"História das Mentalidades e Micro-História"
r Izac Evangelista - CAFÉ HISTÓRIA
“Micro-história, foi e ainda é por,muitas vezes confundida com historia das mentalidades” como afirma Ronaldo Vainfas.Isso si da pela aproximação que se inscreve entre esses dois campos da historiografia,talvez por ambas serem fruto de um novo pensar historiográfico – sendo as mentalidades uma vertente historiográfica mais antiga,que remonta a March Bloch e Lucien Febvre,mas que vai reinar no cenário da historiografia,sobretudo na historiografia francesa, a partir de meados da década 1960 com os historiadores da chamada terceira geração da Escola dos Annales,também impulsionada por pensadores de outras áreas como Foucault e Lévi-Strauss.
Mas apesar de dominar o cenário da historiografia francesa nesse período em que insurge a terceira geração dos Annales, os historiadores das mentalidades, vão encarar uma serie de criticas nesse novo rumo que dão a sua pratica historiográfica,já que a mesma apresentará uma serie de imprecisões e ambigüidades,que segundo Vainfas “contribuíram para o desgaste do próprio conceito” de mentalidades.Dessa maneira,apesar de reinar a principio na historiografia francesa – também alcançando adeptos em outras partes da Europa,como também na América Latina e nos Estados Unidos – poucos historiadores franceses defendiam ou se definiam como historiadores das mentalidades,embora muitos deles continuaram a pesquisar temas ligados as mentalidades e a Nova História.
Porem, é na nova história cultural que as mentalidades irão contribuir e receber novas abordagens, novos desdobramentos,sem contudo, ser o fator determinante da pesquisa. Já que os historiadores da nova história cultural,como revela o Vainfas,não “vão negar a relevância dos estudos sobre o mental,nem tão pouco renunciar a aproximação com outras disciplinas” – destaco isso pois uma das criticas a Nova história e as mentalidades foi a de quê, se abriu demais a novos saberes e questionamentos, e teria posto em “cheque” a legitimidade da própria disciplina.
Contudo nesse novo momento,ela vai estabelecer novas maneiras de abordar e estudar a cultura,levando em consideração as contribuições dos estudos sobre representação e apropriação de Roger Chatier e de Carlo Ginzburg com seu conceito de cultura e circularidade, apresentado em seu consagrado livro de micro-história - que também é um marco da nova história cultural - “O queijo e os vermes” ,que segundo Vainfas pode ser considerado “...quase um manifesto da nova história cultural em oposição à história das mentalidades”.
É nesse contexto que encontramos o nascimento da micro-historia - e daí a confusão em distingui-la das mentalidades – pois assim como a primeira: tem e revela um apego pela narrativa,tem afinidades temáticas,estreita os laços com a antropologia; contudo, uma diferença fica clara quando nos propomos a leitura e analise de uma obra de micro-história.É a capacidade - talvez a particularidade - de dar voz aos personagens, fugindo das generalizações de muitos estudos de mentalidades, questionando conceitos como o de inconsciente coletivo – o que já havia sido contestado e reformulado por Michel Volvelle,que partindo de um viés marxista preferiu o termo “imaginário coletivo”.O historiador da micro-historia amparado nos conceitos da Nova História cultural,vai procurar fazer uma analise “microscópica” ,muito mais criteriosa,e investigativa, o que vai permiti ao historiador enxergar fatos que outrora passariam desapercebidos,não se prendendo a contextualizações ou explicações – outro ponto que a diferencia das mentalidades.
Dessa maneira em “Os protagonistas anônimos da história” podemos encontrar essa diferenciação entre micro-história e mentalidades, nas palavras do próprio Ronaldo Vainfas, que sintetiza essa questão, colocando que “(...) uma das características fundamentais da micro-história que muito a diferencia da história das mentalidades: é sua renuncia (...) a história geral, a contextualização sistemática, a explicação, a totalidade e a síntese”.
É na trama do discurso cultural que vai se circunscrever o estudo de micro-história, a exemplo do seu celebre “criador” Carlo Ginzburg em “O Queijo e os Vermes” estudando: com um enfoque “microscópico” a vida e as idéias de um moleiro interrogado e condenado pela inquisição;e é seu companheiro Giovanni Levi, também pioneiro no gênero de micro-história, quem salienta que “o principio unificador de toda a pesquisa micro-histórica é a crença é a crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não observáveis”,assim a micro-história ,através da narrativa de casos miúdos,expõem com muita propriedade a história para leitores especializados e não especializados.
Ver citações em
VAINFAS, Ronaldo. Os protagonistas anônimos da história. São Paulo,Sp:Campus,2002.
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