Conheci o Fausto nos anos 80(bem no início), naquela ondA do Brizola que tomou o RIO. Uma das coisas que O FAUSTO WOLFFe gostaria de realizar não deixaram. Ele queria implantar "OS PARCÕES", grandes praças arborizadas, com bibliotecas públicas e espaços para esporte, lazer culturas, que funcionam por lá, EM PORTO ALEGRE. O sul de onde veio. Tentou fazer isso aqui, mas não teve apoio nem mesmo da iniciativa privada, QUE HOJE É VÍTIMA DA VIOLÊNCIA E DO MEDO, que hoje dominam quase tudo nessa cidade abandonada.
Enfim, mais uma vez ficamos orfãos de um homem de bem, de intelectual que não fazia firula, que peitava todo mundo sem botar o galho dentro...que assumia a sua paixão pela vida e pelo povo, vítima de tantas babáries diárias.
BRAVO FAUSTO QUE NÃO SE VENDEU!!!
Um grande abraço espiritual desse seu companheiro E DE QUEM MAIS TEM A SUA FIBRA!
Eduardo
(reprodução Cultura e humanismo)
A cultura brasileira ficou mais pobre no último final de semana. Faleceu no Rio de Janeiro, na sexta-feira, 5 de setembro, o jornalista e escritor Fausto Wolff, 68 anos, vitima de insuficiência respiratória. Gaúcho de Santo Ângelo, seu nome verdadeiro era Faustin von Wolffenbüttel e começou a trabalhar aos 14 anos como repórter policial, ainda no Rio Grande do Sul. O escritor e jornalista tornou-se conhecido por ser um crítico da política e militante esquerdista. Exerceu suas funções em jornais como A Tribuna da Imprensa, O Globo, e também foi um dos editores do satírico O Pasquim. Fausto Wolff era admirado pelo seu talento e famoso pelo temperamento forte e foi autor de vários livros, entre os quais "O Acrobata Pede Desculpas e Cai", de 1966. Ele ainda foi professor de literatura nas Universidades de Nápoles (Itália) e de Copenhaque (Dinamarca) quando de seu tempo na Europa. Seu livro “A Mão Esquerda” terminou sendo premiado com o Prêmio Jabuti em 1997. O jornalista nunca abriu mão de suas idéias de esquerda. Continuou sendo comunista mesmo após a Queda do Muro de Berlim ou o esfacelamento da União Soviética. O neo-liberalismo e a globalização nunca mudaram suas idéias. Sua última crônica foi publicada no Jornal do Brasil – Rio de Janeiro, sob o título A Sombra do Medo em Flor, que transcrevemos a seguir:
Dêem a chefia da portaria ao mais dócil empregado e logo ele se tornará um tirano. Já escrevi em algum lugar que, enquanto não nos revoltarmos contra o conceito de democracia que considera sagrado o direito de uma minoria escravizar o resto, jamais chegaremos à condição de seres humanos. Seremos sempre caricaturas, títeres perdidos na ventania, sempre com cara de "desculpe, não era bem isso que eu queria dizer".
Enquanto não se der a revolução da humanidade contra a tirania, enquanto deixarmos que nos humilhem para que possamos continuar vivendo, teremos de suportar algumas imperfeições, certos espinhos colocados em nossos sapatos ainda na infância que não podemos ou não queremos tirar.
Uma dessas imperfeições é a constatação de que, à medida que envelhecemos, vamos nos tornando mais medrosos. Quando deveria acontecer o contrário: à medida que envelhece, o homem deveria tornar-se mais corajoso, porque mais sábio, mais justo, mais conhecedor dos seus deveres e direitos.
Quando eu tinha pouco mais de 20 anos, todos os dentes e era um sujeito bonito, era também dado a papagaiadas. Certa vez, ainda noivo (havia noivados e até virgens naquela época), estava no falecido Bar Castelinho, tomando um chope com minha futura mulher, quando um dos donos de uma revista para a qual eu escrevia sentou-se à nossa mesa e se comportou de forma grosseira.
Gentilmente, mandei que se retirasse, pois já tinha de aturá-lo o dia inteiro e não pretendia fazer isso quando estava namorando. Fui despedido no dia seguinte. Na hora, a sensação foi boa, mas eu era muito jovem para perceber que os rateios estavam contra mim.
Outra imperfeição: ser burro, viver e conhecer o mínimo do seu potencial energético interior e, além disso, ter de suportar a consciência da sua mortalidade. Algumas pessoas percebem isso, mas, como são ignorantes, aceitam o princípio nada otimista de que a vida é um absurdo porque acaba na morte e, como dizia Camus, o homem vive e não é feliz. Essa constatação é tão angustiante que, sem uma garrafa ao alcance da mão, é difícil resistir à tentação de não dar um tiro na têmpora.
Hoje em dia, em pleno século 21, a grande maioria de escravos aceita essa condição fingindo não saber dela, fingindo que a vida é assim mesmo. Uns entram com o pé e os outros com o popô, uns com o pescoço e os outros com a foice. Excetuando os psicopatas que, aparentemente, já nascem tortos, alguns poucos escravos se rebelam e saem fazendo bobagens.
Quando isso acontece, todos ficam com cara de tacho, fingindo que não têm nada a ver com o peixe. Em seguida, os políticos pedem "responsabilidade criminal aos 16 anos". Logo, pedirão responsabilidade aos 15, 14 e cosi via. Cosi via significa que aumentará o número de crianças assassinadas ao nascer; aceitação literal da loucura religiosa de que o homem já nasce pecador. Claro que essa lei só valerá para crianças pobres.
Sou contra a pena de morte, mas, como a tragédia, mesmo quando coletiva, é sempre individual, o que eu faria se matassem alguém indispensável à minha vida? E se alguém tirasse a vida de uma pessoa e, ao fazer isso, me deixasse aleijado interiormente pelos anos que me restam?
Como não acredito na Justiça e também não acredito que podemos julgar oficialmente os efeitos sem punir as causas, eu simplesmente mataria o assassino. E o faria pessoalmente, com as minhas mãos.
Em seguida, cidadão exemplar que sou, me entregaria ao juiz. Não teria resolvido nada, mas como sou humano em estágio ainda bárbaro, pelo menos isso atenuaria um pouco a minha dor.
Como vejo a coisa hoje? Dêem a chefia da portaria de um edifício ao mais dócil dos empregados e logo ele se tornará um tirano para agradar ao poder imediatamente acima dele.
O poder ama a si mesmo e aos poderosos. É tão implacável na sua injustiça que consegue convencer mais de 100 milhões de brasileiros adultos de que devem escolher entre o algoz da esquerda e o da direita. E nada acontece.
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