O mundo de tantas certezas não deve temer nenhuma teoria. Juntando-se a tantas, incertezas absolutas e verdade relativas, a obra dos historiador pode ser desafiadora. É o que sempre se espera. Não raro ela surge como reveladora, neste presente que derrete ideologias, transforma quase tudo em pasta e nos submete a pensar sobre a a manutenção do simbólico em nossas vidas. O trabalho de Ginzburg encontra eco a todo momento em nossas vidas .
Ao pesquisar uma seita italiana de curandeiros e bruxos, o historiador Carlo Ginzburg deparou-se com o julgamento excepcionalmente detalhado. Tratava-se do depoimento de Menocchio, um moleiro do norte da Itália, que no século XVI ousara afirmar que o mundo tinha origem na putrefação. “Tudo era um caos, isto é, terra, ar, água e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito de leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos”. Graças ao fascínio dos inquisidores pelas crenças desse moleiro, Ginzburg encontrou farta documentação, a partir da qual pôde reconstituir a trajetória de Menocchio num texto claro e atraente, e desembocar em uma hipótese geral sobre a cultura popular da Europa pré-industrial. O queijo e os vermes-Cia das Letras. Carlo Ginzburg.
Deus é um senhor e os senhores não usam as mãos para trabalhar. ''Esse Deus fez,criou, produziu criou alguma criatura"? -perguntam os inquisidores. “Ele providenciou que fosse dada a vontade para que todas as coisas fossem feitas”-respondeu Menocchio. Mesmo quando comparado a um carpinteiro ou pedreiro, Deus possui sempre "feitores” ou "trabalhadores" a seu serviço. Uma única vez arrebatado pelo seu discurso cheio de entusiamo contra a adoração das imagens, Menocchio falou do "Deus único que fez o céu e a terra". Na verdade, para ele, Deus não fez nada, da mesma forma que Seu capataz, o Espírito Santo, nada fez também. Quem pôs mãos à obra na “criação do mundo” foram os “feitores”, os “trabalhadores”-os anjos. E os anjos, quem os teria feito? A natureza:, a partir da mais perfeita substância do mundo, assim como os vermes nascem do queijo...”p.111
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