sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A ARTE DE NENHUM LUGAR

Enchi um balde de lágrimas com o ALÊ SOUTO em Furnas... Nós que vencemos qualquer coisa!!!

Friday, July 18, 2008

A arte de nenhum lugar
Alguns artistas plásticos produzem hoje a arte que não quer dizer. Já o alfabeto visual disponível encontra inumeráveis discursos justapostos, explicando quase tudo sobre o que a arte quer dizer. Para Roger L. Taylor, autor do livro Arte, Inimiga do Povo, da Conrad : "(...)a arte não passa de uma grande farsa, um jogo de cena das classes dominantes para vender seu estilo de vida como algo superior e elevado". Para apimentar mais ainda o cenário, alguns medalhões da crítica de arte chegam a rufar os tambores vaticinando o que não pode ser arte. Podemos, então, num exercício partilhado realizar uma idéia, que faz parte de um processo de classificação. Uma idéia de que o Alê Souto, nesse exato segundo, está produzindo a arte de nenhum lugar.
Essa ARTE é a expressão de um tempo, que é consideravelmente longo. O tempo dessa ARTE gerou artistas revolucionários(salve Basquiat!), inconformados e talentosos, capazes de mudar a cena dos ambientes públicos. Sem criar territorialidade, ou querendo a posse do pedaço, eles continuam conquistando o público por onde passam através das gerações. Usam a materialidade possível e a plena criatividade para, enfim, chegar as galerias e arrastar o grande público. Essa é a arte, ou a parte dela, a qual estamos inseridos à paisagem caótica, que compõe a expressão desse artista carioca, nascido em Realengo. Estivemos juntos numa ousada coletiva por essas bandas, a qual fui curador, em 2004, que recebeu um excelente público composto por estudantes. Um adendo pessoal: os riscos que corremos na ocasião valeram os muitos anos que dediquei com amor a produção cultural universitária. Não recuaria um só passo ao lado do meu camarada, meu irmão. Ele também não mudou, só de nome.
Com a série Desmanche, que continua deixando ecos por sua consistência, o artista utilizou o papelão, material que abriga o miserável das calçadas, e que pode embalar carros e computadores de última geração, que servem de base para as linhas vermelhas desdobrarem geometrias de passagem. "A minha relação com o objeto se dá através da observação"-diz. O tempo e o espaço, a precariedade e a opulência, agem numa teia de sentidos contraditórios. O artista quer levar a realidade para além do espetáculo. Acredito, seja, uma reflexão do olhar fora da hegemonia, da aceitação, do embuste, do mercadológico.
O que o faz especial, especificamente, é o fato dele não ter fechado os olhos para a poesia. A casualidade que ele captura, o efêmero em movimento, é deixado livre. Para isso, o artista cita Santo Agostinho, " a alma fabrica um outro objeto em confronto com o objeto físico". Essencialmente, ocorre um discurso que se instala, é dercartado , é substituído por outro, que toma o espaço, ou melhor se apropria dele sem querer fazê-lo privado. Vai criando um vínculo efêmero do sentido que será também desmanchado.
O que ele está produzindo agora, nos traz um outro tema: T E M P O R Á R I O. O tempo... Mas não somente, o tempo, como o elemento que muda e transforma as várias horas do dia de todos. O tempo, conforme se apresenta no instante concebido pelo artista. Esse tempo, com os elementos presentes nele observados, de percepção poética. Naquilo(objeto) que o artista concebe observando, ou melhor, percebendo e nos convidando a perceber na hora H. Via percepção, que é porta para todas as coisas. Ela está disponível, outra vez. Nós, que a perdemos diarimente através de revoluções tecnológicas concecutivas, que aceleram as nossas mentes e nos distraindo-traindo. Podemos, então, aproveitar a chance que o artista está propondo. T e m p o r a r i a m e n te, um breque. Fora da rede-reboque do capitalismo, de velocidade e cinismo de sempre, instântaneo e perfeitinho.