alienar sua liberdade.
ABSOLUTISMO C
Esta autoridade, por sua vez, é divina ou é herança de Adão(visto como o primeiro rei) Seu poder encontra-se exclusivamente limitado pela tradição ou por Deus. Nenhuma assembleia ou parlamento pode impor-lhe limites, porque as origens do poder v~em do mundo transcendente.
LIBERALISMO C
A autoridade é natural e humana; o governante é servidor do povo. Não existe nenhuma prova de que o poder vem de Deus ou dos herdeiros de Adão. Tanto as assembleias como os--parlamentos podem impor-lhes limites

ABSOLUTISMO D
O melhor regime que encara a autoridade é a monarquia, cujo poder é e dever ser absoluto. O poder e a soberania são indivisíveis e fundem-se no monarca: o executivo(os ministros), o legislativo(o parlamento) e o judiciário(os magistrados)devem estar submetidos à vontade do rei.
LIBERALISMO D
O melhor regime político é uma Monarquia Constitucional, onde o poder se encontra dividido entre o executivo( o rei), o legislativo(o parlamento) e um judiciário autÔnomo . O poder encontra-se separado da soberania. A soberania é do povo. O poder é do rei.
ABSOLUTISMO E
Tudo que o indivíduo possui, liberdade ou propriedade, é condicional. Sua existência depende
dos interesses superiores do monarca, que é o único que garante o seu usufruto. O indivíduo está a serviço do estado.
LIBERALISMO E
A liberdade e a propriedade são direitos naturais que antecedem a existência do estado. Por consequência, o estado existe para garantir esses direitos e não para suprimi-los. O estado existe para servir o indivíduo e não este ao estado.
ABSOLUTISMO F
A Religião e a Igreja são auxiliares do monarca e seus subordinados na preservação da paz interna. Por consequência, aceita-se a interferência estatal nos assuntos religiosos para manutenção da harmonia social .
LIBERALISMO F
Estado e Igreja são universos distintos. Um trata das coisas terrenas, outro das coisas sagradas. Seus fins são diversos e devem manter-se separados. Um não deve intervir nos assuntos internos do outro.
ABSOLUTISMO G
Ideologicamente corresponde ou expressa a visão da aristocracia fundiária, da Corte, do Rei e seus ministros, da burocracia real- estatal, do Alto Clero e conta com o consentimento pacífico da população mais conservadora.
LIBERALISMO G
Ideologicamente corresponde à visão das classes médias, dos profissionais liberais, dos artesãos, dos industriais, de comerciantes e mercadores e também da gentry rural


-BILIOGRAFIA: Shilling, Voltaire. As Correntes do Pensamento; da Grécia antiga ao neoliberalismo. SÍNTESE DAS TEORIAS ABSOLUTISMO E LIBERALISMO p.63. Porto Alegre;AGE,1999.

terça-feira, 23 de março de 2010

O mercado X pessoas(sociedade)

Duas faces do mercado Karl Polanyi e Friedrich von Hayek


Karl Polanyi e Friedrich Hayek, dois intelectuais austríacos, nascidos nos finais do século XIX, viveram num circuito cultural e ideológico mais ou menos próximo, tanto em Viena como depois, na década dos anos trinta, em Londres. A obra deles, porém, os dois importantíssimos livros que eles publicaram em 1944, sem que tivessem conhecimento das suas respectivas teses, eram francamente opostos, marcando posições bem definidas quando a visão que eles tinham da história e da importância do mercado na sociedade contemporânea.

Mesma geração :Karl Polanyi, no centro, com seu irmão Michael e o amigo Popper (foto em Viena) “anteriormente à nossa época, nenhuma economia existiu, mesmo em princípio, que fosse controlada por mercados”.

K.Polanyi – A Grande Transformação”, 1944 “o controle econômico tende a paralisar as forças propulsoras da sociedade livre”
F.Hayek _ O Caminho da Servidão, 1944

Se bem que bem mais de dez anos separavam o nascimento de Karl Polanyi do de Friedrich von Hayek, ocorridos em Viena, um em 1886 e outro em 1899, pode-se dizer que ambos fizeram parte da mesma geração daqueles pensadores sociais austríacos que deitaram fama no mundo. Os dois, um de descendência judaica e o outro católico, além de terem a melhor das formações, serviram no exército do império Austro-húngaro durante a Iª Guerra Mundial, experiência da qual guardaram poucas boas lembranças. Enquanto Polanyi freqüentou os grupos radicais, encontrando-se com George Lukács e Karl Mannheim, Hayek logo abandonou suas inclinações de socialista moderado ao ser escolhido para trabalhar com Ludwig von Mises, um dos mais célebres teóricos da chamada Escola Austríaca.:Em Londres e em Vermon London School os Economics, uma das sedes da elite pensante inglesa . Por motivos diversos, eles terminaram por emigrar para a Grã-Bretanha nos anos trinta. Ao tempo em que Polanyi mostrou-se arredio a levar uma vida acadêmica regular, empregando-se como tutor, Hayek logo integrou-se no alto staff da elite pensante da Inglaterra. Quando a London School of Economics, onde ele era conferencista desde 1931, emigrou em 1940 para Cambridge, para escapar das bombas de Hitler, foi John M. Keynes quem abriu-lhe as portas para acomodá-lo. Os americanos, por sua volta, sempre atentos e generosos com os talentos que vagavam pelo mundo, não tardaram em convidar Polanyi para uma estada em Vermon, onde o Bennington College ofereceu-lhe a preciosa tranqüilidade para que ele escrevesse. Enquanto isso, lá na Inglaterra, Hayek também se mobilizava. Em 1944, os dois, sem saberem um do outro, lançaram dois livros seminais para a nossa época: o The Great Transformation ( A Grande Transformação), de Polanyi, e o Road to Serfdom ( O Caminho para a Servidão), de Hayek. Dificilmente dois intelectuais que viviam mais ou menos no mesmo circuito, o austro-anglo-saxão, aspirando mais ou menos o mesmo clima cultural e ideológico chegaram a conclusões tão divergentes.
O moinho satânico : No entender de Polanyi - ao fazer a reconstrução da expansão da economia de mercado na Grã-Bretanha do século XIX -, um novo tipo de sociedade havia emergido, distinta de tudo o que se conhecera até então. Nos sistemas produtivos anteriores à Revolução Industrial, os interesses econômicos eram mínimos, imperando as relações sociais e familiares. Porém, com a expansão do sistema fabril e os altos custos da sua implantação, foi preciso transformar a sociedade por inteiro tornando-a um imenso mercado regido pelo interesse e pelo lucro, sendo o trabalho um negócio como um outro qualquer. Num levantamento detalhado das leis inglesas daquela época (a privatização das terras, a Lei dos Pobres de 1834, a Lei da Reforma de 1831, que deu enorme poder aos empregadores, a Lei do Trigo em 1846, o estimulo a imigração ou a ampliação do sistema prisional), Polanyi mostrou como o estado, a serviço dos empreendedores, mobilizou-se para criar as condições em que a sociedade fosse submetida ao mercado. Não só isso, gerou-se um novo sistema social – a Grande Transformação - onde todos indivíduos tornaram-se “ átomos dispensáveis”, uma engrenagem que era de fato “ uma máquina... para qual o homem estava condenado a servir”. Para Polanyi deixá-la solta, sem maiores impedimentos e regulações, como pregavam os liberais, era excitá-la a ser um moedor de carne ou um “ moinho satânico” , como ele preferiu, destruindo todas as relações sociais.

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/index_cultura.htmhttp://educaterra.terra.com.br/voltaire/index_cultura.htm

Certas permanências insistem....

CERTAS PERMANÊNCIAS insitem em nos cercear à vida. Pessoas de carne osso sentem-se com direitos divinos assegUrados pelo tempo( embora não mais pelas leis)e arrastam multidões ou pequenos séquitos para aliviar o peso das aparentes vestes. Mesmo no liberalismo permanecem regras de diferentes tipos de absolutismo...
EA


A Teoria do Direito Divino dos Reis –


FONTE:VOLTAIRE SHILLING http://educaterra.terra.com.br/voltaire/

No transcorrer do século XVII se fizeram cada vez mais presentes as teorias do Direito Divino dos Reis. Frente aos poderes formidáveis dos barões feudais, da Igreja Católica e os desafios impostos pela Reforma, uma série de pensadores europeus, de inclinação estatocrata, conceberam uma espécie de ‘terceira via’ entre o Império e o Papado. Defenderam uma teoria que afirmasse em caráter definitivo a autoridade e a legitimidade dos monarcas colocando-os acima da nobreza e do clero e dos protestantes.

A soberania do Estado

Em meio a uma França dilacerada pela guerra civil travada entre católicos e huguenotes, das ruínas da Noite de São Bartolomeu, tragédia que ensangüentou Paris em 1572, é que surgiu a obra de Jean Bodin intitulada Six Livres de La République ("Seis livros da República"), publicada em 1576. O grande jurista do parlamento de Paris, defendia integridade da soberania monárquica. De haver a necessidade da total concentração do poder nas mãos de um rei, cuja autoridade – perpétua e ilimitada - não podia ser contestada. O Estado era o ‘pupilo’, o Rei o seu ‘tutor’. A soberania dele não vinha do arcebispo de Reims, dos Doze Pares da França, muito menos do povo, mas diretamente de Deus, exercendo assim ‘ um poder supremo separado das leis’.

Evidentemente que tal disposição teórica abriu caminho para que no século seguinte o conceito de Estado Absolutista assumisse a forma de uma investidura real de Direito Divino.
A longa crise do sistema feudal europeu, no qual o localismo se opunha a centralização, acelerou-se a partir das lutas religiosas provocadas pela Reforma de 1517. Pulsões anárquicas tomavam conta da sociedade sacudida por rebeliões de toda ordem: revolta camponesa na Alemanha, acirramento do ódio teológico entre católicos e protestantes, as Guerras da Liga Católica contra a Liga da Religião Reformada, a revolução puritana na Inglaterra, etc..

Isto contribuiu para o surgimento de um discurso cada vez mais a favor da ordem geral e da necessidade de paz interna que somente poderia ser obtida num regime forte, no qual o rei era tudo e poderia tudo. Somente um monarca poderosíssimo, um ‘ príncipe perfeito’ é que poderia evitar o império da desordem e da dissolução.

No seu ensaio sobre as Lineages of the Absolutist State (Linhagens do Estado Absolutista, 1974), Perry Anderson mostrou como a centralização monárquica atuou para preservar o poder feudal ameaçado pelo vigor crescente da burguesia e de outros agentes dissolventes da velha ordem. O absolutismo foi a máscara política em que as arcaicas prerrogativas feudais se esconderam para sobreviver a era de grandes modificações (crescimento das cidades, expansão comercial seguida do desafio burguês, negócios ultramarinos, etc.)

O fato de ele impor - com a introdução de exércitos permanentes, a criação de sistemas fiscais nacional, a codificação do direito e implementação de princípios do mercado unificado - reformas que pareciam levar ao capitalismo, na verdade faziam parte de um enorme esforço - ainda que por outros meios - de sobrevivência da nobreza feudal.

Na França, o desconcerto provocado pelas oito guerras de religião do século XVI foi superado inicialmente pela Política dos Cardeais (os primeiros-ministros Richelieu e Mazarino, que governaram entre 1628 e 1661) Eles visavam trazer de volta a estabilidade. O manto escarlate dos cardeais é que sedimentou o caminho para Luis XIV posar com a toga de César e a coroa de Alexandre redivivo.

Os ministros do rei tinham contra si os ardores do municipalismo independente (no caso representado pelo parlamento de Paris), e a oposição dos grandes príncipes da França. Gente poderosa que não queria se sujeitar a uma autoridade cada vez mais centrada no trono, fatores que expressamente se manifestaram na revolta da Fronda (1648-1653). Além da permanente ameaça externa à França representada pela dinastia Habsburgo.

Contra o localismo, Richelieu lançou mão dos intendentes (da justiça, da polícia e das finanças), funcionários que atuavam em nome do monarca, formando assim um corpo uniforme com a missão expressa de levar a presença real a qualquer recanto. A missão deles era eliminar ou sufocar as resistências onde elas se manifestavam especialmente as das instituições municipais que se sentiam ofendidas pela presença intromissora dos intendentes.

O discurso justificador que emanou então do poder – especialmente o proferido pelo cardeal Richelieu - era o da Razão de Estado. Em nome da paz social e da segurança do pentágono ( as fronteiras ‘naturais’ da França: o Atlântico, os Pirineus, os Alpes, o Reno e o Mediterrâneo), as vontades privadas e os privilégios nobiliárquicos deviam submeter-se à autoridade do Estado. Mesmo a liberdade de culto alcançada pelos huguenotes pelo Édito de Nantes, de 1598, devia ser posta em questão e no momento oportuno revogada. Ela representava um aberto desafio ao príncipe reinante católico. (*)
(*) Nas diversas teorias sobre a emergência do absolutismo e da teoria do Direito Divino dos Reis salta a divergência entre os autores que asseguram ser ela um ato de legitima defesa monárquico contra a desordem provocada pelos de cima, pelos grandes do reino que se somava à heresia dos protestantes, com a outra que afirma que a verdadeira intenção do absolutismo e da monarquia divinizada era domesticar o campesinato europeu recém egresso da servidão da gleba e que devia ser mantido dócil a qualquer custo.
Origens mais remotas do Direito Divino
A aceitação da Doutrina do Direito Divino por larga parte do povo devia-se à causas psicológicas muito profundas que deitavam raízes nos tempos dos reis bíblicos. Acreditavam que eles operavam milagres. A prática dos reis taumaturgos, isto é, dos reis curandeiros, era muito popular em meio à população francesa na época da Idade Média, havendo então a crença de que os óleos sagrados de Reims, local onde os reis franceses eram coroados, serviam como um bálsamo às feridas dos doentes. Tornou-se inclusive obrigação dos soberanos organizarem cerimônias especiais nos dias festivos para poderem ‘tocar’ os desgraçados, livrando-os assim das tristes chagas que os atormentavam.




O rei Luis IX, o São Luis (rei da França entre 1226 e 1270), parece ter feito deste procedimento um dos seus instrumentos políticos para se autodesignar como Le Justicier Suprême e monarca de direito divino.

Marc Bloch que estudou detalhadamente este fenômeno de ‘cura coletiva’, mostrou como tal prática ajudou a consolidar o prestígio da monarquia aos olhos da multidão (ver “Os reis taumaturgos’). Daí o dito LE ROI TE TOUCHE, DIEU TE GUERIT! (O rei te toca, Deus te cura!)

A teoria do Direito Divino serviu por igual como um poderoso instrumento de transição da política medieval para a política moderna, afirmando a necessidade do trono se libertar da intromissão clerical, impondo o direito do estado ( do rei) contra o direito canônico ( da Igreja).
O Rei Divinizado - projeção tardia dos antigos imperadores romanos - adquiria um estatuto de autonomia frente ao Papado Sagrado e à Aristocracia de Sangue. Enquanto os teocratas do Vaticano defendiam a submissão de todos ao bispo de Roma, na França os estatocratas e teóricos do Direito Divino exigiam o mesmo frente ao seu rei.

Ele era o Grande Magistrado, o monopolizador da soberania, posicionado bem acima de todos, pairando altivo e magnífico sobre o estado e a sociedade, com o compromisso de fazer respeitar as Leis Fundamentais da França. Idêntico ao Deus ex machina, descia dos altos intervindo abertamente nos acontecimentos mais intricados que aparentemente não tinham solução.

Os estatocratas da Teoria do Direito Divino respondiam também com isto às afirmações subversivas difundidas pelos protestantes que anunciavam em todas as partes o direito à rebelião, quando não pregavam abertamente a ‘morte ao tirano’.

Estes defendiam a possibilidade legal de um príncipe convertido ao calvinismo ou ao luteranismo em resistir com violência a um imperador da antiga fé, caso o perseguisse por motivação religiosa, tal como respondera o jurista Gregory Brück a uma consulta de João da Saxônia, príncipe eleitor do Sacro Império, em 1530. Tese que também foi abraçada por Phillip Melanchton, humanista alemão seguidor de Lutero. Segundo a qual ‘às vezes pode ser lícito resistir a um juiz injusto’. (*).

Por isto se entende o dito de John Neville Figgis que afirmou: ‘ Não fosse Lutero jamais poderia ter havido um Luis XIV’.

Todavia não era somente do lado dos reformadores que se dava a desconfiança para com legitimidade da monarquia e a possibilidade de vir a derrubá-la. Na época das Guerras de Religião, por ocasião do surgimento da Liga Católica ou da Santa Liga, fundada em Paris em 1584, seus ideólogos, como Jean Boucher e Jean Prévost, a pretexto de reivindicarem os princípios da ‘soberania popular’, chegaram a propor a abolição do trono e sua substituição por um ditadura teocrática. Teoria subversiva que terminou por engendrar a antimonárquica Jornada das Barricadas, de 12 de maio de 1588 (ver E.Le Roy Ladurie – O Estado Monárquico, p.

O grande debate teórico-político do século XVII deu-se entre as proposições do Direito Divino, vitorioso na França, opostas à Teoria do Contrato Social mencionadas por Hobbes e por Locke que culminou na Gloriosa Revolução de 1689 na Inglaterra. (**)

(*) Sobre o efeito das doutrinas protestantes sobre o pensamento daquela época é importante a obra de Quentin Skinner ‘As fundações do pensamento político moderno’, 1978.

(*) John N. Figgis, o filósofo político, no seu famoso ensaio sobre o Direito Divino (The Divine Right of Kings, 1896), insistiu que aquela concepção surgiu como reação à presença excessiva da Igreja e o enorme corpo de funcionários do clero que agiam como se fosse um estado dentro do estado. Os reis ingleses agiram como nacionalistas, rejeitando o cosmopolitismo católico representando pelo Papado Romano, a quem se negavam a obedecer. Todavia, na França parece que a teoria foi usada mais como uma defesa da monarquia contra os Grandes (particularmente os príncipes que haviam aderido a Fronda, episódio de revolta e desordem que marcou profundamente a infância de Luis XIV)
Os textos básicos do Direito Divino
O primeiro deles é um texto atribuído ao próprio Luis XIV, conhecido como suas ‘Memórias’. Era um recorte de opiniões e reflexões feitas pelo rei ao redor de 1661-8, que foram anotadas por seus funcionários mais próximos. O seu objetivo: deixar um registro da arte de governar para o seu filho, daí ser o resultado conhecido como ‘Instruções para a educação do Delfim’, tendo no final algumas considerações sobre ‘o oficio de rei’.



Luis XIV, desde bem jovem, em seguida a morte do cardeal Mazarino, em 1661, decidira assumir a integridade do poder, não aceitando conviver com nenhum tipo de constrangimento que lhe pudesse advir de um primeiro-ministro forte ( como acontecera com seu pai Luis XIII, um monarca de fachada inteiramente dominado pelo cardeal Richelieu, e mesmo com sua mãe, a regente Ana de Áustria, total dependente do cardeal italiano).

Preocupou-se logo em impor um governo pessoal fazendo do rei um ‘estadista ativo’, projetando a plenitude da sua majestade.

Nas suas instruções deixa bem claro que o ‘rei é o representante de Deus na terra’. O que o move é a salus publica, o interesse e o bem estar do público. Nada, poder ou instituição ( conselho, tribunal ou parlamento), deve lhe barrar a vontade, nem mesmo as ordens reunidas nos Estados Gerais. Por igual, nenhuma potência espiritual poderia privá-lo dos sagrados direitos que recebera do Todo-Poderoso. A única majestade a quem ele devia obediência era ao Senhor dos Céus. Somente sua consciência lhe impunha limites, visto que, como Salomão fora nos tempos bíblicos, ele era o único capaz de arbitrar os conflitos entre a razão e as paixões, pois isto faz parte do ‘métier du roi’.

A psicologia do rei é inteiramente racional, sendo que sua posição está bem acima dos mortais devido às qualidades especiais que possui, visto que o descortino que tem das coisas do mundo é sem paralelo. Ocupando as alturas superiores do Estado ele tudo vê e tudo sabe. O trono tem olhos e ouvidos em todos os lugares: é um poder onisciente e onipresente. O desígnio dele é o reforçamento do Estado, que se identifica inteiramente com o soberano. A glória de um é idêntica a do outro.

Rei e Estado são a mesma coisa, exigindo sempre a obediência por parte dos súditos: un roi, une foi, une loi » (um rei, uma fé, uma lei)

Nas ‘Memórias’ ele foi categórico:

‘o interesse do Estado está em primeiro lugar. Deve-se forçar a própria inclinação e não se colocar em situação de arrependimento, quando se trata de algo importante, o qual podia ser feito melhor, mas que certos interesses particulares haviam desviado dos objetivos que deviam ter-se pela grandeza, pelo bem e poder do Estado.’
O lugar-tenente de Deus
O segundo dos textos canônicos da Teoria do Direito Divino surgiu de uma pessoa bem próxima a Luis XIV: o bispo Jacques-Bénigne Bossuet. Tratou-se de um eminente sermonista que, entre 1670 e 1680, foi preceptor do Delfim, o jovem príncipe filho de Luis, para quem escreveu o famoso tratado Politique tirée des propes paroles de l Escriture Sainte, ‘Política extraída das próprias palavras da Santa Escritura’ (1677-1701)

Não era um ensaio puramente teórico, mas sim prático: a intenção dele era educar o jovem herdeiro rei nos princípios do Absolutismo, sendo que o recurso à Bíblia é puramente retórico. Procurando responder sobre a origem última do estado, Bossuet é categórico: ele advém de um Decreto Divino ao tempo em que corresponde a uma necessidade natural das sociedades de serem governadas.
Todas as naturezas humanas devem estar sujeitas ao rei por meio de um Contrato de Submissão (totalmente oposto ao Contrato Social defendido pelos teóricos ingleses). Impensável, pois, algum súdito alegar direito de resistência ao Lugar-Tenente de Deus como pretendiam os teóricos calvinistas e luteranos. Das tantas formas políticas que existiram ao longo da história a monarquia é, no entender de Bossuet, a única legítima pois redunda em estabilidade. Ninguém pode criticá-la ou opor-se a ela porque ela foi consagrada pela tradição.

Neste momento então, Bossuet estabelece as quatro características da monarquia: é sagrada, é paternal, é absoluta e está em total harmonia com a razão.

Absoluto não é Arbitrário


O bispo teve o cuidado de separar o que ele denominou de gouvernement absolu (governo absoluto), no qual os súditos gozam de eficaz proteção de uma autoridade ligada às tradições e pelo que é ditado da razão, do outro, o gouvernement arbitraire (o governo arbitrário ou tirânico), no qual todo os súditos são escravos sacrificados a um déspota que não se orienta pela lei e pelos costumes, mas sim pelo capricho e pelo ato discricionário.


Ao fundir a teologia com a política, Bossuet foi considerado pelos tratadistas como um pensador superado no seu próprio século, mas isto não impediu que sua influência se projetasse por muito tempo, estendendo-se inclusive para o século XIX adentro servindo como alimento ideológico aos tradicionalistas reacionários da Espanha (primeiro com D.Fernando VII e depois com D.Carlos) e Portugal (o príncipe D. Miguel, apoiado por D.Carlota Joaquina).
Em contraposição ao ‘Leviatã’ de Hobbes, o entendimento da Monarquia Absoluta de Bossuet está longe de aceitar a existência aterradora de um estado-gigante exercendo seu poder uniforme sobre uma massa de indivíduos isolados. O Monarca Absoluto dele é um sol, mais ilumina e atrai do que oprime. É a estrela-maior de uma constelação formada por uma hierarquia de vassalos e súditos ligados pelo respeito comum aos antigos costumes e às instituições estabelecidas, da mesma forma como as leis gravitacionais de Newton explicavam a conformidade do Cosmo num todo equilibrado e harmônico.

Interessa ainda ressaltar a famosa passagem de advertência que Bossuet faz aos príncipes, alertando-os para a sua mortalidade: ‘Vocês são filhos do Todo-Poderoso’, escreveu ele, ‘ é ele quem estabelece vosso poder pelo bem do governo humano. Mas ó deuses de lama e pó, vocês morrem como homens’.

Assim, depois da monarquia francesa ter afastado os ingleses do continente, de ter neutralizado e depois banidos para sempre os huguenotes e conseguido domesticar e enquadrar a nobreza feudal, ela estava pronta para assumir ares divinos, encontrando na pessoa de Luis XIV a sua melhor personificação.

A nobre linhagem da monarquia francesa
Bossuet fez mais ainda. Num ensaio anterior ao Politique, intitulado Discours sur l´Histoire Universelle (Discurso sobre a História Universal, 1678-1681) discorre sobre as várias etapas vencidas pela história desde os tempos de Adão até Carlos Magno, associando o reino de Luis XIV a uma linhagem de eventos extraordinários que marcaram a humanidade desde a Criação.

É um enorme afresco que partindo do primeiro homem passa por Noé e o dilúvio, por Abraão, Moisés, pela queda de Tróia, pela fundação do Templo por Salomão, pela fundação de Roma por Rômulo, por Ciro e a reconstrução do Templo de Jerusalém, pela vitória definitiva de Cipião sobre Cartago, pelo nascimento de Jesus Cristo, pela adesão de Constantino ao cristianismo e, por último, culmina no estabelecimento de um novo império por parte de Carlos Magno.

A monarquia francesa dos Bourbon é, por conseguinte, a herdeira legitima e estágio derradeiro desta gigantesca epopéia que remonta aos primeiros momentos da humanidade e aos patriarcas fundadores da sociedade, sendo que a França - produto direto de patrocinadores eméritos e daquele grande conquistador, tendo igual valor aos da antiguidade - tem como missão ‘superá-los a todos em piedade, em sabedoria e na justiça’. (*)
(*) Certamente foi esta identificação de Luis XIV com os feitos épicos dos príncipes do passado, exaltada por Bossuet, quem inspirou o pintor Charles Le Brun a compor os magníficos painéis de Versalhes que explicitamente fazem a associação das campanhas militares do Rei-Sol com as façanhas dos conquistadores antigos.

O Rei-Máquina
Para abastecer as 50 fontes, os canais e mais de 600 chafarizes espalhados pelos jardins de Versalhes, foi preciso conceber um sistema especial de irrigação e abastecimento de água. O projeto do Marly-la-machine foi então levado a efeito por obra do arquiteto Jules Hardouin Mansart ( que continuou conduzindo Versalhes depois da morte do arquiteto Le Vau) e do pintor Charles le Brun que, entre 1682 e 1687, construíram um engenhoso aparelho de sucção de água colocado à beira do Rio Sena. Dali ele bombeava o necessário colina acima para um conjunto de reservatórios de onde a água, aproveitando-se das leis gravitacionais, tomava o caminho dos jardins.

Inspirando-se naquele perfeito maquinismo é que Jean-Marie Apostolidès, professor em Harvard, escreveu o ensaio Le roi-machine (O rei-máquina,1993) analisando a estruturação do poder estatal de Luis XIV. Do mesmo modo que o engenho de Marly-la-machine regava as árvores e as plantas e fazia jorrar tudo em Versalhes, assim os ideólogos do Direito Divino entendiam a função do monarca. Dele era a força que provia o reino, inundando-o com a prosperidade e o bem estar geral.

Esta simetria do Estado Monárquico com uma máquina perfeita e com a racionalidade em geral, por igual foi decorrente de um século que se deixou fascinar pelos novos engenhos que brotavam em todas as partes. Não foi sem motivos que os dois maiores pensadores da França dedicaram-se à matemática (Descartes) e até ao invento da máquina de calcular (Pascal): era o espírito do tempo.

Bibliografia

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