quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

ARQUIVO MORTO- POEMAS




A R Q U I V O
M O R T O


Apresentação: Roni Lima;
Prefácio: Florêncio Pinto da Rosa;
Capa, Contra-capa: Simone Barra,
Diagramação: Márcia de Carvalho,
Revisão: Éber FIgueira,
Impressão: Fábrica de Livros SENAI-RJ
Editora Sinonsen-2000.
Todos os direitos revervados ao autor
BIblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Cazuza Vive
Para Dona Lúcia, mãe dele.


Procuro alguém que fale
de um caminho
por dentro de si mesmo
mas avance


Atitude Poética

A nossa ruína é grega
fica combinado assim.


Quinhentos Ônus

Bebendo o suor da Rio Branco
entrei pela Avenida Chile
quase pedi exílio na Paraguai
Nenhum consulado vai me consolar
de United States of América
não quero nada
nem mesmo um terno Panamá
Quero todos os doces da Confeitaria Colombo
pau no burro
pau no lombo
Vou correr frouxo no trânsito
nem terra a vista
nem terra a prazo
fico na beira mar
vou esperar o Cabral
com um pedaço de pau.

Bocas
Para Zé Melo – sax e coração

Boca volúvel cuspiu amor
A vida passando na lavadeira
Disse-me-disse
Roupa suja se lava em casa.

Boca matuta cuspiu mato
Ruminou as ruínas da Grécia
Disse-me-disse
Minas sem ouro algum.

Boca maldita cuspiu política
O fazer para ouvintes é só um verbo
Disse-me-disse
Ditaduras pessoais doem mais.

Boca profana cuspiu versos
Sonetos não são sinos
Disse-me-disse
O pai celestial não lê jornal.

Boca matraca cuspiu balas
Jorram luzes pelos buracos
Disse-me-disse
Quem disse que me calo?

Boca murcha cuspiu dentes
Dormentes não dormem
Disse-me-disse
Passam trens no céu da boca.

Boca louca cuspiu pratos
Vibram vidrilhos nos ladrilhos
Disse-me-disse
O sangue nos pés-de-vento.

Boca calada sopra na calçada
Notas reluzentes em profusa caminhada
Disse-me-disse
Por que não fazer música?

Poesia

Maior que a Ursa Maior
tão grandiosa quanto
um botão
da casa
da camisa
de Deus.

Deus e Ele

A mulher. O céu. A terra. O mar. A montanha. A flor. O Niemeyer.


Enquanto a luz brinca com os cabelos de Joana

É como se eu e você tivéssemos apenas uma mera impressão das coisas. Tudo está no mesmo lugar. Desde sempre, irmão. Um chapéu de palhaço jogado no canto, o sol – que é a única democracia absoluta de fato brilhando – e um monte de aparelhos fazendo o trabalho repetitivamente.
...Ah, sim, há os de cima, os de baixo e os de lado, cantando um troço inaudível pra chuchu! Sei que corremos um certo risco de não estarmos enquadrados... Mas pense bem: o que seria da paisagem sem o nosso olhar comovido e esperançoso? O Toddy Morno. O tédio frio.
...Se um dia alguém perguntar alguma coisa, diga que somos torcedores da raça humana e que aqui estamos de passagem, fazendo turismo sensitivo e ecológico.
Vai ver eles entendem.


Escolas de Sombras
Para Mário Quintana

Senhoras e senhores passou
O poeta passarinho
O amplo recinto da esperança – passou
Falta agora passar o rabo balançando
O cão faminto.
Amanhã sai o resultado.

Tentativa de construir um poema

Conte com você mesmo a toda hora
Permaneça fiel à memória dos seus antepassados
Confie plenamente nos seus defensores
Dê aos detratores da sua pessoa o direito de reconhecerem
a lei da causa e do efeito
Amanheça exaltando a vida sempre
Desfaça o caminho da ilusão
Nunca duvide da justiça divina
Aponha-se à opressão
Divulgue a boa obra
Troque opiniões de modo respeitoso
Seja generoso para com os ignorantes
Esteja limpo com a tua consciência
Ramifique a tua inteligência em ações concretas
de modo a exercê-la em nome da expressão.
Da simplicidade busque o conhecimento de maneira ampla
Escreva procurando atingir o senso comum
sem restringir a linguagem
Tente evitar a idealização do ser amado
Conheça-o bem trocando a verdade
Corrija o rumo sem perder a dignidade
Aprenda a distinguir o belo diante das aparências
Observe sem perder-se com futilidades
Demonstre. Demonstre. Demonstre.

Anos 90

Vamos dar um passinho a frente,
disse o motorista de abismos.
Mas antes alguém pediu para descer no sinal
Talvez intrigado – quem sabe
Com as vanguardas que perderam
A direção do coletivo.

Manifesto para todos

Apatia, dor na consciência, exílio cultural?
Acorda Pascoal!
Não roa a corda, segure as pontas e leia tudo o que cair nas suas mãos ou estiver suspenso em murais. Até bula de remédio, rapaz. A pior coisa que há são rodinhas onde você entra com o ouvido e acaba surdo de tanta abobrinha, pepino e baba em profusão. É um mundo cão, amigo.
Mas não somos cachorros não, democratize. A informação é para circular como um balão, de mão em mão, da ponta do cabelo até o dedão. A qualidade da sua vida não é um departamento da ecologia. É também, basicamente, da relações que freqüentamos. Quando venderem para você a idéia de que você é um chato, desconfie. Segure a barra, observe. A crítica precisa de substância para existir como crítica válida.
Vá em frente!
Inicie sua produção, elabore, pense. Você não está sozinho.
A história de toda a humanidade está em suas mãos, herdada. Pega que é tua. Faça dela o seu caderno, diário, poema, flor, mulher, automóvel, disco voador.
Deixe, enfim, as suas pegadas. Homem.

Nós também não gostávamos de jiló


A luz do sol entrava pela janela gradeada
fazia um jogo da velha sobre a folha branca
veio a mim me levantando pelas orelhas
atravessando comigo a extensão do corredor
O quadro negro queria gritar mas era 1969
A vara de marmelo dava as ordens
Bafo-bafo, porrada, guerra d’água
A gente não imaginava o que era talidomida
Lá fora uns meninos trocavam tiros com a polícia.




Todos estão surdos, cegos e mudos
exceto os mudos, cegos e surdos
que estão vendo, falando e ouvindo
aquilo que interessa transformar.

Crônica 17168

O deputado liberal encontra o social pateta democrata para comer moelas e tomar posse da praça.
O primeiro sobe o palanque e consegue dizer:
“Que a sociedade exige a privada ação dos rebimboques dentro do mundo globalizado enquanto onde tudo depende da inserção do escravo no mundo globalizado”
O segundo diz que tem uma missão
“Que é salvar o mundo do Brasil antes que o Brasil nem mesmo tenha a chance de salvar a cachaça do santo”
O povo desconfia mas não tem a mínima certeza sobre o assunto. Então, aplaude.
Dois ou três caras a esquerda do propositório dormem
“O sono de cinco séculos” – Tradução aproximada: “Do not disturb”
“Quem dá tudo o que tem acaba voltando à condição de nascer de novo”. Assim falou o mentecapto Onofre Faustino de Souza, encontrado apenas de frauda após assalto na rua do Imperador.
“O Imperador não estava nu”. Comentário do guarda n.º de série17168, que socorreu a vítima.
Em seguida passou um rádio para amarea zero. Ali, bem próximo, o Estádio Proletário muda de nome para Moça Bonita.

Falárica*

Se diz tanto.
Falácia de sentimentos
envolta em nuvem etérea
as palavras.

Declarar amor, que fácil!
inútil paisagem de ilusão.
Atirar palavras n’água
tanque estanque de lavadeiras.

Eterno jogo de crianças
palavra bola rola
para cima para baixo
vibrar a parede da memória?

Que tamanho desvalor, senhores!
desmedida sombra paira
quereis falar de encanto?
Empurre velhos ladeira abaixo.

O primeiro homem urrava
que telefone, qual nada!
Primeira regra fenícia:
tudo é mercadoria.

Ora poetas, direis ouvir estrelas?
Pois entrem os anacoretas
vamos atender as baixas
sem nenhum instrumento
em uníssona gargalhada.

*Falárica sf. ‘dardo incendiário’.



Ideário Amoroso

Um amor. Taí algo bom e inatingível. A lua está lá na dela, longe. Um amor necessário. Sem ficar dissecando sapos, do tipo que aprendeu na escola, ou disseram que homem é tudo igual e achou bonito de dizer. Um amor sem pressa, exageros, cólera e creme nívea. Daqueles que só existem coabitando com o mundo, mas não levando o mundo para cama. Eta amor difícil! Vai ver está procurando também e por um tantinho desencontrou, perdeu o metrô, o tempo, a vida toda esperando. Um amor, um leque de papel chinês. A mão direita acenando. A mão esquerda rebolando os quadris, para manter tudo quente, neste caso, um amor para sempre. Um amor. Um amor qualquer, que me chame de Rimbaud, de Baudelaire, do nome que convier. Daria tudo para ter um amor assim. Um amor. Um amor vagabundo vestido de páginas clássicas, encantamento, cores, arrepios, e preces para durar enquanto o sândalo rastilhe a dignidade do ar. Um amor. Um amor pensado levemente quando ausente. Um amor que guarde segredos. Um amor que revele a si mesmo como um caminho escolhido por vocação do prazer. Um amor que leia o olhar e tire os óculos d’alma para enxergar sem preconceito, sem o massacrante racionalismo materialista , que seja receptivo como a flor diante da abelha. Uma amor que cante como uma Maria Louca renovando a esperança quando acorda para um nono dia. Um amor que erre, fracasse e nunca passe pela vergonha de se acomodar. Um amor que tente encontrar uma solução para tanto desamor, que não cesse de brilhar e creia na verdade intuitiva dos bichos. Um amor que comemore a vida e despreze a culpa, que use a atenção para evitar as armadilhas ilusórias do capital. Um amor produtivo que faça como meta a cooperação. Um amor simples como beber água nas conchas das mãos. Um amor que seja digno da palavra. Um amor que tire a máscara e vá dançar um tango. Um amor que goste de caminhar. Um amor que mereça os passos do homem na lua. Um amor que traga o araudite para consertar a lira mágica de Orfeu. Um amor cuja a única virtude seja ter as mãos vazias. Um amor para aplaudir quem sonha por sua chegada.



Dentro da Asa Morna do Vento

Nós estamos dentro do mundo.
Mas o mundo não está dentro de nós.
Dexter Gordon
Around midnight


Dentro do mundo
cabe falar o necessário
A todos os ouvidos mercadores
para não ter que voltar atrás
Ao tempo que vendiam homens
para carregar vaidades.


O mundo não está dentro de nós
por opção do por do sol que põe
ovos vermelhos e depois desmaia
de tanto esforço desnecessário.


Para a maioria que só vê
o umbigo avaliado como
coisa balançada de propósitos
duvidáveis enquanto a nossa
parte cabe ao rebolado para
ser a máxima expressão
do chacoalhar de um bater
de asas em mansa e reta
retirada.

Cura

Doutor esqueça o isordil
receite duas cápsulas de blues por noite
e alguém para apertar o play do amor.


Manifesto Bacalhau

Sem medo do erro. Certos ou errados, acertar tentando! Porque em nome da eficácia, fria é a lápide onde repousa a epígrafe: aqui jaz aquele que passou sem dar um único passo descuidado, o coitado viu de perto a morte ainda inacabado... Enquanto a vida ainda propicia sua dinâmica de laços fraternos, perdão e audácia, dizendo: faça! Pegue o leme! A direção do barco! Vai! Construa a tua arca com fibra ótica, garrafa, bilhetinho dentro em caso de naufrágio explicando tudo: “ – morri afogado cantando fado por devoção a portuguália afiada”. E nem um deles deu por encerrada a jornada. Nem mesmo meu fantasma, o gajo acha ainda que é um batizado com exagero d’água. CAMÕES BABY! Ora, pois estamos todos fartos de roubadas. Não queremos os paus-brasis sobrados. Nem a soberba dos vencedores instalados. Mas por que não, outra vez, o Caminha com as Índias vencidas. Só para ver se acertamos de vez nosso destino, sem tanta água rolada no azeite da mulata exportada. Passar a limpo o mapa. Olhando as estrelas debochadas encerando o convés da Terra pra que a gente escorregue de vez em mares nunca dantes navegados pela palavra. CAMÕES BABY! O único porto que me cabe é o vinho DO PORTO. E o armarinho prateado do Roberto AZUL-MARINHO é pequenino, já não fala a nossa língua afiada. Salta aí um bacalhau! A Elvira do Ipiranga enfim vai chacoalhar as margens plácidas. Neste boteco à beira do novo século. Atrevido. Atávico. Tamanho do nosso tamanco em desmedida revoada. Cá em cima tem um tiroliroliro e lá em baixo tem um tirulirulá.

Posição
Para a geração 70


A única posição possível, neste fim de século, consiste em estar plantado acima de todas as contradições, para nascer uma esperança da mais alta e nobre árvore dialética.

Expressão

Não fique a esperar o dia em que a grande obra chegará. Fazer parte do diálogo entre corações abertos é por si só uma sublime tarefa. O imaginário é um campo de liberdade fértil. É um verdadeiro esteio, nele o poeta caminhará deixando para trás versos a germinar. Nenhuma indústria, por mais poderosa, será capaz de sobrepor este ciclo da natureza humana. Há alguma coisa acontecendo independente do acabamento, que não é produto, sendo que está cumprindo a meta sem preocupações com mercados. É o que move. Tendo uma engrenagem suspensa no ar, é tão fiel a verdade, que a chamarão de pura. Mas não, quem realmente a conhece sabe seu nome: Expressão!!!

Instituto Zeferino de Oliveira, 15h, 5 de Julho de 1974
Tratamento dentário suspenso para as crianças da Guanabara

Perdi meus dentes numa cadeira de dentista de um bairro sujo. Levei um bom tempo para voltar às ruas. Ouvi Beatles num rádio de válvula que demorava para esquentar, nele Piaf ainda canta na minha cabeça numa edição meio arranhada. Descobri que não há nada mais colorido, para quem não teve tempo para dedicar-se ao arco-íris que a multiplicidade de cores da feira livre. Lembro do meu pai enquanto descíamos em direção ao cruzamento numa bicicleta alemã sem freio, falar para de modo algum dar adeusinho se visse algum amigo. Ele mau sabia queu não tinha nenhum. Eram todos matadores de passarinhos e eu já tinha feito a minha primeira escolha. Tive uma infância bem pobre que nem de perto superava a miséria que a minha mãe e meus tios passaram com o meu avô durante meses dormindo na Central do Brasil e pedindo esmolas para comprar pão. Tive uma calça Lee de segunda-mão com detalhes de ressentimentos. Tomei sopa de alho com marujo sobrevivente do cerco à Madri. Botei pra correr a TFP que distribuía uns papéis no centro da cidade. Foi bonito ver aqueles estandartes no chão da avenida que eles nos tiraram. Tenho uma lista de caras que sabem das coisas que aumenta muito pouco agora. Arranjei emprego em jornal pedindo carona. É preciso que cada um carregue o seu próprio divã nas costas com a maior humildade possível. Também perdi Eurídice. Continuo sabendo bem mais do que deveria, agradecendo a Deus por jamais me ter imposto fronteiras covardes queu não pudesse morder mesmo sem dentes.

Vira-lata

Plantei versos em mato sem cachorro
Puseram poste
Colei metáforas vira-latas.

Inventário Cineclubista
Para os manos de Jean Renoir

Todos os meus erros estão passando num cinema poeirinha do interior d’alma.





Estamos todos dentro de uma
caixinha de surpresa.
chamamos isto de metafísica
mas é só encanto e susto.

Rafhael

Meu anjo, diz uma coisa pra mim,
como é segurar as barras minhas?
como é ter que ouvir minha
vitrolinha
e aquela agulha pulando
feito uma fagulha
tanta honra assim,
deus mereço eu?
tê-lo pelos bares,
você não morre de tédio?
Desculpe, meu anjo, você está noutra
sei...
e quando danço como um louco
rodando como um ventilador
de teto
Ah, meu bom...
você sabe que eu tomo chuva,
que não levo desaforo para casa
e ainda me empresta as asas
para enxugar as lágrimas?
Olha, quando for meu dia,
mesmo que eu tenha bico-de-papagaio,
prometo que vou dar um tremendo lustro
nos teus sapatos.


Tão Gente

Gente que fica olhando como se você
fosse uma mosca dourada,
o sentimento de pegar a mosca,
como coisa repugnante
e aprisionar como coisa de valor.
Gente para saber se você vai de
mal a pior,
Dando o mínimo de importância
para reproduzir a
infelicidade como coisa certa
e líquida como a saliva.
Tendo tanta sorte assim
você só precisa estar morto
para ouvir a mesma conversa
sobre os valores que deixou,
como um suporte para pendurar
a camisa.
Gente que necessita saber onde
você será enterrado
para dizer pra tua família
que você foi acima de
tudo
gente.





Sou um Samba de roda-gigante




Marinheiro de Argos


Pequena ceifadora de luas
Fazei-me no ofício a leitura tua
Ardes, bem sei, minha
Literatura de soberbo sol.

Ah pequena de beijos...
Quando bem sabes desejo
derramar a amargura tua.

Dizei antes da derradeira lua,
podeis incendiar memórias?
Ata-me ao fogo dos joelhos
Poeta que pareço de cem anos atrás.

Se quereis sonetos, leia-os!
Clarividente girassol, teço-os!
Tu que agora sentes o preço,
do suspirar de mascates dos verbetes.

Leia-me tão completamente
Sem que possas ir-se impunemente
Ver-se em outro que não vês
Longe do fogo iridescente teu.
Podeis voar a cortar luas?
Escolher escolher-se pedra nua?
Fazer-se véu a cobrir brandura?
Se podeis...

Há muito não importa a chaga
Se és da lira
sou camisa rota
Se sabeis dê-se ao passo infinito

Sobre o leito do peito meu
imenso é o rio de rastilhos
Gozo de louvor e ritmo
dentro e fora do papel.

Desgramático

Ponho a vírgula onde achar necessário
Exclamo quando quiser
Interrogo muito além do porquê
Quer saber?
Sou reticente...
E não creio em ponto final.
Nunca usei o trema
Não fixo parágrafo
E se pudesse revolucionar
Meus dois pontos estariam
Lado a lado.

Páreo Duro
Para Roni Lima

Fumar um cigarro e correr para apostar
Formiguinha Amassada No Sofá,
É o quinto páreo, gosto do nome.
Alguém do meu lado,
é barbada!

Lá vai ela,
raia pesada,
em solavancos de sadismo,
como num trem,
num ônibus,
barca em mar bravio,
corre a formiguinha.
A cem metros de chegada,
a imagem da puta do terceiro páreo,
me deixou na mão pensando na Lídia Brondi,
indago-me o porquê do continuar apostando em éguas,
Formiguinha Amassada No Sofá atropelando no final,
um, dois, três, quatro, cinco mil corpos celestes,
Formiguinha quebra a pata,
Formiguinha se arrasta,
Formiguinha é sacrificada,
uma imagem vale mais do que mil palavras?

Frases D’efeito


Eficácia que só tem um lado é roubo.

Todo canalha tem um modo prático de piorar as coisas.

Se você encontrar a cigarra por aí, diz para ela continuar cantando, até arrebentar com todas as estruturas surdas.

A maçã do marketing é de plástico.

A única ilusão aceitável é o algodão doce.

O silêncio é a arte de fazer barulho com substância.

O silêncio é apenas o caos descansado do almoço.

A voz da minha consciência anda falando sozinha.

Camões, baby!

Preciso de você para prosseguir perdido no mundo. Como quem encontrou o lugar certo para perder-se definitivamente.

É preciso construir a ponte entre gerações, levando em conta a presença interativa da arte, sem ocultar jamais a liberdade da escolha, os bens para a produção e o ensinamento irrestrito do método.

Ou a cultura e a educação andam juntas, sem esquecer de olhar para todos os lados na hora de atravessar a vida... Ou aparece um caminhão desgovernado para atropelar a civilização.

Toda experiência humana no campo das artes deveria ser repassada, desde o primeiro momento que berramos saindo do ventre da mãe. Deste modo sairão as futuras gerações cantando um blues. O médico usará as mãos apenas para aplaudir.

Comunicados. Comunicados. Comunicados. Até quando necessário for, estaremos emitindo comunicados que aproximem o homem de si mesmo.

A ordem dos fatores não altera o produto do meio fio.

O pior inimigo é aquele que se esconde atrás de uma imagem institucional.

O homem opta pela fome e um silêncio fundo, que mata a coragem antes de agir como homem.


Um país fazia-se com homens e livros.
Cadê o país?
Foi por ali.
Cadê os homi?
Foi por ali.
Cadê os livru?
Desescreveru.



Nós aprendemos a sorrir no meio da lágrima.



Mariana

Mariana tem nos cabelos
um brilho de cidade antiga
uma peraltice meio sacana
um pouco de Maria
e um pedacinho de Ana

Mariana é um ciclo de ouro
que faz pouco do anjo barroco
brinca com ele
no seu lado torto

Mariana mistura tintas
colore gente,
que fantasia
a vida em preto e branco
voa Mariana!
que a vida é feita para quem sabe voar

Andar

É preciso prosseguir diariamente buscando encontrar-se antes de dar-se ao outro pela metade. A metade de um vaso quebrado é incapaz de guardar a água e reter a flor. É quase nada. Mas se a cada dia, incessantemente, caminharmos, na direção do nosso próprio encontro, deixaremos para aquele que chega o tacho da melhor água. E também a luz definida, tranqüila, para repouso do viajante cansado.
Caminhemos, pois, sem culpa alguma. Deixemos para trás o peso das horas de jornada, o fardo do convencimento geral e os erros que erramos por inocência combatendo os efeitos e esquecendo das causas. Humanos, definitivamente humanos é o que somos e , portanto, capazes de prosseguir na direção da correção do rumo. Viver vale a pena. Navegar vale muito mais. E estamos conversados, até que Deus nos junte, com seu araudite para almas de borracha definitivamente. Tenho dito, assino em baixo e dou fé.

Alguém que anda por aí.



Tiro ao Álvaro

O meu eu
encontrou o teu
tentando passar um e-mail
pra você de Viena.






Passam em mim dois rios
o de Janeiro
e o Rio Grande


Comer Pessoa
Para Adriana Calcanhoto



A média do pensamento desconhece o biscoito de amêndoa português.
Mundo Cão

Atriz compra papelaria
só para garantir
o papel.


Go Home

Entrega a tua rapadura
enquanto observo o movimento
dos passantes sem dentes desfraldarem
um sorriso bandeira
para os soldados e os cães em fileira.


Poema para Heloísa

Talento era uma moeda
que não pagava o ingresso
para ver os Rolling Stones
da época.


Bandida

Dentro de mim
tem um anjo
rabiscando indecências
quando vê você passar
impunemente.




Quem planta caminhos
colhe horizontes.

Mãe

Não se perde madrugadas
ganha-se alvoradas.



É bom perguntar
primeiro a quem
interessa viver
de aparências
enquanto a alcatéia
avança.

O Circo

As horas passam sem que tenhamos tempo de consultar o relógio.
Tudo é só salto sobre todos os riscos.
Nenhuma rede abaixo do trapézio.
Nada.
É o momento de parar o circo.
Ainda há a possibilidade de soltar os bichos!
Ir de frente para o público sem ensaiar a verdade.
Mandar todo mundo para casa sem maiores conseqüências...
O Espetáculo está temporariamente suspenso:
Até que o palhaço volte a sorrir;
Até que tenhamos a certeza de que estamos fazendo a coisa certa com o leão;
Até a mulher barbada fazer a barba;
Até o homem que engole fogo tomar um copo d’água boa;
Até que o anão volte a crescer;
Até o atirador de facas parar de tremer diante do alvo;
Até que o elefante volte para a África;
Até você e eu voltarmos a sentir alguma emoção que pague o ingresso e a pipoca.

Um Táxi Para Miles

Reconheci uma mulher louca dentro do corpo de outra normal. Bem na hora pedi a Deus, com emoção, que devolvesse aquele corpo à creptante brasa que ali adormecia. Olhei bem no fundo daqueles olhos e vi a doida solta dançar em nome da tarde e da liberdade dos amantes do planeta azul em que nascemos. Ela cantou com as lavadeiras do rio São Francisco, estendeu roupas coloridas sobre o sol de junho e depois brincou de rodas com as crianças que já não tinham medo dos monstros que a normalidade cria. Encontrei com ela no fim da noite e bebemos vinho com o luar acima das nossas cabeças altas, bem perto do fogo. Nos amamos até a última gota do orvalho, que caía sobre os nossos corpos suados madrugada adentro. Acordamos e partimos para lutar todas as lutas d” alma, nos apoiando na dignidade do dia que nascia livre, como certos homens que não se dobram como sino das igrejas. Desconcertados e completamente felizes, percebemos que o paraíso estava vivo e agradecido de nos ter de volta ao fruto proibido. Deus, então, finalmente sorriu e depois daquele dia voltou a tocar com Miles Davis.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

RECADIM....

Estão enganados aqueles que pensam que vou desanimar. Muito mais quem imagina que vou reclamar! ESTÁ TUDO INDO MUITO BEM! Totalmente dentro das previsões lidas diariamante dentro ou fora da tradição. NINGUÉM VERÁ NENHUMA FORMA DE PROTESTO AQUI! Eu protestar? Logo eu? QUEM ME CONHECE SABE QUE NUNCA PROTESTEI...Somente fiz valer direitos. QUEM EXPERIMENTOU PULAR FORA DA LINHA LEVOU O SEU. Podem continuar tentando...DURA LEX...Mas doçura não falta pra quem estiver presente no meu peito...não falo só os amigos... ASSIM É MOLEZA. LEVO TODO MUNDO QUE PULOU PRA ESTE LADO DA REALIDADE, O lado da sociedade aberta as idéias e formas de abraços! Então, bom fim de semana!
PAZ, REALIZAÇÕES, PROCEDIMENTOS RAZOÁVEIS E CONSIDERAÇÃO! O RESTO É PAU!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

BEATITUDE

Beatitude

Outro dia eu vi dois arco-íris sobrepostos num céu reticulado num degradê mágico
Bem no fundo deles raios azuis -dourados roxo-dourados emolduravam a minha visão pela frente
Enquanto que pelo lado surgia rápido uma luz amarela filtrada após a tempestade que passara
cujo efeito acendia um farol intenso brilhando na parede branca da casa que parecia encantada
Bem atrás lá estava o arrebol que mudava de cores em fashes continuos e desconcertantes
que emitiam segundos contados por azuis rosas verdes cinzas amarelos dourados prateados
ampliando a linha do tempo a realidade do tempo transmutado àquele momento
entre as nuvens adornadas pipocavam outras menores que desenhavam formas
especialmente cobertas por linhas de raios de sol
simples
iniqualáveis
O meu pensamento recebia estímulos elétricos que pelas retinas dos meus olhos penetravam
cuja mensagem continha um segredo escrito sem palavras numa língua pintada de luzes
numa linguagem que ria o hálito limpo do vento lavado da chuva
Era meu aquilo que Deus sem nenhuma droga me confiava.
Veio limpo
restaurado em forma de sorriso
sem tradutores
livre
possivelmente belo.
EA

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

PEDRO I VOLTA

1972 - Médici saúda despojos de Pedro I

Jornal do Brasil: Domingo, 23 de abril de 1972
Como parte das comemorações do Sesquicentenário da Independência, os restos mortais de Dom Pedro I foram transladados do Convento de São Vicente de Fora, na cidade do Porto, Portugal para o Brasil.

O Presidente Garrastazu Médici agradeceu ao Presidente Américo Tomás a entrega dos despojos de Dom Pedro I, declarando que "pelo vigor e audácia de seus filhos, como intimorato protagonista da História, Portugal infunde na alma brasileiro a energia de sua capacidade criadora". O navio português Funchal entrou na baia de Guanabara e emparelhou-se com o navio Piraquê para transferir o esquife de Dom Pedro I. O Funchal havia partido de Lisboa no dia 10 de abril para chegar pontualmente neste dia 22.


Jornal do Brasil: Domingo, 23 de abril de 1972
Numa breve cerimônia, o comandante do navio brasileiro recebeu a urna com os despojos no cais do Morro da Viúva. Em seguida os Presidentes Garrastazu Médici e Américo Tomás dirigiram-se para o Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial, passando pela Avenida Rio Branco, onde foram aplaudidos por umamultidão. Dom Pedro I voltou temporariamente a morar na Quinta da Boa Vista, até seguir em peregrinação pelas capitais de todos os Estados brasileiros. Ao final a urna foi depositada no Monumento do Ipiranga em São Paulo.

Jamais deixarei de ser brasileiro


O Duque de Bragança, Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal, deixou o Rio com destino a Europa mas nunca deixou de ser brasileiro. Português de Queluz, emigrou em companhia da família para o Brasil com 10 anos de idade e se fez homem no Rio de Janeiro, entre São Cristóvão e Santa Cruz. Fazia alarde da sua condição: "Foi inexplicável o prazer que minha alma sentiu, porque então conheci que a vontade dos povos não era só útil, mas necessária para sustentar a integridade da Monarquia em geral, e mui principalmente do grande brasil, de quem sou filho".





Trumam AJUDA A EUROPA


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Categoria: MUNDO
Postado por: lucyannemano
Primeira página do Jornal do Brasil: Domingo, 4 de abril de 1948

"Poucos presidentes tiveram a oportunidade de assinar uma lei de tal importância... É a resposta dos Estados Unidos ao desafio que o mundo livre hoje enfrenta. É uma medida para a reconstrução, a estabilidade e a paz do mundo. Seu objetivo maior é assistir à preservação das condições sob as quais as instituições livres podem sobreviver". Harry Truman

O Presidente Truman assinou a Lei de Auxílio, mais tarde conhecida como a Doutrina Truman, aos países estrangeiros. Entre seus propósitos estava a autorização para a execução do Plano Marshall. A ação de recuperação européia previa uma doação norte-americana na ordem de seis bilhões de dólares em investimentos, além de outros benefícios para superar o mal-estar econômico-financeiro que assolava o mundo no Pós-Guerra. Os maiores favorecidos foram a Inglaterra, a França, a Itália e a Alemanha. O aporte inicial priorizou a compra de alimentos, rações e fertilizantes. Logo depois, investiu-se em matérias-primas, semi-industrializados, combustíveis e máquinas.

Em face da devastação resultante da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Velho Continente vivenciou contínuas manifestações de contestação aos governos constituídos. As reivindicações mais incidentes refletiam a realidade caótica instaurada no continente: as necessidades sociais gravíssimas estendiam-se a todos os setores da vida européia. Nesse panorama, os Estados Unidos perceberam uma oportunidade de garantir o futuro do capitalismo, estreitar relações com os países europeus e manter o ritmo das exportações conquistado com o fomento do conflito mundial. Tal manobra foi uma resposta à expansão da União Soviética, que conquistava partidários do comunismo em todo o continente.

A supremacia americana na Europa

Durante os quatro anos de ação do Plano Marshall, o governo norte-americano investiu aproximados 17 bilhões de dólares na reconstrução da Europa Ocidental.

A partir da entrada dos recursos, o resultado foi quase que imediato. Com a retomada de fôlego, os países beneficiados reergueram os seus meios de produção e reorganizaram o comércio interno. Por outro lado, o grande favorecido com a estratégia foi o seu próprio idealizador. Os Estados Unidos garantiram a exportação de seus excedentes, autenticaram o seu prestígio, e consolidaram sua hegemonia na Europa Ocidental.

DECRETADO AI-5


13/12: 1968 - É decretado o Ato Institucional nº5

Categoria: POLÍTICA
Postado por: lucyannemano
Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável.
O país está sendo varrido por fortes ventos.
Máx.: 38º em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras.

Jornal do Brasil

Primeira página do Jornal do Brasil: Sábado, 14 de dezembro de 1968.

Na noite da sexta-feira, 13, com o objetivo de administrar a crise política, o Governo do General Arthur da Costa e Silva baixou o Ato Institucional nº 5, e com base nele, o Ato Institucional Complementar nº 38, que decretou o recesso do Congresso Nacional, por prazo indefinido.

Entre as resoluções do AI-5, suspendia-se os direitos políticos, e proibia-se atividades e manifestações sobre assuntos dessa natureza, condicionando a infração a severas penalidades, desde a liberdade vigiada ao domicílio determinado. Para garantir a ordem, os quartéis mantiveram-se em rigoroso regime de prontidão, e mobilizaram-se integralmente as Polícias Federal, Militar, Civil e a Guarda Civil.


O ano de 1968 foi de grandes protestos contra o regime militar. No início do ano, artistas de teatro mobilizaram-se contra a censura. Em março, uma manifestação universitária no restaurante Calabouço terminou na morte do estudante Edson Luís. Greves e passeatas eclodiram em todo o país, culminando com a passeata dos 100 mil, em junho, no Rio.

Atentados, expropriações, paralisações prosseguiram no segundo semestre em diversas partes do país. Um dos momentos mais tensos foi o discurso do deputado Márcio Moreira Alves, no início de setembro, conclamando a população a boicotar os eventos programados para o Dia da Independência. A declaração elevou ao máximo o descontentamento dos militares, que pediram a cassação do deputado. O pedido foi rejeitado pelo Congresso (216 votos contra, 141 a favor e 24 abstenções) na véspera da instauração do AI-5.

Anos de chumbo e a censura
Nos dez anos de vigência do mais cruel dos Atos Institucionais, sua fúria consternou a sociedade brasileira e internacional. Impondo-se como um instrumento de intolerância aos contestadores do regime militar, promoveu arbitrariamente repressão e intervenção, cassação, suspensão dos direitos, prisão preventiva, demissões perseguições e até confisco de bens.

A censura federal, recrudescida, atuou veentemente na interdição de mais de 500 filmes, 400 peças de teatro, 200 livros, e milhares de músicas. Tudo sob a égide da segurança nacional.

CENSURA REEXAMINA REVISTAS

EDUARDO PIMENTEL AFFONSO

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Jornal do Brasil: terça-feira, 17 de abril de 1973
O General Nilo Canepa, diretor do Departamento de Polícia Federal, baixou a Portaria número 209 que determinava o reexame de todas as publicações periódicas e o registro das mesmas no Departamento de Censura.

O objetivo da portaria era verificar a existência de matérias potencialmente ofensivas à moral e aos bons costumes, e que não deveriam ser expostas à venda nem distribuídas a seus assinantes.

O Ato Institucional no. 1, de 9 de abril de 1964, foi o documento pioneiro da censura. Em agosto de 1966 o governo promulgou a Lei no. 5089 proibindo a impressão e a circulação de publicações que trouxessem crimes, terror ou violências como temas dirigidos a crianças e adolescentes. Com o AI-5 em dezembro de 1968, o Decreto-lei foi instituído um novo Código Penal, que fazia referências aos meios de comunicação.

Todas as revistas que circulam no país, nacionais ou estrangeiras, deveriam ser registradas na Divisão de Censura e Diversões Públicas do DPF. Com esta nova portaria, ficou abolido o uso da embalagem em material opaco, resistente e fechado, que era destinada a evitar o acesso de menores às publicações a eles proibidas.

Os órgãos descentralizados do Departamento de Polícia Federal deveriam recolher as publicações em que fossem encontradas circulando sem registro e enviar ao Departamento de Censura um exemplar de cada número arrecadado, para averiguação das matérias nele contida.

A portaria baseou-se no Decreto-Lei de 26 de janeiro de 1970, assinado pelo Presidente Médici. "Não serão toleradas as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes, quaisquer que sejam os meios de comunicação".




Revistas deixam de circular

Como resultado das averiguações foram proibidas 46 revistas estrangeiras e 14 nacionais, inclusive as de humor do gênero de Garotas e Piadas, Evas e o Bom Humor.

Como repressão à divulgação de temas eróticos, revistas estrangeiras de atualidades, como Der Spiegel e Stern, e de entretenimento, como Penthouse, Lui, Playboy e Playmen - que havia publicado as fotografias de Jacqueline Onassis nua, deixaram de circular no pais por determinação do Sr. Rogério Nunes, diretor da Divisão de Censura de Diversões Públicas, do Departamento de Polícia Federal.

BRASIL RECONHECE ANGOLA

EDUARDO PIMENTEL AFFONSO

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Jornal do Brasil: Independência de Angola


O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola. A declaração foi feita através de nota oficial divulgada pelo Itamarati um dia antes da cerimônia de posse do novo governo, instalado na capital, Luanda. O ministro Ovídio de Mello, embaixador especial do Brasil em Angola, foi credenciado para representar o presidente Ernesto Geisel na solenidade. O chefe de Estado brasileiro foi o único das Américas convidado pelo presidente Agostinho Neto, que liderara o Movimento pela Libertação de Angola (MPLA).

O comunicado do Itamarati declarava também a posição do Brasil de não interferir nos assuntos internos do novo estado independente, o que equivale a não tomar partido nas disputas pelo poder entre os três principais grupos nacionalistas armados: o MPLA, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para Independência Total de Angola (Unita).


Portugal não teria reconhecido a autonomia política de sua ex-colônia porque cerca de 250 mil portugueses ainda moravam em regiões dominadas por guerrilheiros inimigos do MPLA, que tomou o poder.

Depois de proclamada a independência, eclodiu a guerra civil, que devastou o país. Holden Roberto, líder do FNLA, juntou-se a Jonas Savimbi, da Unita. Ambos recebiam apoio militar dos Estados Unidos e da África do Sul, enquanto o MPLA, de Agostinho Neto, era ajudado por armas soviéticas e tropas cubanas. O conflito só terminou em 2002, com a morte do líder de Savimbi. O acordo de paz foi assinado e Angola retomou o crescimento. O país é um dos mais extensos da África, fica na Costa Ocidental do continente, e tem petróleo, diamantes e forte agricultura.

Eleições livres depois de 16 anos

Os angolanos votaram pela primeira vez desde 1992, para formar um novo parlamento, no início de setembro deste ano. Segundo observadores da União Africana, não houve registro de intimidações ou fraudes. O MPLA, partido do presidente José Eduardo Santos, venceu as eleições parlamentares com 82% dos votos contra 10,5 %. A Unita, principal partido de oposição, aceitou a derrota e parabenizou o vencedor José Eduardo Santos assumiu a presidência em 1979 depois da morte de Agostinho Neto, o presidente-poeta, que buscava eliminar divisões étnicas no país.

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E EXECUÇÃO DE MUSSOLINI



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1945 - A execução de Mussolini

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Categoria: MUNDO
Postado por: Ana Paula Amorim
Jornal do Brasil: Terça-feira, 1 de maio de 1945
A luta prosseguiu durante toda a noite e morreram de 150 a 200 guerrilheiros. Ao amanhecer a cidade estava dominada pelo comitê nacional de libertação. A Itália se achava quase completamente ocupada pelos aliados, e poucos dias depois terminaria a Segunda Guerra Mundial.

Uma multidão amarrou com arames os cadáveres de Mussolini e da sua amante Clara Petacci pelos joelhos, pendurando-os numa viga num posto de gasolina.

A população tomada de fúria indescritível, pisoteou repetidamente a face do ex-Duce, até que se tornou impossível reconhecer à primeira vista as feições características do antigo ditador, que governou o pais durante duas décadas. Todos os dentes foram arrancados em conseqüência de pontapés. A saia de Clara Petacci foi arrancada e a multidão cuspiu sobre ambos os cadáveres. Junto aos corpos haviam sido colocados os de outros quatro fascistas.

Os cadáveres foram removidos por um caminhão para o necrotério público, onde foram colocados em local onde pudessem ser vistos por toda a gente. Já então, a cabeça de Mussolini se havia convertido numa massa amorfa, irreconhecível. Em contraste com o horrível aspectos do seu amante, Clara Petacci permanecia formosa mesmo na morte. Embora com a dentadura desfalcada e ensangüentada, e o cabelo a revolta, continuava bonita. Seu corpo, que a multidão desnudara parcialmente, foi coberto com uma calça velha de homem.

Ricardo Lombardi, novo prefeito da Província de Milão, disse que o fuzilamento de Mussolini foi perfeitamente legal, posto que o Comitê Nacional de Libertação havia proclamado que todos os fascistas armados se encontravam fora da lei.

Dulce foi vingado à Italiana

Benito Amilcare Andrea Mussolini nasceu em Dovia di Predappio, na província de Forli, em 29 de julho de 1883, filho de um ferreiro. Começou a trabalhar como professor, mas logo seu interesse se voltou para a revolução. Seu prestígio aumentava e em 1911, Mussolini já era um dos principais dirigentes da Itália fascista. Governou a Itália com poderes ditatoriais entre 1922 e 1943, autodeterminando-se Duce, que significa em italiano "o condutor". Mussolini fugia para Suíça com a amante quando foi preso ao ser identificado numa barreira dos guerrilheiros antifacistas.

TORTURA

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Categoria: POLÍTICA
Postado por: lucyannemano
Jornal do Brasil: Domingo, 14 de abril de 1968 - página 3


Um dia após serem libertados, com vários hematomas e queimaduras de choques elétricos por todo o corpo, os irmãos Ronaldo e Rogério Duarte denunciaram as torturas que sofreram num quartel do Exército da Vila Militar onde foram advertidos que correriam risco de vida se revelassem o episódio publicamente, embora servissem de exemplo para intelectuais, padres, jornalistas e artistas.

No dia 4 de abril, Ronaldo, cineasta, e Rogério, artista plástico seguiram até a Candelária, para acompanhar a missa de 7º dia do estudante Edson Luis. Contudo, em virtude do clima de tensão evidente, acabaram desistindo e foram interceptados por agentes não identificados ao tentarem voltar para casa. Levados por uma viatura, em poucas horas, davam entrada num local soturno, que pressupunham ser, no subúrbio da cidade. Prontamente, seriam iniciados na primeira sessão de tortura das inúmeras que se repetiriam durante dias seguidos. Além de diversas formas de agressão física, foram ridicularizados sob palavras de intimidação e interrogados sobre seu envolvimento no movimento estudantil. Para cada resposta não satisfatória, os recursos de terror se intensificavam, até que exauridos os torturados e satisfeitos os torturadores, a sessão era interrompida. Nos dois últimos dias de clausura receberam tratamento dos ferimentos e hematomas. E viveram um outro tipo de experiência: a tortura psicológica. Das celas em que estavam, ouviam os gritos lancinantes de pessoas em desespero sem saber se passariam pelo processo novamente.

Na última noite, após preencherem um questionário, foram conduzidos a um matagal e deixados onde encontrava-se o carro do próprio Ronaldo. Já em liberdade, seguiram para casa.

Exército nega, mas regime recrudesce
As revelações dos irmãos Duarte causaram imediata indignação nos círculos do Exército. O relato dos dois irmãos foi apontado como contraditório. Mas, diante das marcas de hematomas e queimaduras, nas circunstâncias em que invadiram seus corpos e mentes, a confusão se justificava.

Rogério e Ronaldo foram umas das primeiras vítimas a denunciarem publicamente a tortura no regime militar. O episódio mobilizou várias lideranças. Outros crimes de torturas vieram à tona. Mas, não rechaçaram a incidência de casos que estariam por vir nem coibiram a promulgação do AI-5.

FRANÇA LIVRE

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Jornal do Brasil: Domingo, 27 de agosto de 1944
Paris já se encontra complemente livre, embora a capital francesa amanhecesse com uma terrível ressaca, conseqüência das comemorações.

O povo de Paris, depois de quatro anos de ocupação alemã, vestiu as melhores roupas e encheu as ruas a fim de aclamar os seus libertadores. De Gaulle participou da parada triunfal. Partindo do Arco do Triunfo ele desceu a Avenida Champs Elysées e prosseguiu até a Catedral de Notre Dame.

Milhares de pessoas, felizes até o delírio, passeavam ao longo dos "boulevards", dando graças pela libertação.

A rendição incondicional da Alemanha tinha sido assinada, e foi recebida pela população com um entusiasmo sem precedentes. As manifestações entraram pela noite adentro, e nem sequer faltaram as salvas de alegria e os tiros esparsos que marcavam o fim do odiado domínio alemão.

Uma ligeira visita de inspeção por vários pontos da cidade serviu para mostrar que, do ponto de vista arquitetônico, Paris pouco sofreu com a guerra. Os danos mais importantes foram os ocasionados aos edifícios situados na área dos Jardins de Luxemburgo, onde os alemães tentaram uma última resistência.

Aos pés da chama simbólica do Soldado Desconhecido encontrava-se o habitual ramo de flores do qual pendia uma fita onde estava escrito: "A França sobreviverá a Hitler". Longas filas de prisioneiros alemães seguiam para os campos de concentração dos aliados.


De Gaulle, o liberador da França


A capital francesa foi ocupada pelos alemães desde 1940 até a sua libertação, em 25 de agosto de 1944. O general Charles De Gaulle marcou uma nova etapa da História da França. Sem armas e sem soldados, De Gaulle iniciou os primeiros contatos para a formação do Movimento Francês Livre.

No pós-guerra, De Gaulle foi o primeiro presidente da Quinta República Francesa, de 1958 a 1969. Sua política ideológica é conhecida como Gaullismo, e até hoje tem influência na poltica Francesa.
Morreu em 9 de novembro de 1970.

ITAIPU TORNEIRA DO BRASIL

fonte: JB.FGV

20/10: 1978 - A conquista de Itaipu

Jornal do Brasil: Sábado, 22 de outubro de 1978 - página 22

"Sobre acidentes geográficos de soberania discutida, diante de um quadro diplomático confuso por noções inadequadas de geopolítica e, sobretudo, por gigantescos problemas financeiros e de engenharia, o Brasil e o Paraguai começam a erguer uma das maiores barragens do mundo". JB, 20/10/1978

Geisel e Stroessner acionam as dinamitem. J. Cardoso/CPdoc JB


Os presidentes militares Geisel e Stroessener, acionando as alavancas que dinamitaram os diques provisórios e desviaram o rio Paraná de seu curso normal, inauguraram oficialmente a construção da barragem principal da usina hidrelétrica de Itaipu.

Triunfavam a capacidade e a determinação do Governo e empresariado brasileiros na concepção da construção que solucionaria a questão do fornecimento de energia no país.



A explosão em três tempos, com imagens de J. Cardoso/CPDoc JB

 J.Cardoso/CPDoc JB  J.Cardoso/CPDoc JB J.Cardoso/CPDoc JB


Stroessner e Geisel: um novo rumo para a energia elétrica no Brasil. J. Cardoso/CPDoc JB




União binacional:
A vitória da diplomacia


As articulações para a idealização do projeto começaram no Governo Castello Branco e implicaram em delicadas composições. A primeira girou em torno da soberania territorial sobre as margens do rio Paraná, no Guaíra, reivindicadas pelo Paraguai.

Superada a dificuldade fronteiriça, veio a questão econômica. Sendo o maior interessado no sucesso da hidrelétrica, o Brasil assumiu integralmente o orçamento do projeto.

Graças ao senso prático da diplomacia brasileira, os demais entraves paraguaios foram minimizados, edificando-se a união binacional.



Havia uma última obstrução. Considerando a represa uma ameaça à segurança do país, em caso de vazamento, as autoridades argentinas reclamaram também do risco da escassez de água e o conseqüente comprometimento do projeto da usina de Yacyretá. Pelo bem maior - a consolidação da usina de Itaipu - os três países firmaram novo acordo, resguardando as exigências argentinas.

Itaipu foi um marco na construção civil, demonstrando a alta qualificação da engenharia brasileira. Hoje, representa 95% da energia elétrica consumida no Paraguai e 24% no Brasil. Conheça, aqui, mais informações sobre a maior hidrelétrica do mundo.