segunda-feira, 6 de julho de 2009

RESENHA Chega lá!

Com os meus agradecimentos aos colegas, amigos e ai vai uma boa notícia! Esta resenha foi muito bem obrigado na avaliação !
Uma colega me pediu para ler. Republico-a para facilitar o achado.
EDU





UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS GERAIS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU EM HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA



Eduardo Pimentel Affonso


TURMA:K


TRABALHO PARCIAL Nº1


TOTA, Antonio Pedro. Imperialismo Sedutor: a americanização do Brasil, na época da segunda gerra. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.



Niterói
2009






O Magnetismo Sedutor da Boa Vizinhança abaixo da linha do equador, ou: - do é que eles tanto riem?...pergunta de boa juntura Frankliana, quem sabe, para o futuro aprofundamento dos elementos de uma marcante imagem.


Eduardo Pimentel Affonso



TOTA, Antonio Pedro. Imperialismo Sedutor: a americanização do Brasil, na época da segunda gerra. São Paulo, Companhia das Letras,2000.



Ainda antes de cruzar o primeiro parágrafo do fundamental trabalho de pesquisa de Pedro Paulo TOTA, a intrigante imagem da capa do livro, O Imperialismo Sedutor, destaca uma pintura reproduzida de uma foto durante uma visita em Natal(1943). A imagem forma um enigma, que salta o olhar atento para uma reflexão duradoura. Ela está fundamentada num marco histórico de valor inegável. A legenda da imagem, localizada nos anexos iconográficos do livro, descreve: “Roosevelt, Vargas e militares americanos e brasileiros na base americana de Natal, conhecida como Paramirim Field. (...)Neste encontro negociou-se a participação do Brasil na guerra.”

O velho e surrado bordão, “uma imagem vale mais do que mil palavras”, que em parte alguma serve à história(sem a devida investigação), deve, entretanto, ser utilizado como uma bela provocação estética. TOTA serve um prato cheio para condimentar análises: dos elementos que constituem poderosamente uma imagem. Não sendo esta uma imagem qualquer(exibida simplesmente para vender um livro, embora não exista pecado algum em atrair o leitor), ela na verdade, deve corresponder a significados que TOTA introduz no livro, que pode ser, por exemplo, um convite à beira do Atlântico para um banquete de perguntas indigestas que não calam diante do tempo.

Um daqueles peixes grandes expostos a mesa, que leva-nos a duvidar num primeiro olhar, se serve ou não para uma ceia muito aguardada, “desjejum desenvolvimentista” para saciar o apetite de um gigante “despertado” nos anos 30 por VARGAS. O gigante ganhara ainda mais interesse para o Tio Sam, dez anos após a revolução, com seu apelo além fronteiras para lutar a guerra lado a lado. “I want you for U.S. army”! Apelo de amizade, gesto maturado por Roosevelt, da filosofia prática(A Política da Boa Vizinhança),de Benjamim Franklin, que dita: “Quando se pretende fazer uma boa mesa e os extremos das tábuas não se adaptam bem uns aos outros, compete ao artífice tirar um pouco de cada uma e fazer uma boa juntura”(The Story of American Philosophy, 1960,p.37). TOTA diz ser inegável a virada cultural com a guerra.

Perguntas de um alinhamento, “mesa em pé”, que poderiam ser as seguintes em relação a foto(pintura), reflexos da sua permanência futuro afora: -Quem são esses homens vestidos poderosamente de branco? -Porque as posições deles estão trocadas? -A quem interessava divulgar este ícone? -Quem a produziu? -Em que contexto ela foi gerada? Uma mensagem de forte poder interrogativo, como algo que não passa estômago adentro, parece pesar mais ainda:- Do que Roosevelt e Vargas, ladeados por staff militar, tanto riem? Com A Política da Boa Vizinhança, Franklin aponta ainda: “Se não tens um temperamento afável, mostra que és afável, é possível que a aparência se transforme em realidade”.(The Story of American Philosophy, 1960,idem).

Este é o primeiro ponto positivo de TOTA. Já de cara instigar-nos a não engolir o peixe sem antes observar as zonas espinhosas. O pesquisador, naturalmente, relacionado com as intenções editoriais de divulgar bem o seu livro, encaminha-nos para um mergulho numa impressionante construção de relações. Relações baseadas entre uma grande democracia liberal, com um Estado nada liberal banhado pelo Atlântico sul maravilha(fazer se encaixar, lembra?) É preciso fazer com toda propriedade eco a apresentação do livro por Mattehew Shihirtis. "O Imperialismo Sedutor é uma obra inovadora de como opera do imperialismo".-diz ele. E é mesmo! Uma intensa ponte aérea se deu início, mas sem dar em conta o intercâmbio científico.

Na mesma trilha de análise do imperialismo ianque atuante na região nesse tempo de guerra, “imperialismo de espírito de colaboração elevado”, mas nem tanto, está o bom trabalho de duas décadas antes, de Gerson MOURA,- Tio Sam chega ao Brasil, Editora Brasiliense, São Paulo, 1984. A curiosidade é que Antonio Pedro TOTA, autor do excelente trabalho com o Imperialismo Sedutor, ampliou o tema com anexos iconográficos, pesquisas dentro e fora do país, fazendo um livro de fácil divulgação histórica e compreensão(evoé!), como o boníssimo compacto livro de MOURA.

Mais um ponto! Alguém que não descreve, descreve, descreve....e ainda é compreensível! Faz a gente, enquanto lê, querer ouvir, por exemplo: Carmem Miranda, o epsódio do Cassino da Urca é analisado por TOTA, (“disseram que voltei americanizada”), seguir, Villa Lobos, Dick Farney, criticado por José Ramos Tinhorão, como um arremedo americanista. Ianquismo, influenciador por aqui já em 1919, que de Lima Barreto denuncia na abertura do livro.


É muito interessante a perspectiva lançada por TOTA dos inúmeros intelectuais, que justificaram e participaram da política do Office- Office Of Inter American Affair , servindo ao governo americano como chefes locais, tradutores, músicos, expositores em feiras e em atividade de audiovisual ou justificando “no problem”. A grosso modo, a esteira do “modernismo antropofágico” já estava esticada por Oswald de Andrade para comer o gringo americano(bispo Sardinha?), como no Manifesto do Pau Brasil(1922). O desenvolvimento dos ajustes, certas confusões a respeito da nossa cara(em relação as peculiaridades culturais latino americanas)são exemplificadas por TOTA muito bem. Uma elaboração do Office.

Nascido em 1942, TOTA é contemporâneo do tema do americanismo por aqui, nasce exatamente no ano em que a guerra já havia eclodido na Europa, momento em que o Office já começara a agir e expandir seus tentáculos (desde 1941). TOTA dialoga com as fontes muito bem, com o tempo em que cresceu menino de cidade do interior. Numa dessas pequenas cidades que enviam sargentos para morrer em guerras, em cidades que ficam onde não se sabe bem no mapa. O que faz lembrar Joel Silveira, que conhecia profundamente a composição da FEB e a vida das soldados no front italiano. Escreveu sobre muitos personagens desconhecidos, mortos que não brilham na política cultural da aliança entre EUA e o Brasil.

TOTA demonstra que o mundo anglo-saxão estava perdendo espaço com os ingleses encurralados no norte da África pelos soldados da Alemanha do Marechal Rommel. O tempo em que capitaneados por Roosevelt, os americanos buscavam reverter a seu favor as oportunidades que sobravam na América Latina, último local fora do mundo em conflito e fora, inclusive, do seu próprio território, de seu mercado interno, onde poderiam ampliar “um senhor mercado” com uma boa estratégia pacífica, dando um chega pra lá nos interesses do EIXO e da Alemanha, de quebra. TOTA demonstra a preocupação com os estados do sul do Brasil, simpáticos a causa nazista e desenha uma possível intervenção americana, planejada como plano B.

TOTA pesquisa, levantando aspectos positivos e negativos, das produções culturais em exposições, jornais, programas de rádio, filmes e documentos oficiais entre 1941-45. É o curto período, de intensidade avassaladora, que entrou no Brasil a máquina de propaganda do Tio Sam através do O Office, que promove intercâmbio, de produções positivas e negativas(não será possível declinar a exceção sensível marcante, da Fotógrafa Genevieve Naylor, um capítulo inteiro merecido, está disponível no livro: Poses e Fragrantes-Ensaios sobre história e fotografia, de Ana Maria MAUAD- EdUFF-2008). Também, por questão de necessidade de aprofundar a pesquisa, vendo os filmes citados por TOTA, prefiro não comentar a participação de Walt Disney, que a princípio considero muito mais impactante pelo valor da imagem animada.

A “quinquilharia cultural”, impulsionada por uma intensa comunicação de massa, jamais percebida em curto período, chegaria por aqui substituindo a França, formadora da nossa elite intelectual. O que me faz pedir licença para arriscar um verso meu, neste ano comemorativo, aberto pelas luzes dos fogos, glamour, do ano da França no Brasil: “Vive la France! A França é nossa herança. Nossa farsa, nossa pança!” Com pretensão de difusão cultural recheadas de segundas intenções marcantes, entretanto, ótica assimilada para troca de interesses estratégicos do Brasil, o ideário da Política da Boa Vizinhança, imperialismo sucedido da vez e da hora, apresenta realizadores e estrelas dirigidas pela impulsividade de, criatividade e poder do milionário wasp Nelson Rockefeller, apoiado incondicionalmente por Roosevelt. TOTA destaca o importância do milionário, que a princípio movido por interesses de ampliação de seus negócios na América Latina(Standard Oil), cria um plano que alavanca amplos interesses, inclusive energéticos(General Eletric). Empresa privadas americanas de grande porte darão suporte publicitário as ações do Office.“O combate ao germanismo deveria ser feito via mercado”(p.53).

A sua obra de TOTA não está presa numa só corrente de análise. TOTA usa Gramsci e Toqueville, o último faz uma análise do americanismo. TOTA mesmo citando estatísticas econômicas, sem se prender a elas, deixa claro que o conceito de imperialismo, adjetivado como “sedutor”, está presente numa estratégia para envolver corações e mentes, para “dominar economicamente”. Numa filosofia para ganhar a almas brasileiras por meios sutis, caracterizado pela comunicação de massa e cultura, baseada no modo de vida da classe média americana. Mas que “entendia”, que o espírito Wasp precisava criar condições de expansão na chamada outra América, católica, sem democracia e muito afetuosa em relação ao estrangeiro e as novidades de além mar.

Nas exatas aspirações do sonho da sociedade de consumo deles, “a outra América”, a que eles imaginavam que copiaríamos(será?) através do chamado “American way of life”. Cujos fracassados não entram no brinde dos bem sucedidos, com a licença poética: “Um beijo nas crianças e um martini servido pela esposa, depois de voltar a noite da guerra. Nem sempre voltarei, queridos. Um dia pode ser que volte enrolado numa bandeira”. TOTA demonstra o desagrado por retratos que não demonstrem a sociedade americana como um exemplo a ser seguido pelo mundo. O diretor de cinema Henry Ford é contratado pelo Office, desde que não repita nada com o teor realista, o realismo do seu magistral filme “As Vinhas da Ira”(1940), baseado no romance de John Steinbeck(Pulitzer,1939).

Refeito, naturalmente, o pesadelo da crise de 1929, que na crista da onda trouxe no seu bojo a incrementação do entretenimento e o fortalecimento da indústria da produção de mitos na América do Norte(mas porque será que não trouxeram o jazz?), da ideologia(o Office é uma fábrica de ideologias), o audiovisual foi usado para aproximar diferenças e imprimir o ritmo do charme e da simpatia via Office. O rádio e o cinema, mascarados por Rockfeller como “relações culturais”, foram usados como uma maneira de dar camadas médias a impressão de que haviam “muitas coisas” que nos aproximavam.

A primeira era o fato de sermos todos americanos, faríamos parte de uma América, outra, mas que se integraria aos benefícios “do progresso” como uma questão de tempo. A Feira de New York(1939), New York Word`s Fair , em que o Brasil participou com ampla gama de produtos naturais, música e arquitetura, apontava esse caminho. Muitos intelectuais acreditavam”que a modernização brasileira deveria seguir o modelo americano”(p.95).

É bom “lembrar”, que seres de sorriso fácil, sedutor, e aparentemente inocente dos anos 20 já habitavam por aqui, como Louis Armstrong, Shirley Temple ou ícones mais maduros e românticos como Rudolph Valentino(latin lover) ou dá própria ocasião como o furacão feminino, Rita “Gilda” Hayworth, eleitos no imaginário do ocidente, mas com muitos matizes e poucos questionamentos sobre as suas próprias vidas numa sociedade altamente competitiva e fracionada. Tudo que estava por trás de seus papéis, numa sociedade que seria sutilmente vendida como a ideal para toda a humanidade em tempos de guerras, de grandes ou pequenas proporções no espaço terrestre não importava.

Afinal, a cultura sempre chega antes dos soldados, através de outras armas e pode até prescindir deles. O que em si, conforme o espírito do capitalismo, é um negócio grande e bem fechado, que envolve a emoção(entretenimento, lucro alto), mas que foi antecipadamente racionalizado para não parecer ou ser simplificado como a única intenção de lucro rápido e fácil para um curto prazo. A cultura é um elemento de permanência. Como ela é também, um bem não material, dever ser medida em dimensão fora da emoção, que causa coletivamente efeitos e que se acumula no tempo da vida de cada pessoa no cotidiano. MAS não só os dividendos da produção dela vão para os bancos. Todas as indústrias fora dela também lucram muito junto com o Estado e a sociedade a qual pertencem todos “esses valores”.

TOTA é muito bom em lembrar-nos disso, durante todo livro Rockieffeler é o potagonista da Política da Boa Vizinhança. Busines is busines. Um businesisman vai cuidar pessoalmente de como organizar uma ação eficaz que leve em conta os meios para obter resultados para a sua classe de homens, os que dominavam os negócios do seu país. A superação dos antagonismos sempre contornado pelo “pragmatismo americano”, foi uma outra lição que parte da intelectualidade à época herdou com facilidade. Enquanto que para os americanos a superação dos antagonismos sempre esteve diretamente ligado ao pragmatismo dos seus interesses estratégicos a longo prazo. Não há portanto nisso nenhuma contradição, que não possa ser superada ou adaptada as regionalidades e as demais condições da identidade de cada nação.

TOTA aponta-nos, que “os capitalistas americanos ofereciam-nos, com aparente sinceridade, uma associação para superarmos o atraso. Mas muitos latino- americanos tinham dúvidas se essa era realmente uma via para o desenvolvimento”(p.187). Os americanos que se surpreenderam, em especial Rockieffeler, com as nacionalização do petróleo, por Cárdenas no México. Eles não pareciam entender, cada realidade num processo histórico específico. TOTA finaliza, “ um povo só incorpora um determinado valor cultural se ele fizer sentido no conjunto geral da sua cultura”. O que também serve para os americanos. “Jacksomos brasileiros”, parafraseando o Lenine. Um criativo compositor, cidadão do mundo, que faz embolada das intenções e insuperáveis contradições da vida neste lado da América cheia de swing nas veias.