quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

as luzes da Antropologia



"O conceito de homem tal como é utilizado no "século das luzes" permanece ainda muito abstrato, isto é, rigorosamente filosófico"
p.13
Aprender Antropologia
Laplantine, François
"(...)) O dever da memória conduz tanto a uma acumulação de referências justapostas, como palavras extraídas de um dicionário sem que eles se façam frases, quanto ao empilhamento interminável do passado como um todo. A HISTÓRIA, ao contrário, escreveu Lucien Febvre em um texto célebre, é um chamado a "não se deixar aniquilar por essa acumulação desumana de fatos herdados. Por está pressão irresistível do mortos esmagando os vivos- achatando sob os pés a delgada camada do presente até lhe retirar toda força de resistência". Ela é um meio de organizar o passado para impedi-lo de pesar demasiadamente sobre os ombros dos homens.
Antoine Prost- Como a história faz o historiador.

DO 77

CLUBE DE LEITORES 77

"A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com Deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele." Caim - Saramago,. José

Iluminismo> CONCEITO


ILUMINISMO

Termo que expressa um conceito de extrema complexidade utilizando para, de modo geral, indicar um movimento de idéias desenvolvido essencialmente no século XVIII.
Outros termos têm sido empregados para definir e caracterizar o ilumninismo, dependendo do ambiente cultural em que o fenômeno venha a ser considerado.
Assim o alemão Aufklärung(esclarecimento, descobrimento, reconhecimento), o espanhol ilustracion(ilustração) ou o inglês enlightenmen assumiram sentidos diferenciados, ainda que convergentes para um denominador comum.
Um conceituado historiador brasileiro, recentemente, chamou a atenção para o problemado vocabulário do Iluminismo, salientando a necessidade de que as palavras que o compõem sejam estudadas no plano nacional e mundial.
No estado atual do nosso conhecimento, admite-se que o Iluminismo abranja dois aspectos essencias: Um religioso e outro racional.
No entanto, parece não haver dúvida que, no próprio pensamento do século XVIII, exista uma idéias básica capaz de definir o iluminismo, ou seja, a concepção de que o homem caminhava , cada vez mais, para "sair de sua menoridade pela qual ele é responsável".
Uma outra questão ao envolver o Iluminismo é a identificação de seus realizadores e a classe ou as classes sociais a que pertenciam, ou melhor,quais as bases sociais a que se apoiavam.
A polêmica em torno disso divide autores e opniões, uns querendo defender a exclusividade de sua elaboração como obra de uma elite cultural burguesa. a um tempo produtora e consumidora.
Para outros, sem perder de vista a raiz burguesa, essa elite colocava-se 'não muito longe do trabalhador".
Seja como for, e quaisquer que sejam as tendências dessa ou daquela configuração do movimento iluminista, alguns traços genéricos podem ser nele detectados. Tal é o caso do sempre citado primado da razão, em torno do qual se desenvolve o tema do progresso, a que se acrescentam o da civilização e o da cultura.
Para um iluminista, o homem deve ser uma preocupação constante. A expressão desse antropocentrismo representa nova tomada de posição da sociedade com relação àqueles que a compõem e, nesse contexto, uma idéia estará sempre presente: a do progresso.
A eficácia do homem, perseguida pelos iluministas, só será possível a luz do progresso. Esse é um dos objetivos permanentes do iluminismo. Outras de suas vertentes diz respeito à educação, instrumento indispensável para o triunfo da razão. Para os iluministas, o melhor caminho para difusão do seu ideário é o da educação, pois somente através dela será possível afastar a ignorância e a superstição.
Do ponto de vista político, o iluminismo parece ter inspirado algumas reformas em países governados pelos chamados déspotas esclarecidos. Ressalte-se, entretanto, que muitas da modificações levadas a efeitos por esses governantes como sendo de inspiração iluminista coincidiam com suas próprias convicções.
Um outro ângulo importante do movimento das "luzes" manifesta-se no seu pragmatismo, isto é, na convicção de que suas idéias valeriam na medida em que delas decorressem ações e providências capazes de alterar a situação vigente.
Do ideário iluminista fazem parte o combate à doença, à escravidão, `a fome, o anticlericalismo e anticolonialismo.
O iluminismo por outro lado, está intimamente vinculado ao enciclopedismo. A ENCICLOPÉDIA, obra publicada na França no século XVIII e onde, de modo geral, estão registrados os princípios do iluminismo, é, não obstante, anterior a ele. Na verdade a idéia de produzir uma obra com a soma do saber humano datava de muitos anos atrás. Foram os renascentistas que proporcionaram aos enciclopedistas contornos modernos, fruto de novas aquisições culturais surgidas com os descobrimentos marítimos. A ENCICLOPÉDIA do século XVIII representa, porém, uma nova dimensão do enciclopedismo, vindo a ser mais do que simples acumulação impressa do saber.
Essa obra significou um balanço contemporâneo das questões culturais, verdadeiro up to date do conhecimento humano. O próprio título a caracterizava: DICTIONARE RAISONNÉ DES SCIENCES, DES ARTS ET DES MÉTIERS(DICIONÁRIO CRÍTICO DAS CIÊNCIAS, DAS ARTES E DAS PROFISSÕES. Síntese do saber, ela representava, antes de tudo, um conjunto de informações corretas e rigorosas, sem mentiras ou acomodações e sem qualquer vínculo com a tradição. Tratava-se de um verdadeiro recenseamento cultural.
Finalmente, parece não haver dúvida de que as idéias iluministas tenham influenciado muitas das posições assumidas pelos revolucionários franceses de 1789. Não obstante ainda influenciados pelo clima do iluminismo, os procedimentos revolucionários estavam longe de corresponder aos ideais iluministas. Estes ao desejar e aprovar transformações sociais, esperavam que as mudanças fossem realizadas sem violência. De qualquer, "construindo uma ordem da natureza" segundo princípios novos. o iluminismo procurou remover os equívocos do pensamento humano. Originárias da Inglaterra e da Holanda, as "luzes" fizeram o seu centro de produção e irradiação na França- especialmente em Paris- e dali para o mundo.
Exaltando uma moral inspirada na felicidade humana, os "filósofos" recomendavam a organização da sociedade em função do bem- estar de cada um. VOLTAIRE(1694-1778) não hesita em afirmar: "o paraíso terrestre está onde eu estou". Assim, a utilidade social predomina.
Governar é atender a um certo número de direitos naturais do homem: liberdade, tolerância, igualdade perante a lei. Nesse contexto, os intelectuais desempenharam papel de capital importância, pois eles foram os agentes da difusão do ideário iluminista.
Às vésperas da Revolução Francesa, o homem do século XVIII, individualista e burguês, concilia a razão com o desejo de ser útil e progressista. O radicalismo imposto pelos revolucionários-seus discípulos em número expressivo- choca-se com a idéia do iluminismo. este ao reivindicar a eliminação dos dogmas, da religiosidade, dos privilégios, não quer destruir a sociedade e sim regenerá-la. Não deixa de ser significativo que a palavra beneficiência tenha sido criada no século XVIII.


Fonte: Dicionário de Nomes, termos e conceitos históricos. Antonio Carlos do Amaral Azevedo NF