terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

TORTURA

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Categoria: POLÍTICA
Postado por: lucyannemano
Jornal do Brasil: Domingo, 14 de abril de 1968 - página 3


Um dia após serem libertados, com vários hematomas e queimaduras de choques elétricos por todo o corpo, os irmãos Ronaldo e Rogério Duarte denunciaram as torturas que sofreram num quartel do Exército da Vila Militar onde foram advertidos que correriam risco de vida se revelassem o episódio publicamente, embora servissem de exemplo para intelectuais, padres, jornalistas e artistas.

No dia 4 de abril, Ronaldo, cineasta, e Rogério, artista plástico seguiram até a Candelária, para acompanhar a missa de 7º dia do estudante Edson Luis. Contudo, em virtude do clima de tensão evidente, acabaram desistindo e foram interceptados por agentes não identificados ao tentarem voltar para casa. Levados por uma viatura, em poucas horas, davam entrada num local soturno, que pressupunham ser, no subúrbio da cidade. Prontamente, seriam iniciados na primeira sessão de tortura das inúmeras que se repetiriam durante dias seguidos. Além de diversas formas de agressão física, foram ridicularizados sob palavras de intimidação e interrogados sobre seu envolvimento no movimento estudantil. Para cada resposta não satisfatória, os recursos de terror se intensificavam, até que exauridos os torturados e satisfeitos os torturadores, a sessão era interrompida. Nos dois últimos dias de clausura receberam tratamento dos ferimentos e hematomas. E viveram um outro tipo de experiência: a tortura psicológica. Das celas em que estavam, ouviam os gritos lancinantes de pessoas em desespero sem saber se passariam pelo processo novamente.

Na última noite, após preencherem um questionário, foram conduzidos a um matagal e deixados onde encontrava-se o carro do próprio Ronaldo. Já em liberdade, seguiram para casa.

Exército nega, mas regime recrudesce
As revelações dos irmãos Duarte causaram imediata indignação nos círculos do Exército. O relato dos dois irmãos foi apontado como contraditório. Mas, diante das marcas de hematomas e queimaduras, nas circunstâncias em que invadiram seus corpos e mentes, a confusão se justificava.

Rogério e Ronaldo foram umas das primeiras vítimas a denunciarem publicamente a tortura no regime militar. O episódio mobilizou várias lideranças. Outros crimes de torturas vieram à tona. Mas, não rechaçaram a incidência de casos que estariam por vir nem coibiram a promulgação do AI-5.

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