sábado, 2 de agosto de 2008


QUE REI
SOU EU ?

Eduardo Affonso


CABEÇA.CABEÇA.CABEÇA DE DINOSSAURO!
TITÃS


Desde pequenos enchemos a nossa cabeça de imaginação vinda do passado. A nossa visão é recheada de símbolos da televisão: Olho de tandera(tandercats), z (zorro), S (super homem)... Enfim, que produzem na nossa cuca uma realidade que passamos a imitar. Criando na gente um senso de realidade(de visão guardada), que após crescermos não morre. Fica na nossa cuca, na imaginação, refazendo o que já passou e criando uma sensação de realidade que é pura. Além de ser muito segura, pois nos dá uma sensação de tranquilidade no presente. É como se estivessemos sempre passando pela mesma rua, onde já conhecemos os postes, os sinais, os cruzamentos, os devios e as pessoas que vivem em casas que pouco mudam. A segurança dc um senso de realidade, portanto construído(montado, como quem faz uma pista de skate) e que é constiuído(como que inaugura a pista e faz funcionar), porque está sempre lá, ao alcance da gente, sem perigo. A vida é assim. Só que precisamos encontar armadilhas pelo caminho, para realmente aprender a cair. Para SER de fato alguém que interfere nas coisas do passado. Um sujeito, valeu ?
O nosso livro tenta refazer este caminho com você. Demonstra que o Brasil foi o único império das américas, teve a sua família real, que deixou de existir como império. Mas que a sua herança continua e faz as nossas cabeças. Ao ponto que, para ver melhor a realidade como ela é, é preciso fechar os olhos e imaginar. Vamos fazer uma experiência de sala de aula? Então feche os olhos e se imagine criança outra vez. Esqueça que te disserram que você "é imortal" , "é fera", " a popozuda", "o sarado", fala sério... Feche os olhos e imagine, somente. Havia um tempo em que você via a Xuxa-lembra? Pois é, ela é ainda a rainha dos baixinhos. Também, você sabe que, desde que o mundo é mundo, o sol é ou não o nosso astro rei ? Chega o ano novo e pra onde todo mundo vai? Ora, levar flores pra Iemanjá, a rainha do mar. Calma, não abra ainda. Leve a sua mente para o triângulo cheio de bolas de gudes coloridas. Opa!!! "marraio, feridô sou rei !" Pronto, pode abrir.
Agora acorda. Você é parte deste passado, mas também constrói a sua realidade. Faz rap, funk, navega no cyber espaço, transa um estilo de vida bem seu. Será? Hum... Não esqueça que você já nasceu num mundo pronto. Mas essa é outra história, que muita gente reclama não ter culpa. De passagem nela e na vida, somos o resultado daquilo que desejamos. O desejo precisa de cuidado e responsabilidade. O mundo pronto, estabelecido, pode e deve ser transformado a todo instante. Inclusive nos fins de semana, onde a cultura de massa (de mercado) está presente. Quem faz rap também tem mãe que gosta do rei Roberto Carlos para dividir o Cd player. Roberto, o rei. Mas a moçada gosta mais do Mano Brau. É, parece, mais racional, um príncipe da poesia urbana da periferia. Se vivemos numa nação que só permite um negro como rei, Pelé o rei do futebol, concordo, está faltando razão. Rei Momo não vale, só é rei uma vez por ano e quando acaba o carnaval... Nem no desfile da campeãs dão espaço pra majestade.
A realeza representa nos corações e mentes do brasileiro o sonho de realização. A felicidade tem o espaço definido. Onde você pensa que estão localizados os castelos hoje? Uma pista: segurança e diversão num só lugar. Ora, Shopping. Lá, bem na Praças de Alimentação, está a corte da modernidade. Local que substitui o Paço Imperial, bem mais amplo, localizado onde hoje é a Praça XV, de onde D. Pedro I nossa majestade esticava o olhar para as novidades. Hoje o passado e presente seguem juntos, em locais bem diferentes. O PAÇO era público. O shopping tem dono (privado). Mas cumprem o mesmíssimo objetivo: azarar, comer, passear... Lugar onde cruzam olhares de príncipes e princesas do momento. Embora ande mesmo meio mudado. Pouca gente queira fundar um reino em casa, casar e ter filhos, logo após sair do shopping. Mamãe já não é mais a rainha do lar, porque foi trabalhar. Disputa outro reinado com papai no mercado apertado de trabalho. Realmente, outros tempos modernos.
Sigamos. É importante reconhecer que toda comunidade é um reino. Concorda? Os menos favorecidos desejam fazer parte do reino do consumo. Ter um tênis bacana, "grana para zoar", "carrão", "celular", "dvd", não seriam essas coisinhas títulos de nobreza? Sim, pois, quanto mais luxuosa a carruagem, maior o ganho de quem toma conta do cavalo no estacionamento. Vivas ao flanelinha de plantão! O resultado da não inclusão da maioria da população na distribuição de renda (din-din), da não igualdade de oportunidades (emprego/educação/moradia). Ah, se fosse apenas o flanelinha... É bom lembrar que a única monarquia das américas foi a última do mundo a libertar os escravos e fez isto de uma vez, que saíram das fazendas para as ruas sem um só tostão (din-din) nos bolsos. Se é que os negros tinham bolsos, porque nada recebiam pelo trabalho. Apenas comida e dormida, em sua imensa maioria.
Eram 700 mil, que subiram os morros porque não houve outro jeito de morar, nem de subir na vida até os nossos dias. As mulheres negras ainda puderam de alguma forma sobreviver melhor nas cidades, como faziam nas fazendas: cozinhar, lavar, passar. Mas embora a vida continuasse dura, também era para os homens negros. Estes foram direto para a marginalidade e criaram os "seus reinos nos morros da cidade". Reis Nagô do esculacho social, excluídos, lotam em sua maioria os grandes presídios de segurança máxima. Saber e poder estão no passado, presente e perigosamente, se não reconhecidos caminhando para uma repetição no futuro. Por isso a história pede para você fechar os olhos e imaginar. O que está em volta , visto de olhos abertos e não preparados para transformar, é repetição do saber e do poder constituído. Quer ver? Veja, pois fundar um novo reino, com "mobilidade social", ou seja, alcançar um bom salário, se formar em universidades (médico/engenheiro), não significa que a pessoa deixou de desejar ser rei (mentalmente) ou ter escravos para o seu bel prazer.
Concluindo, pensar e agir, sem repetir velhas historinhas do passado, entender o seu processo de vida e o que fizeram com ela, é o que de fato faz um sujeito da história. Os símbolos apenas servem para atravessar a rua, as avenidas, os aeroportos e mares. Mas não fazem de ninguém modelo de cidadão. Evitam, apenas, se bem observados, que a história seja apropelada e reduzida a cinzas. Pois no retrato desta memória colonial, que faz parte o nosso imaginário, estão razões muito fortes para chamar pessoas iguais "de meu rei" e desiguais também. Seja por interesse pessoal ou coletivo. É tudo uma questão de saber qual a frequência mental que estamos frequentando. A quem interessa deixar tudo como está num canto empoeirado da nossa própria cabeça. O primeiro lugar que temos que mexer para nos entender como rei de coisa alguma. Para começar.

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