segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

UTOPIA TODO DIA

..."a vida é sonho"-Pedro Calderon de La Barca

AMIGOS contemporâneos...Um novo ano. Vivenciamos este tempo que passa junto conosco sempre buscando melhorar as coisas, contribuindo com algumas das nossas ações como educadores e cidadãos ao lado da nossa escolha como historiadores, jornalistas, sociólogos.....Mas acima de tudo seguimos fazendo amigos, revendo velhos camaradas e recriando formas de encontrar de fato pessoas com quem dialogar de forma amigável, aberta e sem grandes sedimentações redutoras do conhecimento e da vida. AQUELAS pessoas que possam rir de si mesmas e duvidar das ideologias sem maiores consequências são sempre bem vindas em qualquer que seja o tempo!PENSO que isso que realmente tem algum valor na amizade. É justamente a possiblidade de conservar a utopia, o que realmente importa, também na amizade através do tempo. As outras questões parecem não existir diante desta concretude inabalável que torna tudo matéria de sonho, de encontros. Alguém JÁ DISSE QUE A VIDA É SONHO.Vejam QUE NÃO EXISTE REGIME POLÍTICO QUE SOBREVIVA ao homem que sonha que a sua existência trancende a realidade dura dos sistemas, que ele pode com as palavras, articuladamente, destruir o castelo de cartas de qualquer poder.O homem com a sua poesia vence as demandas das conjunturas e transforma aquilo que desejar profundamente. Alguém duvida? Mas esse homem só é capaz de fazer isso com outros poetas. Só, completamente só, com as palavras ou imagens nada pode fazer. Nem mesmo é capaz de sobreviver sem trocar olhares, abraços e de dar novas pigmentações a esperança na arte que é viver em grupo! Estou cada vez mais convencido de que nada sei de história sem historiadores para dialogar. Estou mesmo convencido ainda de que nada saberei da vida se ela estiver em mãos que não acenam saídas para a humanidade em qualquer que seja o ofício! O ego SÓ PODE mesmo sucumbir diante da maravilhosa forma do ser ridículo, que dimensiona o conhecimento ainda por vir para ser usado coletivamente a serviço da quebra das mistificações e de versões da verdade que serão superadas, por exemplo... Bom, amigos, desejo-lhes que conservem a utopia. POIS ela não é uma ciência e não pretende explicar nada. Somente sobreviver nos corações e mentes humanas, caso seja mesmo impossível! SENÃO...não há a mínima graça! SEMPRE ao lado da paz e do amor como formas de inteligência capazes de fazer prosperar a UTOPIA. EA
p.s; Com essa peça, Pedro Calderón de La Barca (1600-1681) entronizou definitivamente o Barroco no teatro espanhol, O teatro, aliás, foi a maior expressão do Barroco, pois nele se potencializa a idéia de que se vive um sonho que vai desfazer-se no final. Ou, talvez, a ilusão perdure, e a dúvida não se desfaça: Eu sou eu assistindo ao teatro, ou estou no palco pensando que o teatro é a vida? A peça está fortemente carregada pelo sentido dramático do homem seiscentista, que descobre não ser o centro do universo, e que toma consciência de que tudo é efêmero e vão, o tempo é fugaz, as coisas mutáveis, nada perdura – e, ao mesmo tempo, ele se sente profundamente apegado às riquezas do mundo e aos prazeres da vida. O protagonista da história é o príncipe Segismundo, que, desde o nascimento foi condenado a um terrível destino: encerrado pelo rei seu pai numa torre, ali viveu até a juventude, conhecendo apenas um ser humano, o seu carcereiro. A essas alturas da história, o rei (Basílio) percebe que talvez tenha cometido um erro com tal atitude e resolve tirar o filho da prisão e testá-lo, para ver se ele merece ser seu herdeiro. Tem medo, porém, de que o desventurado príncipe demonstre má índole e incapacidade de governar – caso em que terá que retornar à prisão, e esta lhe seria mais dolorosa do que jamais fora, depois de ter vivido na suntuosidade e conforto do palácio real. Para que seu filho não sofra essa desilusão, Basílio resolve usar um estratagema: o carcereiro deverá ministrar a Segismundo uma droga muito forte que o fará dormir profundamente e, depois, acordar como um príncipe em um luxuoso quarto no palácio de seu pai. Seria um sonho? É espantoso o que admiro... / é tanto que já não creio... / Eu, em telas e brocados, / eu, cercado de criados, / um leito de sedas, / gente pronta a me vestir... / Não sonho? Ou sim? / Que houve enquanto eu dormia? E aqui vem a idéia de poder e dissimulação do teatro (e da vida?): Não quero o poder fingido, não quero pompas fantásticas, ilusões inúteis. Já vos conheço, e sei que é o que acontece quando sonham. Mas para mim acabaram as ilusões; estou acordado, sei muito bem que a vida é sonho. Segismundo, depois de ter experimentado as honrarias e pompas no palácio de seu pai, é levado novamente a dormir sob o efeito de uma poção, e acorda outra vez na masmorra em que passara toda a sua vida. Esse retorno à desgraçada condição de encarcerado se deve ao fato de ter cometido ações altamente condenáveis ao experimentar o poder, na posição de príncipe herdeiro do trono. Diante da infelicidade do príncipe, o carcereiro, Clotaldo, o convence de que o palácio, as belas roupas, os cortesãos, as honrarias, enfim, tudo não passou de um sonho. Acrescenta ainda que, mesmo em sonhos, ele deveria ter honrado seu pai e praticado boas ações. De acordo com a moral barroca, Calderón de La Barca mostra que, sonho ou realidade, a vida é efêmera (passa muito rapidamente), por isso o ser humano deve se voltar para o eterno, e que nada se perde em praticar o bem. Segismundo: É certo; então reprimamos / esta fera condição / esta fúria, esta ambição, / pois pode ser que sonhemos; / e o faremos, pois estamos / em um mundo tão singular / que o viver só é sonhar / e a vida ao fim nos imponha / que o homem que vive, sonha / o que é, até despertar. Tradução de Renata Pallotini e a publicação da Editora Scritta, Rio de Janeiro, 1992.