sexta-feira, 19 de setembro de 2008

SOBRE A POLÊMICA DA VEJA/ EDIÇÃO2074-N.33-20 DE AGOSTO DE 2008.



"UM INSTANTE
MAESTRO"!

Eduardo Affonso

De repente começam a chegar email-s de todo lado com a viúva do EDUCADOR Paulo Freire, repudiando a VEJA que está sempre do lado de sempre, do atraso. Já fui assinante dessa coisa, uns 20 anos atrás... Amigos indignados disparam na minha tela suas teclas contra a coisa que tem 1218607 de tiragem semanal. Fiz questão de conferir esse número para ver o tanhanho do desastre que provoca toda santa semana. Então, esperando para fazer mais uma vez o REIK, me deparo com a coisa materializada em revista ali na minha fente. Em princípio, nem queria abrir a tal edição enquanto espero a minha vez. Mas abro começando a minha análise pela capa. Nela um menino(foto) escreve num quadro verde: "O inssino no Brasiu è otimo". O editor pergunta em letras garrafais: "OS ERROS SÃO SÓ DELE". Dois subtítulos estão adiante: "os estudantes brasileiros são os piores nos ranking internacionais" mas... "mais de 90% dos professores e pais aprovam as escolas".

A capa é uma peça inteira para o debate. O que não é ruim. Pelo contrário, a provocação, é salutar para quem leu os últimos índices da educação publidados para todos lados enxergarem. São mesmo de assustar os índices, uma bomba daquelas! Quem está ou já esteve em sala aula sabe da realidade. Pode até não querer saber, mas ela está lá na escola nossa de cada dia. A base do ensino fundamental não é priorizada. Eu penso que a priorização devia ser logo nos primeiros meses de vida da criança. Aqui até para nascer é parto difícil. Imaginem só cumprir a constituição e oferecer creches para todos! Dentro das creches, claro, educadores e equipamentos para surgirem as primeiras sinapses de um país justo. UM PAÍS PARA TODOS MESMO!

Não sei como o quadro se apresenta em escolas onde não existem condições mínimas de diálogo entre os professores, pais e alunos. Nem mesmo o interesse em enfrentar todas as coisas apresentadas pela realidade numa dimensão macro. Os números são frios. Sempre foram, gelados. Muitas escolas do interior, daqui, de muitos lugares, entretanto, foram radiografadas positivamente pelo MEC. O MEC por exemplo, não tem uma fiscalização social para fiscalizá-lo. Deveria ter, pois ninguém sabe como fazem as visitas as unidades educacionais superiores pelo país(aquelas que formam) OS BOCHICHOS SÃO INQUIETANTES JÁ FAZ UM BOM TEMPO sobre essa aferição...Mas não dá para tapar o sol com a peneira esquecendo de olhar para si mesmo. Muitos fatores precisam de discussão dentro e fora da categoria de professores. Uns até são inconfessáfeis para muita gente. A gente vê muita coisa que não pode mexer, nem propor uma discussão entre colegas. Muito menos, se fazemos parte de escolas particulares, algumas são altamente hierarquizadas. Mesmo àqueles que estão hierarquicamente na mesma posição pouco parecem ligar . Não vou citar nomes, mas certo dia fui conversar como uma professora sobre a escrita da garotada. Ela se espantou com a minha análise. Mesmo sendo de história, pedi uma redação para as turmas. Havia diagnosticado, é um termo que eu nem gosto de usar, mas que faz parte do receituário da educação, que a situação dos estudantes não era nada boa.

Faltava saúde na escrita, aquela que quando se tem dá conta de um texto com começo, meio e fim, de lanbuja articulado com o pensamento claro costurando as idéias que dialogaram com um receptor. A maioria não conseguia formar uma frase quando falava. Um desastre juvenil que está em toda parte! Eu sempre ouvia a estória que eles traziam, pescava e fritava o peixe diarimente com eles. Mas aquilo me mobilizava demais. A professora que eu procurei primeiro era uma colega de PORTUGUêS, quis propor um trabalho interdisciplinar a ela. Recebi de volta um "é assim mesmo" como resposta. O que se denomina "acomodação", era também uma certeza coletiva comprovada. Ficava, então, tentando conversar com outros colegas em descanso na sala de professores. Ouvia sempre os mesmos papos sobre carros e celulares quase que diariamente, entre outra amenidades do consumo. Além da novela, que as vezes alguém sabia o enredo todo. Interessante... Dez vez em quando pegava carona com algum colega, o rádio tocava "um funk". Desisti até das caronas. No outro ano fui desligado da tal "escola". Mas sei que existem pessoas que estão fazendo muita coisa boa, educação dá trabalho e prazer por ai nesse mundão! A cada dia gente inquieta realiza um pouco que seja numa direção positiva, criativa e não meramente reprodutora. Se eu não acreditasse na educação já havia desistido há muito tempo. Pois, além de não compensar financeiramente, nem vai mesmo compensar, quem acha que vai não sabe onde está se metendo... Não compar livros, viajar, ir ao teatro e fazer cursos continuadamente é ruim mesmo! Tem a questão da opressão ambiental, essa também acontece... Quem faz o percurso inverso tem que abrir mão de carro(vai fazendo sacrifício para se deslocar), abre mão celular caro e tem também que ter muita EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO. Ser um mão de vaca! Ir até os sebos, graças a Deus agora virtuais! Bom, quase fiz duas faculdades e estou indo para um curso de especialização. Durante a própria graduação vi a reprodução funcionar muito mais que o experimento. Vi também professores que estavam em outro ponto, o ponto de estar fora do tempo presente(flutuando com os alunos?), uns muito cansados e outros muito pouco interessados. Vi professores vigorosos também, que não desistiam diante das dificuldades. Alguns são grandes amigos meus. Vi também uma grande curricular engessada. Vi gente também babando ovo por uma notinha, na formação acadêmica! Fazendo média para ficar com o boletim alto e se enganar ou enganar nem sei a quem...

Nunca consegui enterder isso... O que não condiz com a profissão, que é uma busca constante, que exige alinhamento como o pensamento, com a crítica e prescinde de auto-crítica e só. Vi a falta de equipamentos desconfortáveis, falta de laboratórios, de experimento, de prática, vi bibliotecas sem livros e outra vez, muitos colegas, que PRECISAVAM tanto do diploma que queriam estar fora dali o mais rápido possível. Fizeram cursos por exigência do mercado, não deles! Ah, sim, quando fui largar o segundo curso, alguns colegas me disseram a seginte frase: "mas falta tão pouquinho para você ter mais um diploma"... Ufa! Tem muita discussão para rolar, enfim... Mas o fundamental de tudo isso, é que a sociedade queira uma mudança. O Mangabeira Unger, que todo mundo acusa de "americano", tem um projeto de modernização da educação, que passa pela qualificação, pelo salário e por uma mudança mental necessária dentro do Estado brasileiro. Vai ter que descredenciar um monte de Instituições, mexer no MEC, fazer uma revolução! Vamos ver se tem cacife!

Se me perguntam o que fazer, tenho uma série de ponderações, mas nenhum poder... Quanto a VEJA, eles são mesmo de amargar. Falam em acabar com a ideologia na escola, dizem que é possível criar neutralidade e com isso melhorar a qualidade... Tá bom... é como se fosse possível destruir a história de todos os grandes educadores, jogar a história no lixo, por fim a escola democrática e continuar dando sicuta eternamente para Sócrates! Olha só a pérola da página 84 da reportagem, diz a VEJA: "(...) Che Guevaraa SÓ BENEFICIOU OS FABRICANTES DE CAMISETAS". Não dá para colocar isso no lugar do que está em crise. Isso é que não. O Paulo FREIRE é mais falado do que usado. O ambiente é de reprodução. Essa matéria está mesmo furada. É desrespeitosa e burra.

EA

VIÚVA DE FREIRE, NITA FREIRE, REPUDIA VEJA


O Conversa Afiada republica carta que a viúva de Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire (Nita Freire), escreveu em repúdio a uma reportagem da última flor do Fascio, a revista Veja, cuja redação se divide entre o lado de lá e o lado de cá de uma vala negra.

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/forum/Post.aspx?id=633

VIÚVA DE FREIRE ESCREVE CARTA DE REPÚDIO À VEJA
CONCEIÇÃO LEMES
Na edição de 20 de agosto a revista Veja publicou a reportagem O que estão ensinando a ele? De autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, ela foi baseada em pesquisa sobre qualidade do ensino no Brasil. Lá pelas tantas há o seguinte trecho:

"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado".

Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigo publicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera. Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática de agredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina.

Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:

"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.

Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.

A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.

Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.

Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".


Em tempo: a viúva de Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire (Nita Freire), explicou ao Conversa Afiada que não enviou esse texto à Veja. Na verdade, seria inútil. Dificilmente a Veja publicaria. (PHA)


Um pouco mais sobre o educador PAULO FREIRE



Autonomia, pedagogia da consciência.

Artigo de autoria do colega historiador Alexandre de Oliveira
blog:attp://alexmontana.blospot.com/

Isto é o cerne do livro, no meu ponto de vista, a grande questão em Paulo Freire é a tomada da consciência na educação, tanto pelo docente quanto pelo discente. A educação é posição política, construção do conhecimento em mão dupla e sentido da educação.
Teoria X prática, aluno X professor, estas relações são inicialmente abordadas por Paulo Freire para falar da pedagogia e do aprendizado-ensino. Segundo o autor, não existe ensino sem aprendizado, pois a arte de ensinar é uma construção histórica social que é tecida ao longo do percurso deste ofício. O contato do professor com o aluno é o momento para que ambos tenham uma relação que possibilite o aprendizado, pois “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender...” (Freire, 1996) e é nesta relação que a vida prática se constrói, da teoria à prática e novamente à teoria. Ele nos dá exemplos como cozinhar e velejar, onde o cozinheiro e o velejador conhecem seus ofícios, mas sempre o reinventam no contato com novas situações ou nas mesmas situações com algumas variáveis novas. Aliado a isto, o aprendizado é um ofício crítico, não pode ser um ato mecânico e programável como uma função automatizada, para falar desta relação dicotomicamente oposta, Freire apresenta dois tipos: o bancário e o problematizador, sendo o bancário o tipo autômato e o problematizador aquele que tem uma postura crítica com relação ao ensino-aprendizado.

Existe, contudo, a necessidade da existência de um método, é preciso que o educador estimule o educando ao pensar certo, que no dizer de Freire é o pensar crítico, fazer com que o educando encontre caminhos e alternativas para problemas propostos pela vida ou por ele mesmo na busca do aprendizado. Entrando neste método e nesta relação, a “dodiscência” ou a relação professor-aluno e a pesquisa. Pesquisa esta que é o elo fundamental entre a teoria e a prática, uma curiosidade epistemológica, ou seja, o estímulo à curiosidade crítica do saber. Tudo isto sem desrespeitar os saberes do educando, que traz consigo uma bagagem própria e de saberes únicos e próprios adquiridos em sua história e seu contexto cultural, os saberes culturais têm que ter uma intimidade com o esse saber cultural e o educador tem que saber utilizar-lo, esta liga fica mais consistente com o incentivo à uma crítica curiosa, o pesquisador tem que ser um ingênuo curioso, ou seja, suas perguntas são impulsionadas pelas mais “cruas” dúvidas, nunca sendo inibidas, mas transformadas em poderoso ecos de problematização. Segundo o autor, não existe criticidade sem curiosidade, pois aquela é filha desta e desta relação nasce o conhecimento, um conhecimento que desconfia da tecnologia, mas que a vê como “coisa” útil. O prazer do ensino é enfatizado pelo autor, pois a “boniteza” do aprendizado tem que ser elemento presente neste sistema, o prazer como atratividade ao aluno, que tem que se sentir atraído pelo mesmo, utilizando-se sistemas lúdicos e divertidos por vezes, de forma que a prática e a teoria se tornem atraente para os envolvidos nesta relação (Hoje em Dia).

O professor aventureiro tem que ter o entendimento de que o aprendizado é incompleto, uma eterna busca do saber pelo saber, sem uma funcionalidade tecnicista imediata. Onde existe vida, aí está o elemento do inacabado, o movimento, a releitura e a reconstrução; busca pelo pensar certo.

A autonomia é a capacidade de se guiar, se governar e buscar suas próprias experiências, incentivado sempre pelo bom senso do educador, que busca um equilíbrio para si próprio e para o aluno na relação ambivalente do ensino-aprendizado, tomada de posição ética e política e, além de tudo não perder a capacidade de se indignar com o mundo e suas mazelas. A educação não é passiva, apesar de não poder ser uma imposição da posição do educador e sim uma visão transparente de seu pensamento. Para que esta relação funcione, é preciso que haja respeito, bem querer ao aluno e acima de tudo o saber escutar.

Referências

Freire, Paulo. 1996. Pedagogia da Autonomia. São Paulo : Paz e Terra, 1996.
Hoje em Dia. Cidadão do Mundo: Prêmio "Eu Acredito". Jornal Hoje em Dia. [Online] Hoje em Dia.[Citado em: 15 de 11 de 2007.] http://www.hojeemdia.com.br/cidadaos/index.html.