terça-feira, 2 de junho de 2009

A CULTURA DA PROBREZA E A POBREZA DA CULTURA (III)

:: Leandro Konder, professor da Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio, lançou no dia 05 de novembro de 2008 o livro Memórias de um intelectual comunista. Ver notícia publicada no Jornal da PUC, no.211, de 04 de dezembro de 2008.

O filósofo Leandro Konder escreveu um maravilhoso artigo no CADERNO Idéias(JB) do último sábado, por acaso meu aniversário. Um presentão para ler. Resolvi colocá-lo aqui por considerá-lo uma ótima contribuição para discussão da série A CULTURA DA POBREZA E A POBREZA DA CULTURA.
O ARTIGO AQUI NA ÍNTEGRA. Deu um trabalhinho, que compartilho agora.

"NATUREZA HUMANA E PRIVILÉGIOS"
por Leandro Konder

COMECEMOS PELA NATUREZA HUMANA. Afinal, ele existe ou não existe? Em que medida ela pode ser modificada?

Se fosse feita uma pesquisa capaz de observar, empiricamente, milhões de pessoas, os pesquisadores achariam alguma coisa em comum, presente em todos os indivíduos, os que ainda existem e os que já existiram?

Assim como os homens têm dois olhos, dois braços, , duas pernas, nem por isso podemos dizer que, se uma infeliz intervenção cirúrgica amputar uma de suas mãos, o indivíduo poderá ter se transformado no Capitão Gancho, inimigo mortal de Peter Pan, mas não terá perdido aquilo que se convencionou chamar de "natureza humana".

Por outro lado, é evidente que, se um ser tiver somente uma perna, nem por isso terá deixado de pertencer à natureza humana.

No plano psicológico, o problema se complica ainda mais. Qunado a alma interfere no corpo, esse poder de interferência é que a torna completamente real.

Ao serem descobertos pelos navegadores europeus, estes se perguntavam qual poderia ter sido a oriegem dos povos nativos; e acreditavam que eles vinham da índia(por isso eram chamados de índios). Os europeus sabiam que deviam dispor de uma escala de valores para se orientar. Mas o impacto da conquista causou estragos consideráveis tanto no espírito dos índios como no espírito dos colonizadores.

Os valores não são em geral criados pelos indivíduos: são inventados pela comunidade. Mas a conquista ea colonização foram feitas por gente que destruía as comunidades indígenas. Ao longo de várias gerações , os espanhóis e os portugueses exploraram e oprimiram, os índios e os negros. Assumiam, com desenvoltura, o racismo que lhes convinha.

Pouco a pouco, foram se sofisticando, fizeram um aprendizado de hipocrisia. Aprenderam com seus correligionários ingleses e franceses a fazer concessões a retórica liberal. Condenaram( de boca para fora) procedimentos sórdidos, aos quais recorriam na prática.

Nossos antepassados insistiram há mais de um século na afirmação de que a sociedade brasileira não precisava fazer mudanças, porque já as havia feito. Não carecia de reformas porque já era uma república, que estava sendo reformada pelo progresso.

República, como nome já indica, res pública, a "coisa pública". Nossos teóricos inventaram coisa melhor: quando a "coisa p´ublica" dava lucros imponentes, era tratada como "coisa privada" e seus proventos eram desviados para o bolso dos muito ricos, sob a alegação de que , já tendo roubado muito, eles roubariam menos que os outros.

O maior orgulho dos donos do país é a sinceridade com que eles argumentam: "Somos muito francos. Sabemos que o mito de um regime democrático-igualitário tem feito muito mal à humanidade ". E acrescentam: " Os homens são por natureza desiguais. Então a distribuição da riqueza só pode , sensatamente, respeitar e consagrar a desigualdade".

O filósofo Antônio Gramsci, italiano, dizia que, para entender o pensamento político de uma criatura , o que se pode fazer de mais razoável é perguntar a ela se acredita em algum tempo , no futuro, vamos edificar uma sociedade na qual não existirão nem mandantes, nem mandatos. Se, porém, a criatura for pessimista e declarar que "vai ser sempre assim", e insistir em aceitar resignadamente o privilégio dos que exercem o poder, então ela estará contribuindo para que o privilégio se perpetue.

Hoje, o privilégio não só perdura como posa com firmeza sobre um terreno sólido e amplo, que nós, democratas, socialistas, infelizmente conhecemos mal. Lembro que Marx, no século 19, escreveu: " Os filófofos se limitaram a interpretar o mundo; tratá-se, porém, de transformá-lo". Nas atuais condições , podemos-provocadoramente-dizer que os revolucionários não conseguiram, em geral, revolucionar a sociedade, como pretendiam.

Trata-se de conhecê-la, de interpretá-la de maneira mais efetiva, para transformá-la.

A CULTURA DA PROBREZA E A POBREZA DA CULTURA (II)

UM CLÁSSICO de Dashiell

Divertido e comovente o livro que estou economizando para que não termine logo 'VAGABUNDOS ILUMINADOS" ,de Jack KerouaK . O liVRO também é muito esclarecedor para "sentir" UM POUCO DA VISÃO BEAT em relação ao sucesso que Kerouac parecia NÃO QUERER ao analisar a cena da poesia americana à época. Um aviso, Kerouak é um cara que respeito, mas olha só como ele ataca outro escritor, DASHIELL HAMMETT(autor do sensacional cult O Falcão Maltês), que teve a vida quase destruída pelo senador Joseph Mc Carthy, promotor com a turma de Nixon "da caça as bruxas" nos anos 50. OUTRAS FIGURAS MAIS OU MENOS CONHECIDAS POR AQUI TAMBÉM APANHAM POR PACECER UM TREMENDO PECADO DAR CERTO, VENCER... Veja só...

"(...) "O Marechal Dashiel* está muito ocupado deixando a barba crescer e levendo o seu MERCEDES BENZ a Coquitéis em Chevy Chase** e perto do obelisco de Cleópatra; O.O.Dowler é carregado por toda Long Island a bordo de limusines e passa seus verões tremendo na Praça de São Marcos, e que merdinha complicada, infelizmente ele consegue ser um dândi com roupas da Savile Row***, de chapéu -coco e casaca, e no que diz respeito a Manuel Drubbing, ele joga moedas para ver quem vai se dar mal nas resenhas, e de Omar Tott não tenho nada a dizer. Albert Law Livington está ocupado assinando cópias autografadas de seus romances e enviando cartões de Natal para Sarah Vaughan...(P.198)
CONTINUA.
*Dashiell Hammett:escritor que serviu na Primeira Grande Guerra Mundial e depois depois se tornou roteirista de Hollywood(N. do T.)
**Chevy Chase: bairro nobre na capital dos Estados Unidos, Washington D,C (N. do T.)
***Savile Row: rua em Londres Conhecida pelas lojas de roupas refinadas para homens(N. do T.)

A CULTURA DA PROBREZA E A POBREZA DA CULTURA (I)

Legenda:Um ótimo material sobre a malandragem,
"A ópera do Malandro, de CHICO BUARQUE)

DIANTE MÃO VOU AVISANDO QUE ESCREVO LIVREMENTE, sem querer ofender ninguém, nenhuma pessoa ou instituição, credos e cristalizações de cunho pessoal. Mas chateia ficar ouvindo a mesma choradeira de sempre. Gente que fica reclamando que "não tem nada por ser perseguido ou esquecido", ou por não querer "se meter em nenhum esquema político" ou por "não querer estar fazendo nada para ninguém, que tem dinheiro sabe-se lá como, ou " QUE MUDANÇAS", que são conquistadas num processo histórico de muita luta e suor, que não ocerrem...como se estivéssemos ainda nas condições do séc. 19.

Também é esquecida por essa gente iluminda e incompreendia "PELO SISTEMA"(Deus o que será esse tal sistama?!!!), genial mesmo, que a criatividade é a única moeda que o povo tem para SOBREVIVER(além do esforço). Com cada vez mais inventivamente, "HERÓIS ANÔNIMOS" surprendem . Ah, sim e mais: que a gente precisa rebolar muito para encontrar um jeito de sobreviver, muitas vezes ciente da mais- valia aplicada impeidosamente. MAS... nem por isso JUSTIFICA-SE A IMOBILIDADE ou o inconformismo dos puros, não querendo partilhar das soluções para si mesmos. Como dizia o velho Raul " TENTE OUTRA VEZ" e " NÃO PARE NA PISTA É MUITO CEDO PRA VOCÊ SE ACOSTUMAR" Coisas que muitos amigos parecem entender, mas não praticam, infelizmente...

Tudo bem que as tradições culturais existem, a religiosa, serve como exemplo: "DAI A CESÁR O QUE É CESÁR", O REINO DE MEU PAI NÃO É AQUI" , ETECETERA... Na justificativa da cultura, há também a ideia de que "todos os pobres são honestos" , "o intelectualidade toda está comprada e cabe no bolso do mercado". ARRE! Com o dizia o Pessoa, Estou farto de semideuses!!! Por ai vai...Tem aquela história da sitação do "talento injustiçado", da "busca de um reconhecimento que nunca chega", "a invisibilidade do artista pobre, perseguido". Para este mal a vida de VITALINO poderia servir de antídoto, já que genialidade não escolhe berço. Mas deixa pra lá... (CONTINUA)