segunda-feira, 6 de junho de 2011

TROPEÇO NA HISTÓRIA

segunda-feira, 6 de junho de 2011

** Tropeço na História


Coluna de Miriam Leitão, no Globo de ontem (05/06), abordando o tema ESCRAVIDÃO. Recomendo a leitura com atenção:
COLUNA NO GLOBO


Tropeço na História


Foi no antigo Cais do Valongo, perto das pedras que foram descobertas recentemente nas escavações para a recuperação do Centro do Rio, a homenagem a Abdias Nascimento, sete dias após a sua morte. No Valongo os escravos desembarcavam e eram depositados nos armazéns que ficavam na atual Rua Camerino para serem pesados, preparados e vendidos.
O lugar impõe respeito. É impossível não sentir o peso dos dramas vividos ali. Que a cidade possa guardar bem os pontos que estavam encobertos pela nossa dificuldade de olhar o passado com sinceridade e reflexão. Lá, líderes de religiões diferentes misturaram palavras e evocações, junto com as de autoridades como o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa.
O ministro chegou com bengala e sinais de que seu problema de coluna se agrava. Avisou que enfrentará a limitação o mais breve possível. Que consiga. Misturado aos amigos e admiradores de Abdias foi chamado para falar. O ministro disse que Abdias era único. De fato, é difícil pensar em substituto. Aos 97 anos ele carregava a força da coerência com que combateu o racismo e o dom de unir pessoas com pensamentos diferentes. Abdias trafegava por tantas áreas da cultura e do pensamento que é difícil defini-lo: ele foi jornalista, autor de teatro, pensador, cineasta, político, militante da causa negra.
O cais do Valongo fala por si, e a dificuldade de vê-lo, também. As pedras que reapareceram nas escavações foram encontradas por acaso. O mesmo acaso que reencontrou o cemitério dos pretos novos na Gamboa, onde eram jogados os corpos ou moribundos que não tinham suportado a longa e dolorosa travessia do mar. O que intriga é esse tropeço na História. Ela deveria ser buscada e reverenciada como parte do entendimento do Brasil sobre si mesmo e não ter que submergir aos pedaços numa obra no porto, ou numa reforma de uma casa particular como a que permitiu o encontro de pedaços do cemitério. Foram 350 anos os que o país viveu sob a escravidão. Essa iniquidade ocupou a maior parte dos 511 anos desde a chegada dos portugueses. Felizmente estuda-se mais hoje esse período que foi soterrado de propósito. Não ver é mais confortável, mas o melhor é sempre admitir, entender e superar.
Anoitecia no sítio arqueológico do Valongo e aquele grupo pequeno de pessoas tentava ouvir as palavras de homenagem a Abdias no meio do barulho do rush do Centro. Elisa Larkin, a viúva, havia me dito: aqui não era o melhor lugar? Era.
Desde que Mary Karasch, a historiadora americana, escreveu "A vida dos Escravos no Rio de Janeiro (1808-1850)", um livro seminal, todos os que se interessam pelo tema, e os jovens historiadores, aprenderam que há vários caminhos que levam às informações sobre o que se passou no Centro velho do Rio. A cidade era porta de entrada de escravos que ficavam nas cidades e dos que iam trabalhar nas plantações de café e cana-de-açúcar ou para as minas de Minas Gerais. O Valongo era um cais de desembarque e o maior mercado de escravos do Brasil. Até 1830 eles eram desembarcados à luz do dia e colocados nos depósitos para ganhar algum peso para serem vendidos. Depois de 1830, com o tráfico proibido para inglês ver, eles eram tirados à noite furtivamente dos navios e os depósitos deixaram de ter janela, o que piorou muito. O cálculo de Karasch é que um milhão de africanos entraram pelo Rio.
O que a cidade deve fazer com esse pedaço redescoberto do cais é preservá-lo para contar essa história. Há hoje estudos valiosos. Há relatos de viajantes que se impressionavam pelas cenas descritas. Um deles, C. Brand, foi ao mercado do Valongo em 1827 e descreve assim o que viu: "A primeira loja de carne em que entramos continha cerca de 300 crianças de ambos os sexos: o mais velho poderia ter 12 ou 13 anos e o mais novo não mais de seis ou sete anos."
Durante muito tempo o Brasil não estudou essa página da História porque criou-se o mito de que Rui Barbosa teria queimado todos os documentos. Como se sabe hoje, ele queimou os documentos tributários diante da enorme pressão dos escravistas para serem indenizados. Há inúmeras outras pistas pelas quais os historiadores estão escavando esse passado. Karasch descobriu muitas informações nos registros da Santa Casa de Misericórdia. Os donos de escravos mandavam para lá os que estavam morrendo para não ter despesa com o funeral. A Santa Casa registrava idade, de onde tinham vindo, causa da morte. Morriam principalmente de tuberculose. Há outras fontes como os arquivos Nacional, da Cidade e do Itamaraty, registros policiais, comerciais, os jornais da época, os relatos de viajantes. A inglesa Maria Graham, em 1821, encantou-se com a beleza do Rio na chegada à baía: "A cena mais encantadora que a imaginação pode conceber." No Valongo, relata que fez um gesto de carinho aos jovens negros e eles retribuíram com sorrisos. Há inúmeros relatos dos viajantes, preciosas reportagens. A História vai retornando.
De manhã eu tinha ido à Casa de Rui Barbosa. Lá andei com temor reverencial pela multidão de livros organizados e li com admiração as frases de uma exposição. Numa delas, Rui indeferia o pedido em 1890 dos ex-donos de escravos de que se criasse um banco para indenizá-los pelo prejuízo com a abolição. "Mais justo seria e melhor se consultaria o sentimento nacional se se pudesse descobrir meio de indenizar os ex-escravos" (veja em meu blog o despacho do Rui). O século XIX passeava na minha cabeça enquanto eu vi a noite chegar olhando as pedras do Valongo.


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GUERRA OS SETE ANOS

Guerra dos Sete Anos

Guerra dos Sete Anos: O conflito entre as grandes monarquias européias que marcou o fim da Idade Moderna.

A Guerra dos Sete anos foi um conflito travado entre diversas monarquias nacionais européias em torno do controle de regiões de exploração colonial. Um dos lados dessa guerra era liderado pela França que, com o apoio militar dos austríacos, procurava rivalizar contra a supremacia exercida pelos britânicos nas regiões da América do Norte e na Índia. Além disso, esse mesmo conflito também foi marcado pelas disputas hegemônicas entre os Estados do antigo Sacro-Império Germânico.

Em um primeiro momento desse conflito, os exércitos prussianos realizaram uma aliança militar com a Inglaterra, que fazia franca oposição ao apoio que os austríacos tinham por parte das forças francesas. Ao mesmo tempo em que esses exércitos se enfrentavam dentro da Europa, França e Inglaterra promoviam conflitos paralelos pelo controle de regiões da América do Norte, Índias Ocidentais, Índia, África, Mar Mediterrâneo, Canadá e Caribe.

A fase colonial da guerra teve início com a invasão francesa à ilha britânica de Minorca, ocorrida em 1756. As ações tomadas pelos franceses foram contra-atacadas pelas poderosas tropas inglesas, que realizaram o bloqueio britânico nas regiões de Toulon e Brest. Depois de sucessivas vitórias, os ingleses conquistaram as regiões de Quebéc, Montreal, Cabo Bretão e Grandes Lagos. Na África, conseguiram derrubar o controle francês em Senegal e Gâmbia.

A derrota dos franceses foi completada com a entrada da Espanha, que conseguiu tomar a região da Louisiana do Império Colonial Francês. A vitória britânica nesse conflito acabou realizando uma grande transformação no cenário colonial norte-americano. Inicialmente, os britânicos passaram a enrijecer suas relações com os colonos norte-americanos com a cobrança de impostos e a limitação na exploração das terras conquistadas.

Além disso, o acordo empreendido entre as poderosas nações envolvidas nesse conflito garantiu à Rússia e à Prússia o controle político sobre algumas regiões do Velho Continente. Em contrapartida, O Império Austríaco perdeu sua posição hegemônica entre os fragmentados Estados Germânicos tendo os prussianos enquanto concorrentes. Entre todas as nações envolvidas, a França foi contundentemente afetada com a entrega de várias áreas coloniais para os ingleses.

Com o fim do conflito, a Inglaterra saiu como grande vitoriosa, mas os custos gerados pela guerra enfraqueceram a sua economia. Dessa forma, a Coroa Inglesa decidiu impor diversos tributos para os colonos norte-americanos com o claro objetivo de ressarcir o prejuízo econômico produzido pela guerra. Entretanto, essa medida tencionou as relações com os colonos norte-americanos que, pouco tempo depois, lutaram pelo fim da dominação colonial britânica, dando início às Guerras de Independência dos EUA.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola