quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

UM DIA INESQUECÍVEL!

Há 30 anos, Rondinelli se tornava ídolo na Gávea

Felipe Murta, JB Online

RIO - Uma das mais importantes conquistas rubro-negras completa, nesta quarta-feira, 30 anos. No dia 3 de dezembro de 1978, mais precisamente às 18h44 de um domingo no Maracanã, o 'Deus da Raça' Rondinelli correu como uma flecha, saltou por sobre o então jovem zagueiro do Vasco Abel Braga e, com uma cabeçada fulminante, entrou para a história do Flamengo ao marcar um dos gols mais comemorados por toda a nação que o idolatrava. E o recorda com carinho até hoje daquele 1 a 0.

O Jornal do Brasil presta a sua homenagem a um dos momentos que fazem do futebol o esporte mais emocionante do planeta. Confira abaixo a cobertura original desta conquista, além do comentário do 'mestre' Oldemário Touguinhó, que, numa conversa com o herói do título, eternizou a façanha:

Assista os melhores momentos da decisão no Canal 100

Matéria do JB de 3 de dezembro de 1978

Rondinelli, o prêmio pela dedicação

Por Oldemário Touguinhó

A bola veio cruzada sobre a área e Rondinelli entrou de cabeça, fazendo o gol da vitória do Flamengo. Tudo como o zagueiro havia sonhado na madrugada do jogo, tudo como havia desejado desde que voltou à equipe na condição de titular. Por isso, era o mais feliz na festa da conquista do título de campeão carioca.

Rondinelli é um rapaz educado, profissional e dedicado. Treina constantemente. Quase sempre é o primeiro na fila dos exercícios, para servir de guia. Assim, consegue manter uma elasticidade que faz dele o melhor cabeceador do Rio.

- Por não ser muito alto e saber que dentro da área somos obrigados a enfrentar zagueiros fortes, que entram firme nas bolas altas, desde cedo me preparei com empenho para subir nos cruzamentos. Acho que devo muito aos preparadores físicos, porque desde que cheguei à Gávea, faço com eles várias séries de exercícios para manter a forma. Nunca me importei em ser um zagueiro de estilo clássico. Minha principal preocupação foi sempre a de ganhar o lance. Se for necessário entrar duro e desajeitado, entro. O importante é não deixar o adversário não entrar na área. Ainda nos juniores, me esforçava muito nas cabeçadas. Por isso, quando cheguei aos titulares, não tive dificuldades para me manter na equipe.

- Sou um jogador de garra – e continuou Rondinelli – e foi com muita luta que cheguei a ser convocado a Seleção Brasileira, durante a fase de treinamentos para a Copa (de 1978). Depois, voltei ao Flamengo e, quando acreditava estar firme no time, me machuquei e quase não pude mais voltar à minha posição. O Flamengo havia contratado novos zagueiros e, contundido, perdi espaço. Uma contusão no joelho esquerdo me obrigou a ficar de fora durante vários meses. Isso me desesperava. Sempre que tentava voltar aos treinos, sentia dores e tinha que recomeçar os tratamentos. O pior é que, aos poucos, senti não haver mais interesse da comissão técnica em me escalar. Mesmo assim, intensifiquei os treinamentos e logo que me senti bem, forcei os exercícios. Mesmo assim, foi muito difícil recuperar meu lugar entre os titulares, já que a dupla de zagueiros atuou muito bem durante o 1º turno e levando o time à vitória.

De fato, no Flamengo, existia interesse de negociá-lo em troca de um atacante. Por este motivo, quase foi parar no Inter, assim como no Galo mineiro. Sentindo que muitos clubes queriam contratá-lo o zagueiro voltou aos planos do técnico Cláudio Coutinho. Inclusive, a própria torcida exigia sua volta à equipe. O jogador se mostrava revoltado em permanecer na reserva e só mesmo se tranqüilizou ao ser escalado para atuar por duas vezes seguidas. E isto aconteceu apenas nos últimos jogos do returno.

- Na verdade, sempre confiei no meu futebol. Só desejava ter uma chance, a fim de poder mostrar ao treinador que merecia uma vaga no time. Ele foi legal comigo e permitiu que eu fosse novamente titular. Realizei bons jogos, mas me faltava um pouco de coragem para ir lá na frente, ajudar o ataque nas bolas altas. Mas durante a preparação para o jogo final contra o Vasco, vivia sonhando em ter uma chance de subir ao ataque e foi isso o que me encorajou a tentar uma jogada ofensiva no final da partida.

Quando vi a bola cruzada, entrei na corrida já sabendo que iria pegá-la no meio do caminho. Vim numa velocidade alta. Felizmente tudo deu certo, entrei de cabeça e joguei a bola para dentro do gol de Leão.

Rondinelli deixou o campo sem camisa. A faixa de campeão cruzada sobre o peito era o maior troféu que acabava de conquistar com muita raça e coração, como sempre lhe foi peculiar.

[00:17] - 03/12/2008 - RSS