quarta-feira, 17 de junho de 2009

WILSON MARTINS SALVA DOM QUIXOTE DO VEXAME

VIVA O CAVALEIRO COMBATENTE DAS SOMBRAS DA IGNORâNCIA


Poesia, é o que diz o livro com as pinturas do ROMANELLI,
(a mão em casa para quem precisar)
ROMNANELLI, tem vários "DOM QUIXOTES" que representam a expressão da atualidade.



Bom... para começar sempre admirei o personagem de Cervantes, o tal Quixote. Muito por ser ele um andante. Estar em movimento é uma das maiores virtudes do personagem e de qualquer um outro "PERSONAGEM HUMANO".

As vários outras qualidades humanas do personagem que devem ser analisadas por quem entrar em contato com o clássico. De minha parte fico com a idéia da amizade, romantismo, lealdade, coragem, "a poesia em movimento", DE TODAS ESSAS situações que Cervantes cria com Dom Quixote e a partir dele e de Sancho.

Outro dia me vi atravessado por uma idéia relacionada a obra. Dizia JOÃO, que fique assim o nome, professor de história, que pedia que os seus alunos tomassem contato com obra, recomendando a escola(mui tradicionalmente), que indicasse o livro para compra e trabalho: "por ele representar a fase do fim do feudalismo e início do renascimento e que "Cervantes, afinal, ridicularizava, através de um personagem amalucado, a cavalaria, para demonstrar sua decadência e fim do feudalismo".

BOM...

Oriundo do tempo do meu velho pai, que completou 79, segunda passada, ele que sempre dizia e anda esquecido da expressão, incorretíssima, mas de certa forma cavalaresca, de que "quando um burro fala o outro abaixa a orelha", ruminei um bom tempo a estória do JOÃO. Um cara inteligente, generoso, amante do trabalho que realiza, portanto, sujeito a falha como eu e meu pai. JOÃO, CASO VOCÊ SE RECONHEÇA, liga não, viu? Estamos dialogando com a vida. A vida é ficção. Sou zen budista e sigo este princípio, sem fim. Os exemplos servem de sinal, o diálogo, a correção de rumo e, estão sempre em movimento, como, alías, Quixote e seu amigo Sancho. Nada deve ter muita importância. Somos todos vítimas das nossas "certezas", que são flexas no atiradas no ar pelo arqueiro dentro da nossa mente inquieta.


Quando "
eu"
tinha alunos, (tinha mesmo?!) socraticamente desafiava-os a duvidarem sempre de mim. Nós, professores de história, dos livros didáticos, das metas, sem recursos para viajar, fazer cursos, comprar livros, engessados por grades curriculares e desistímulos de todos os lados, temos muitas situações para dar conta. Além, desta, de andar buscando, pesquisando, dando sorte ao tropeçar em algo relevante publicado na imprensa. Imprensa, ESSE prenssadão que a gente engole todo dia e que de vez em quando vem bom COM ALGUM MOLHO.


REPRODUZI NA ÍNTEGRA catamilhografando PARA O BEM GERAL o artigo de ouro abaixo.

Saudações Históricas!
Eduardo

OS DOIS CERVANTES-
WILSON MARTINS(artigo na íntegra catomilhografado
por esta besta que vos abaixa a orelha e copia para maiores esclarecimentos)


NÃO SOMOS UM PAÍS de cervanistas, tomando ainda mais excepcionais(nos dois sentidos da palavra) um livro como a Viagem ao Mundo de Dom Quixote(1950), de Josué Montello, o ensaio de Ivan Junqueira com que se abre Cinzas do Espólio(Rio: Record, 2009). O primeiro foi escrito provavelmente para concorrer ao prêmio instituído em 1947 pelos serviços culturais da Embaixada da Espanha para o melhor artigo jornalístico daquele ano nas comemorações do quarto centenário de Cervantes. Também aspirei essa distinção(havia manhãs, havia jardins naquele tempo!)com o "Estudo sobre Cervantes", publicado no O Jornal, do Rio, a 7 de setembro de 1947.

A Comissão julgadora, de que fazia parte e na qual foi certamamente voz preponderante a poetisa Cecília Meireles, concluiu,entretanto, que nenhum dos trabalhos aparecidos merecia a honrosa distinção, frustrando-se com esse veredito extremamente severo uma das raras oportunidades surgidas entre nós para despertar o interese pelo tema e, com isso, desenvolver em noso país os estudos cervantinos. A leitura do ensaio montelliano mais de meio século depois permite alguma dúvida, se não sobre a competência, pelo menos sobre a isenção da comissão julgadora, fato, aliás, corriqueiro na atribuição de prêmios literários. Seja como for, Josué Montello escreveu sobre Quixote um ensaio não apenas informado sobre a abundante bibliografia do tema, ms comparável, em qualidade e finura de interpretação, ao que nele existe de melhor, sem excluir, claro está, os especialistas espanhóis mais destacados.


De minha parte, observei, àquela altura, nas primeiras linha do artigo de 1947, que 'quem tenha lido somente El ingenioso hidalgo Dom Quixote de la Mancha, e se esse mal-afortunado leitor conhecer, além de Quixote, apenas os estremezes e trabalhos satíricos do autor de Galatéa, pode-se dizer que conhece apanas uma face, talvez a menos fiel, do genial escritor espanhol, ainda que a sua verdadeira personalidade esteja aparecendo a todo momento ao olhos menos distraídos". De fato, pode-se pensar a exegese cervantina repousa sobre o equívoco colossal que é emcarar o Quixote única obra "autêntica" de Cervantes, todos os demais textos e, em particular, as novelas exemplares, como trabalhos de circunstância, claramente secundários. Assim, por exemplo, ao organizar por volumes o vato material do 1° Congresso Internacional sobre Cervantes, Manuel Criado do Val dividiu-os em duas partes, uma intitulada "Cervantes y sua obras menores"(comédias, entremezes, as Novelas exemplares etc.) e a outra consagrada exclusivamente o Quixote(Cervantes su obra y su mundo. Madrid. EDI-6,1981).

Há , contudo, quem afirme, lembra Josué Montello a esse propósito, que o próprio Quixote foi inicialmente concebido como uma novela exemplar, o que se comprova, entre outros indícios, pelo aparecimento tardio de Sacho Pança. Além disso, e ao contrário do que se diz, Cernantes não costumava combater os livros de cavalaria, mas o maus livros de Cavalaria, o que é diferente: o Quixote- novela exemplar que originalmente imaginou destinava-se a ser, não o antilivro da cavalaria,mas, ao contrário, o superlivro da cavalaria, passo indispensável para recuperar a Idade de Ouro cujo desaparecimento lamenta em diversas passagens. O mesmo ocorre com respeito às novelas pastoris, que ele, muito significativamente, também tentou reescrever no plano de alta qualidade literária, comprometida pela subliteratura que a espécie havia provocado: "Aceita a tese de que Dom Quixote, nas suas origens, para uma novela exemplar, que se distendeu após a criação providencial de Sancho Pança, atentemos agora, mais explicitamente, na observação de que a narrativa pouco a pouco se orienta no sentido de alcançar, no mesmo período de burla, tanto as obras de cavalaria como as novelas pastoris"(Josué Montello).


Cervantes, no fundo,- e esse é o seu drama-não queia ser Cervantes, mas Lope de Vega: é evidente e inegável o seu despeito de ficcionista infeliz e ignorado contra o comediógrafo de sucesso, com quem tentou canhestramente rivalizar, o que é significativo. As novelas de cavalaria, contra as quais a crítica supôs que Cervantes escrevia, já havia desaparecido há cerca de duzentos anos: não havia mais motivo para tentar ridicularizá-las. A parecendo em 1605, o Quixote foi a épica burlesca, mas nostágica do Império perdido, assim como, Os Lusíadas haviam sido, em 1552, a épica heróica do império que se desintegrava.